Capítulo 2

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Como de costume, acordo bem cedo, hábito adquirido com meu amado pai, o homem mais lindo e amoroso que conheci. Gostaria de um dia ser amada como minha mãe foi por meu pai. Há um ano ele perdeu a batalha para um câncer, o momento mais difícil que nossa família passou, minha mãe foi como uma leoa, cuidando dele e da gente, nos protegendo e nos ensinando que na vida, infelizmente, tudo tem um fim, até mesmo para pessoas especiais como meu pai.

Como sinto sua falta paizinho... – pensei deitada em minha cama, ao fitar o teto branco. Meu coração sempre se apertava ao lembrar da pessoa maravilhosa que ele fora. Com certeza, o melhor pai do mundo!

Moro sozinha no centro de São Paulo, perto do escritório. Parece uma loucura, mas sou apaixonada por esta cidade cosmopolita, meus pais sempre me apoiaram nessa ideia louca de independência. Sou feliz com minha profissão de publicitária, tenho dois irmãos maravilhosos, Bia que além de irmã, é minha amiga, e Pedro, o caçula de apenas dezessete anos. Mamis, como a chamamos, pensa que ele é um santo, mas Bia e eu sabemos que, de santo, ele não tem nem a aureola!

Agradeço à Deus todos os dias por essas pessoinhas. Não tenho dramas, procuro levar minha vida com muita alegria. Apenas nunca me apaixonei, mas vivo tranquila, pois sei que um dia vai acontecer, e quando esse dia chegar, vou me jogar de cabeça, como faço em tudo em minha vida.

Helena, vamos cuidar na vida, né?! Chega de saudosismo, pois tens muito o que fazer até a noite – reclamei mentalmente e entrei no chuveiro, não poderia me atrasar.

Não sou muito vaidosa, mas sempre procuro estar bem vestida e bem cheirosa. Tenho sorte de ter uma genética boa: sou alta, tenho curvas nos lugares certos, sou loira por opção, e nunca, jamais, saio de casa sem batom e uma camada generosa de rímel e, já ia me esquecendo, uma dose extra de auto estima.

Minha avó Cath nos convocou para o seu aniversário, e dona Tereza quer nos reunir para combinarmos a viagem. Só que conhecendo a minha mãe, ela já deve ter tudo esquematizado e quer apenas nos comunicar.

....

— Bom dia, Guilherme – o comprimento com meu habitual sorriso.

— Bom dia, Helena. – Helena! O que aconteceu com ele? Nunca me chama assim, é sempre Leninha.

— Gui, aconteceu alguma coisa? Você está tão sério.

— Não é nada, vamos trabalhar! – o que ele estava fazendo enquanto dizia isso? Sua expressão estava chateada?

— Vamos. Só achei estranho, você nunca me chama de Helena.

— Por acaso não é o seu nome?

— Ei, por que essa grosseria? Pode parar! – falo, séria. — Vou trabalhar e esperar você voltar ao normal.

Trabalhamos a manhã inteira calados, e isso me incomodou muito. Nesses três anos trabalhando juntos, isso nunca havia acontecido.

Guilherme é um homem lindo, um ser humano incrível! Ao contrário de mim, ele é filho único. Seus pais sempre se esforçaram para lhe proporcionar tudo aquilo que eles não tiveram, e Guilherme sempre levou muito a sério todo o esforço deles. Sempre foi muito dedicado e determinado, seu jeito me lembra um pouco do meu pai. Não mede esforços para ajudar quem precisa, ele tem qualidades que me encantam. Por isso achei tão estranho seu comportamento hoje.

Montei uma apresentação de mais de cinquenta slides sem que trocássemos uma palavra. Isso levou cerca de três horas inteiras. Toda essa situação foi se tornando muito mais estranha com o passar das horas, e eu tinha cada vez mais certeza que algo fora do comum estava acontecendo ali. De forma algum tudo isso era coincidência. Algo tinha acontecido, então resolvi puxar assunto mais uma vez:

— Guilherme, vou almoçar. Quer que eu te traga alguma coisa?

— Não, obrigado! – ele disse sem nem ao menos tirar os olhos do computador.

Sentei em frente à sua mesa, segurei suas mãos e perguntei novamente o que aconteceu. Mas apesar de todo meu esforço, ele apenas sorriu sem graça. Então decidi não o pressionar, mas quando levantei da cadeira, ele me chamou.

— Helena, desculpe-me. Hoje realmente não estou em um dia legal, mas não se preocupe, logo ficarei bem – disse, inclinando-se sobre a mesa e sorrindo gentilmente. — Aceita jantar comigo hoje à noite?

— Adoraria, mas já tenho uma reunião com minha família. Vamos fazer assim: quando terminar lá, eu te ligo e tomamos um vinho lá em casa, aí você me conta o que está te deixando assim – falei, fazendo um carinho em seu rosto.

— Pode ser, vou esperar você me ligar.

Quando cheguei ao restaurante, para almoçar, já estava sem fome. Não gosto de ver as pessoas tristes, e sinto um carinho tão grande por Guilherme, de modo que muito me incomoda o fato de não conseguir imaginar o que lhe perturba. Será que o ocorrido de ontem mexeu com ele? Não, acho que não. Guilherme é um homem muito centrado, jamais se abalaria com um selinho, ele nem deve ter se importado com isso, eu é que estou fantasiando demais.

De volta ao escritório só encontro um bilhete em minha mesa.

Leninha,

Precisei sair, resolvi tirar a tarde de folga.

Não esqueça de me ligar, vou ficar esperando.

Beijos,

Guilherme.

Hum, pelo menos voltei a ser a Leninha – pensei aliviada. — Tarde de folga? Guilherme, seu folgado! – sorri com esse pensamento, e me pus a trabalhar avidamente. Essa noite prometia, afinal, descobriria o que Guilherme estava a esconder.

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