Capítulo 3 - Seguindo em frente...

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Kathlin não sabia exatamente como agir diante daquela situação. Já tivera a oportunidade de encontrar pessoas agradáveis e interessantes, que fizeram valer a pena uma boa conversa e a troca de lembranças do que o mundo fora antes da epidemia, mas que morreram por não saberem se virar no novo estado do mundo. Já acompanhara grupos nômades por tempo suficiente para preferir ficar sozinha a ter que se submeter a regras absurdas como virar a garotinha do chefe do bando para ter segurança. E já matara pessoas que fingiram ser amigáveis quando queriam apenas lhe transformar em comida para o jantar.

Agora precisava avaliar sua situação. Era difícil prever quem era bom ou mal. Precisava pelo menos de um tom de voz acompanhado do olhar. Aquele rapaz na moto lhe parecia feroz o suficiente para ser perigoso, entretanto não movia um único músculo, com o olhar surpreso ao vê-la em combate.

Como ele não reagia, mesmo após ela terminar, Kathlin resolveu ignorar. Se realmente quisesse lhe fazer algum mal, já teria feito. Teria aproveitado a oportunidade dela estar entretida com os monstros e lhe roubaria, lhe jogaria contra eles e fugiria rapidamente, ainda mais com um veículo motorizado.

Então, dando de ombros virou as costas e fez menção de voltar à estrada.

- Eu quero seu arco e sua aljava. – Edward decidira que ela era uma boa combatente. Então respeitaria essa qualidade e pediria gentilmente, antes de arrancar à força aquilo que desejava.

A jovem suspirou fundo, virou-se de frente para ele e sem ao menos pensar no que respondia disse simplesmente:

- Podia me chamar pra tomar um suco primeiro...

Suco? Edward riu. Não queria rir, queria descer da moto e arrancar a arma dela, rápido como roubaria o brinquedo de uma criança. Mas ele simplesmente riu. A resposta fora tão inusitada diante do mundo ao seu redor, que só lhe restara rir.

Ela virou as costas e voltou para a estrada. Mas o barulho da moto logo estava atrás de si, e antes que pudesse praguejar qualquer coisa, estava sendo enlaçada pela cintura e jogada na garupa da moto. Tentou descer se jogando, mas o rapaz acelerou a moto e gritou ainda dando risada:

- Faz tanto tempo que não sei o que é dar risada, que antes de tirar suas armas, quero um pouco da sua companhia. Sua resposta me fez bem. Se tentar se jogar da moto em alta velocidade vai virar comida de zumbi, então aconselho se segurar firme. Quando pararmos você tenta me matar.

Kathlin ficou furiosa. Porque não acertara uma flecha a cabeça dele quando teve oportunidade? Ele estava atônito quando se encontraram. Teria sido mais fácil. Agora sua situação se complicara de verdade. Segurando-se na garupa, logo começou a avaliar sua situação. Pular com o veículo em movimento poderia lhe causar ferimentos realmente desnecessários. Continuar ali talvez fosse o mesmo que assinar um atestado de morte, afinal sabe-se lá qual era a intenção daquele cara. Boa, não era!

Chegou a cogitar a possibilidade de matá-lo ali mesmo, seu punhal estava fácil de ser pego, mas a motocicleta perderia o controle e um desastre iminente aconteceria. Então chegou a conclusão que ameaçar a vida dele era a melhor opção.

Pegou o punhal e espetou no pescoço do rapaz à sua frente. Novamente ele deu risada. Acelerou mais ainda a moto o que a obrigou a largar a pequena arma e segurar firme na cintura dele, caso não quisesse cair para trás e arrebentar os miolos no asfalto. Boa escolha, agora, além de estar sendo levada cativa, ele poderia reagir agressivamente quando parassem.

O que não demorou a acontecer. Chegaram numa vila rural à beira da estrada e a moto foi diminuindo a velocidade. Kathlin fingiu que estava tudo bem, manteve-se com o corpo relaxado, para que ele não pudesse perceber sua intenção, e quando a velocidade era baixa o suficiente, a moça se jogou no chão, rolando num gramado alto.

Uma flor no desertoOnde histórias criam vida. Descubra agora