Seus olhos transmitiam apenas seu foco enquanto treinávamos. Com onze anos, Sarada queria recuperar comigo todo o tempo que tínhamos perdido e, para isso, ela se submetia a treinos extremamente exaustivos com a desculpa que era para o futuro exame Chunin. Para piorar, hoje, ela usou uma diferente, uma que eu não queria ouvir... Para mostrar a todos as técnicas do nosso clã.
Ela arfava. Os braços erguidos em posição de defesa, as mãos trêmulas ao segurar as kunais. O suor descia pelo rosto e a roupa chegava a colar ao corpo. Havia terra em seu rosto junto de alguns machucados leves. Já estávamos ali há três horas, e ela não perdia aquele brilho no olhar.
Eu sabia, em parte, o que a mantinha de pé à minha frente. Eu. Sarada tinha um medo visível de que eu não a reconhecesse, de que eu a afastasse, de não ter minha atenção. E piorou quando Boruto me pediu para treiná-lo. O tempo, já curto, diminuiu, e ela se sentiu ameaçada.
Arremessei minha kunai na direção dela, e a vi se defender rapidamente, pronta para contra atacar. Mas eu tinha que a fazer parar. Ela me encontrou sentado quando veio me chutar, e a surpresa me deu a brecha para rapidamente desarmá-la e derrubá-la. Antes que se erguesse, segurei-a com a mão sobre seu abdômen.
— Otou-san...
Ela retirou minha mãe e se levantou, mas caiu em seguida, puxada ao chão pela exaustão do corpo. Os braços tremeram quando tentou se erguer, e ela mordeu o lábio para conter a raiva.
— Já chega por hoje.
Talvez eu tenha dito isso de forma ríspida demais ou ela que estivesse mental e fisicamente exausta, mas foi o suficiente para que algumas lágrimas inundassem seus olhos. Atento, percebi a garganta mover-se, a face se enrijecer e o orgulho fazê-la conter o choro.
Ah, Sarada...
Respirei fundo, sem saber exatamente como lidar com a situação. Todo dia, quando ela me chamava para treinar, talvez por ser minha filha, eu conseguia lê-la perfeitamente. Os braços ao lado do corpo ficavam rígidos e entregavam a coragem que ela reunia para fazer a perguntar. Os punhos cerrados mostravam-me seu medo pela negação, e a inquietação do corpo, sua ansiedade. Mas eram os seus olhos que me prendiam. Sarada me olhava como um exemplo, assim como fazia com Sakura. Mesmo eu tendo estado longe por tanto tempo, minha filha continuava a me olhar com expectativa, com brilho, com admiração e com medo de eu não a reconhecer quando esse deveria ser o meu medo.
Todo "sim" que eu dizia trazia-lhe um sorriso natural e um alívio imediato. Os olhos ficavam imersos em um carinho que eu não merecia, e, por isso, doía vê-la todo dia se esforçar tanto para que eu a amasse.
Olhei para ela, diretamente. Sarada virou o rosto e deixou que a franja caísse sobre os olhos. Como esperado, levantou-se, pronta para partir. Segurei-a pela roupa e a puxei sem muito cuidado por saber que seria em mim que ela cairia.
Assustada, olhou-me assim que se percebeu sentada de lado entre minhas pernas.
— Uchihas têm um problema grave. Eles dificilmente se abrem com outras pessoas e conversam sobre seus medos e inseguranças, sabia? — falei enquanto secava uma lágrima que lhe escorria pela bochecha. — O que houve?
Ela remexeu-se, sem jeito, limpando o rosto rapidamente nas luvas de combate.
— Otou-san... nada, eu só...
Não a deixei continuar. Retirei a bandana que ela usava na testa e, antes que ela me perguntasse o motivo, bati dois dedos ali.
Sakura já havia lhe contado o que o gesto significava, então soube que ela entenderia. A expressão surpresa e, depois, chorosa confirmou isso também.
— Otou-san...
