Lembro que eu estava retirando o prato e outras coisas da mesa, havia almoçado sobras de panquecas feitas no dia anterior para a visita de meu pai. Ele adora panquecas de guisado, a nossa versão gaudéria de bolonhesa. Eu adoro de presunto e queijo. Naquele dia, segundo dito popular: chovia chuva que não molha, mas naquele momento iniciaria uma tempestade que me molharia muito.
Estava concentrado naquela tarefa, quando levei um susto com a campainha. Desloquei-me tranquilamente, ninguém tinha chamado o interfone, certamente: o zelador, pensei. Eu estava no prédio da praia numa época de serra ou cidade. Com uma camisa velha e calça de abrigo pré-histórica, abri a porta. Uma mulher imponente, aparentando uns 50 anos, muito atraente. Não atraente do tipo garota de 20 anos, mas do tipo poder da velha guarda, em termos mais chulos: uma sedutora "milf", o famoso acrônimo de tons édipos da Língua Inglesa que significa: Mom I'd Like To Fuck. Certamente: uma vizinha, pensei.
- Olá!
- Olá, Tiago! Pode me chamar de Lilith ou como sou apelidada: Srta. Conspiração.
Eu fiquei olhando com pensamento vago, meu dois "certamentes" pensamentos estavam errados. Preferi não realizar mais pensamentos adivinhatórios... Certamente: uma louca – pensei, sem me conter.
- Tiago, preciso falar com você. Gostaria de lhe contar algumas histórias. Se permitir, poderia entrar e explicar melhor.
Apenas na segunda vez que ela citou meu nome, que me dei conta: Ela sabe meu nome? Tanta gente louca no mundo, preciso deletar minhas redes sociais, conclui. Como ela já estava quase no meio da minha sala enquanto pedia permissão, convidei-a para sentar.
- No inicio, será difícil de acreditar, mas logo lhe apresentarei provas do que falo. Meu trabalho é construir conspirações. Herdei do meu pai esse mercado. Se me permitir contar como tudo iniciou, não irá se arrepender.
Finalmente eu havia acertado um pensamento: ela definitivamente era louca. Eu estava em Capão da Canoa, num apartamento que minha família herdou da minha avó. Esta sim! Uma conspiradora elegante, mas de pequenas conspirações familiares inocentes. Após a morte dela, parecia que nossa família herdava também a missão de encontrar um novo ingrediente para manter-se unida. Era ela quem untava o bolo.
Recuperava-me de uma cirurgia, meu tendão rompeu-se em pleno carnaval, passei três meses sem andar. Mas nessa época já caminhava poucos metros mancando. Decidi me recuperar na solidão da praia em épocas já não mais praianas, era mais fácil se deslocar, ser atendido e viver momentos de paz que eu necessitava para me curar. Recebia visitas da família, passavam alguns dias e tinham que voltar aos seus afazeres. Distante do mundo, a solidão que me afetava por mais de quatro meses, principalmente, a de companhias femininas, foi o aval necessário para permitir a maluca e suas histórias.
- Desculpe-me, eu não entendi qual é seu trabalho? Ah, e como você sabe meu nome? – eu estava confuso e curioso.
- Irei contar como tudo iniciou e você entenderá melhor. Prometo ao fim da primeira breve história, lhe explicar o porquê você é importante para mim. E, Tiago, eu sei que você é um homem educado, que tal me oferecer um café?
- Meu café é péssimo. Tem refrigerante light.
- Vamos à história. – desistiu ela da minha oferta.
Segundo Lilith, que futuramente descobri não ser seu verdadeiro nome, em 1964, já com 17 anos, ela havia aproximado seu relacionamento com seu pai, que lhe reconhecera – nunca oficialmente - apenas oito anos antes. Eu queria perguntar a idade dela, mas logo descartei, pois obviamente alguém com 17 anos em 1964 e sua aparência não seria compatível, pela lógica, estava comprovada a sua mentira.
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Srta Conspiração
Non-FictionLilith participou de conspirações reais no Brasil e apresenta nesse livro suas histórias detalhadas e com documentos que revelarão diversos segredos! Revelações sobre como iniciou o Itaú, como a família mais rica do Brasil se apropriou do Nióbio, r...