Dark Clowns
Acordou naquela manhã um pouco mais indisposta que o normal, espreguiçou-se sentada na cama antes de tocar os pés no chão e andar em direção a cozinha.
Seu demônio capital estava jogado em sono profundo ao pé da cama. Com cuidado, desviou-se de seu corpo e seguiu até a porta.
O novo apartamento era muito pequeno, até mesmo para ela. Composto somente de três compartimentos: seu quarto, o banheiro, e uma cozinha que também era sala de estar. Mas localizava-se em uma área nobre da cidade, perto do seu trabalho e cabia-lhe no bolso (quase literalmente).
Anna havia planejado com cautela cada espaço utilizado, utilizou de armários e balcões para separar os cômodos, era tudo o que podia fazer.
Abriu a porta e logo se deparou com seu fogão, já não era novo, nem dispunha das mais mil novas funções destes fogões modernos, mas conseguia fazer uma bela sopa de vez em quando. O balcão se estendia logo ali do lado, ainda estava limpo, mas não duraria muito, logo seu demônio acordaria.
Parou por um instante analisou o que poderia fazer no tempo que tinha. 5:38, marcava o relógio em sua parede.
Analisou por mais uns segundos e logo começou.
Sacou de seu frigobar uma barra de manteiga e algumas tiras de carne e colocou sobre o balcão. Recuou em busca de seu banquinho e o posicionou estrategicamente para que pudesse alcançar o fundo de seus armários (não tão) altos. Tirou de lá alguns ovos e outros materias para que pudesse preparar um omelete.
Fez tudo o mais rápido que pôde, separou delicadamente o omelete em outro recipiente, lavou sua panela e na mesma fritou os pedaços de carne.
O cheiro logo se alastrou pela casa, Pride logo percebera o que se passava e levantou-se em um pulo. Bateu a porta e assistiu sua parceira organizar, com certa cautela, os alimentos sobre a mesa.
Sentou-se sem pressa sobre a mesa, ao lado dos pratos. Anna sentou-se em uma cadeira ao seu lado.
Pride começou a comer rapidamente, enquanto ela cortava calmamente uma banana para comer junto ao prato. Quando ela finalmente colocou algo em sua boca, Pride já estava satisfeito.
Ficaram os dois em silêncio enquanto ela comia, até que Pride comentou:
--É, estava bom - disse ele, desviando o olhar - Não se compara ao que eu faço, mas deu pra comer. -- voltou a olhá-la como se esperasse sua reação, mas Anna nada disse, somente continuou a degustar de sua própria refeição.
Haviam se passado meia hora desde que ela acordou.
Quando finalmente terminou, limpou e guardou tudo que usara.
Pegou seu uniforme pendurado ao sol e trocou-se ali mesmo e colocou o sobretudo bege por fim.
Ajeitou seus cabelos que teimavam em prenderem-se em sua roupa. Pegou suas chaves e as enfiou em seu bolso.
Já marcavam 6:15 quando eles saíram de casa, um pouco mais tarde do que o costume.
O dia estava ensolarado, um pouco quente, mas ainda com uma brisa leve que bagunçava seus cabelos.
Caminhava até seu trabalho, 15 minutos, contados no relógio. A caminhada era curta, mas deveras entediante. Costumavam conversar durante ela, conversas bobas que as vezes a faziam escapulir um sorriso, dificilmente percebido.
Naquela manhã caminhava com um pouco mais de pressa, estava atrasada para chegar cedo.
O caminho foi silencioso, Pride estranhamente não comentou nada durante o percurso inteiro, não tentou tirar-lhe um sorriso como de costume. Mas não era só isso que a incomodava, apesar do brilho daquela manhã, sentia algo sombrio pairando sobre ela. Mas não ligou, e seguiu seu dia.
Parou por um momento, e se deixou levar pelos pensamentos, avistou de longe a delegacia e sentiu um calafrio dominar seu corpo e o arrepiar. Esse dia vai ser longo, pensou.