Bati novamente e mais duas vezes até que ela parasse de contestar. Na última, as lágrimas cederam, e ela começou a chorar e a soluçar em meus braços. Deslizei os dedos da testa dela para o rosto, afagando-o com o pouco de delicadeza que possuía. Não falei nada, esperei apenas. Deixei-a chorar agarrada a mim, segurando-me com força enquanto escondia o rosto no meu peito.
Ah, minha criança...
Fechei os olhos. O meu coração acelerava com aquilo e doía... Era horrível tê-la tão fragilizada graças a minha presença em Konoha. Ela, que era tão forte e decidida, tão madura, reduzida a uma criança insegura e magoada, buscando algum conforto logo em mim.
Meus braços a cercaram, como se pudessem protegê-la e acalentá-la. A minha real vontade era que aquele choro cessasse, que eu pudesse protegê-la de mim mesmo, que ela estivesse segura e feliz ali, comigo, para sempre. Apertei-a, e a minha cabeça repousou sobre a dela esperando que aquela dor toda se esvaísse.
— Eu... só... eu só queria... — ela tentou falar.
— Eu sei — respondi breve. — Eu te entendo.
— Não... — ela soluçou. — Você... eu só queria que você trei-nasse comigo...
— Sarada — sussurrei -, você não pode mentir para mim. Eu sei quando mente, é minha filha afinal...
Ela não respondeu e pareceu se tranquilizar por um momento. Os olhos negros me encaram úmidos, o rosto continha o rastro das lágrimas e o nariz e as bochechas estavam levemente avermelhados. Toquei-lhe a face e não tive pressa ao secá-la. Minha mão parou na nuca de Sarada e a segurei enquanto colava minha testa a dela.
— Uchihas são péssimos em se expressar, mas são intensos ao amar, Sarada. Se há uma coisa de que pode se orgulhar do nosso clã é que ninguém ama como um Uchiha — falei o mais suave que pude e sorri de leve ao me lembrar de Itachi. — Escute-me bem porque declarações não são do nosso feitio, está bem? — Ela concordou e piscou confusa. — Desde que você nasceu, não importa o que faça, que caminho siga, que me odeie ou me afaste, saiba que eu sempre vou te amar.
Ela arregalou os olhos e os desviou para o chão antes de voltar a apertar minha camisa e chorar enquanto sorria.
Encostei os lábios na testa dela antes de puxá-la melhor para o meu colo. A exaustão não demorou a fazê-la dormir, e sorri aliviado. Minha mão acariciava-lhe os cabelos negros enquanto o ritmo calmo da respiração dela aquecia meu coração.
— Se resolveu com ela? — Ouvi Naruto perguntar.
Ele se abaixou para pegar o casaco que eu havia deixado apoiado em um tronco de árvore e se aproximou. Colocou-o em volta dos ombros de Sarada, e, então, levantei-me. Ajeitei Sarada em meu colo e o casaco nela por conta da friagem que o fim de tarde trazia.
— Sim. Avise seu filho que não o treinarei hoje — falei enquanto saíamos do campo de treinamento. — E avise também que não quero vê-lo tão perto de Sarada quanto o vi na semana passada.
— Eles são do mesmo time, Teme — Naruto riu, e me fez parar para encará-lo com desagrado.
— Ela já tem o soco da Sakura, você não vai querer que eu a ensine a usar um Susanoo, não é, Dobe?
Não ouvi mais nada depois. Naruto ria, provocava-me com piadas infantis sobre meu ciúme, mas não me importei. Respirei fundo, apertando Sarada e sorrindo de leve ao caminhar pela vila com ela dormindo. E, mesmo quando cheguei em casa, simplesmente não consegui me soltar dela... Afinal, se ela tinha medo de que eu não a amasse, eu temia ainda mais perdê-la...
A fic nasceu só por causa da imagem da capa.
Espero que tenham gostado <3
Eu amo o Sasuke versão pai.
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beijinhoss
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Eu sempre vou te amar
FanficPorque o que minha criança teimosa não entendia era que, se ela tinha medo de que eu não a amasse, eu temia ainda mais perdê-la...