Capítulo 2

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"Mom". É o que estava escrito na tela do celular. "7 Years" de fundo. Neste momento lembrei que sábado também era dia de visitar minha mãe, e de fazermos pizza de Nutella e também as unhas e dar muitas risadas enquanto assistimos séries.
Nesse tempo que fiquei pensando, o celular parou de tocar. Mas logo recomeçou e eu atendi animada:

- Bom dia para a melhor mãe desse mundo todo!

Mas eu não escutei um "bom dia para a melhor filha desse mundo todo!" igual ela sempre respondia. Invés disso, soluços. Soluços e um choro desesperador. Minha mãe tinha câncer e eu chorei, imaginei ela dizendo que o câncer tinha atingido todos os órgãos e que poderia morrer a qualquer momento. Mas é claro que neguei a mim mesma e esperei ela explicar as lágrimas que eu acreditava ser de felicidade. Mas ela não o fez. Fez exatamente o que eu tinha imaginado logo que escutei ela chorando.

- Filha, eu sou uma bomba relógio! - Ela falou e logo me veio o nó na garganta mais apertado de toda a minha vida. Junto com ele, as lágrimas. Elas vieram como um rio de correnteza forte, levando a minha vida com elas.

- Não pode ser! Na última consulta estava tudo bem! Como? Como isso aconteceu? - Falei desesperada. As lágrimas aumentavam a cada lembrança dos momentos passados juntas, a cada imaginação de minha mãe... Sem vida.

Desliguei o telefone e chorei, chorei compulsivamente e incontrolavelmente até não ter mais o que sair dos meus olhos inteiramente inchados. Eu não conseguia pensar em mais nada. Desliguei a TV e fui em direção ao quarto. Abri as portas do roupeiro e me vesti com as primeiras peças de roupa que vi pela frente, peguei meus fones, meu celular e saí de casa.
Quando saí, já soube exatamente onde iria. O tempo estava nublado, perfeito para ir à Pedra.

Ela foi uma grande companheira, principalmente nessas horas. Ficava em meio à mata, e tinha a melhor visão do céu e de um pequeno riacho morro abaixo. Meu pai me levava lá sempre que podia... Dizia que quando estivéssemos naquela pedra, éramos os melhores amigos de todos os melhores amigos. Funcionava comigo. Dizia que era o melhor lugar para pensar e desabafar. E foi com essa intenção que me sentei nela e olhei o céu, observando nada além de nuvens. Era relaxante. Nesse momento desabafei com meu pai. Quando ele teve certeza que sua hora estava chegando, me disse que não importa o horário e lugar onde eu esteja, ele sempre vai estar me cuidando e me ouvindo. Ele pode não me dar conselhos mas sei que me ouve, ele era um homem de palavra.

-Sinceramente... Eu não sei o que vai ser de mim sem ela. Eu não sei como vai ser passar o sábado sem a sua presença. Não ter mais uma melhor amiga que eu tenho certeza que seria a única (fora o senhor) que ficaria para sempre. - Uma única lágrima rolou. Talvez a mais dolorida. - Eu a amo tanto... - Prossegui - o senhor não faz ideia. Sinto sua falta e já estou sentindo a dela.

Fiquei ali por alguns minutos e resolvi ir até a casa da minha mãe. Antes passei no mercado comprar algumas coisas para preparar o almoço.
Quando cheguei, forcei um sorriso. Ela me abraçou e ficamos ali... Por um longo tempo. A única coisa que consegui pensar foi: "alguns momentos deveriam ser eternos".

- Acho melhor irmos preparar o almoço. - Falei, tentando me mostrar forte. - Já passou de onze horas.

- Eu te amo mais que tudo minha filha, e sempre vou te amar. Não importa onde ou em que situação eu esteja. Irei te amar eternamente. - ela falou como se tivesse vivido para esse momento.

- Também te amo e a senhora sempre estará em um lugar especial do meu coração. - Respondi com um sorriso, o qual ela devolveu com um carinho visível.

X X X

Logo após o almoço, fizemos o de sempre, pizza de Nutella a qual comíamos enquanto assistimos séries e nossas unhas secavam até o entardecer.

- Hoje vamos fazer algo diferente. Sair um pouco da rotina. - Falei esperando sua reação.

- Como assim, Bela? - Ela perguntou surpresa.

- Vá se vestir e verá. - Respondi, o que soou misterioso.

Depois de ela se vestir e arrumar os cabelos saímos de casa rumo à Pedra. Quando chegamos, contei-a toda a história sobre eu, meu pai e aquela Pedra.

-Por que você não me contou isso antes Isabela? - Ela perguntou. Os olhos como uma piscina prestes a transbordar. Eles brilhavam.

- Era um segredo meu e dele... - Esperei um pouco e logo prossegui. - e agora seu! - concluí  orgulhosa.

Ficamos ali por alguns minutos e então concordamos em voltar para casa. Estava tarde.

X X X X X

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⏰ Última atualização: May 17, 2018 ⏰

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