The Ashley Diaries

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"It's hard to be ignored
When I look at you, you look so bored
My baby, my darling
I've been taking a beating"

(She & Him – In The Sun)

2013, Tampa, Ashley's House

Rolo de um lado para o outro na cama tentando me obrigar a dormir enquanto posso. Tarde demais. Minha mãe me acorda na mesma hora. Não sei por que ficava tão nervosa no primeiro dia de aula. Tudo sempre foi tão igual, tão normal.

Bom, eu sempre fui uma garota esperançosa. Acho que pode ser isso. Criava várias expectativas que, quase sempre, ficavam trancafiadas na minha psique. Mas elas nunca se realizavam.

Levanto, vou até o closet com os olhos ainda cansados de sono. Apanho minha blusa da sorte xadrez da cor azul, uma regata branca e meus shorts.

Olho para o relógio e levo um susto. Eu estou superatrasada! Que péssima impressão para o primeiro dia de Ensino Médio na Hillsborough High School. Vou até o banheiro e faço uma maquiagem leve. Agora sim estou pronta.

Desço as escadas e corro em direção à cozinha com o intuito de roubar uma torrada do prato da minha irmã e voar para a escola.

"Bom dia pra você também!", resmunga Melannie.

Pego a mochila jogada nos pés da escada, abro a porta e dou de cara com Jensen.

"Atrasada de novo, Ash?!", Jensen abre um sorriso enorme ao me ver e me dá um tapinha nas costas.

"Só um pouco, como sempre", respondo gargalhando.

Jensen é meu melhor amigo. Além de estudar na mesma sala que eu, ele ainda mora na frente da minha casa. Isso é bom pois me faz sentir segura. Voltamos juntos da escola conversando sobre qualquer assunto - qualquer MESMO.

Tampa, Hillsborough High School

Chegando à escola avisto Hannah e Rebecca sentadas no banco conversando. Cumprimento-as e sento ao lado de Han. Elas estão conversando sobre o novo clipe do Arctic Monkeys mas não presto muita atenção. Meus pensamentos estão ocupados demais fazendo uma divertida viagem no mundo aterrorizante das lições de casa que, para a surpresa de todos, eu esqueci de fazer.

Peço para Rebecca me emprestar o livro de matemática para que eu possa copiar a lição. Abro meu caderno e começo a escrever o enunciado dos exercícios. Aqueles cálculos eram realmente difíceis!

Tomo um susto com um vulto que passa lentamente na frente de meu caderno. Elevo meu olhar e avisto um garoto moreno passar pela porta da frente. Nunca havia o visto. Logo, do jeito que era curiosa, milhares de questões surgem à minha cabeça.

"Será que ele vai fazer alguma aula comigo?", meus pensamentos se tornavam cada vez mais profundos. Eu estou em transe. Mas não aquele transe de "Meu Deus, estou apaixonada!", e sim aquele transe de "Não quero mais um convencido pra rir da minha cara".

Ele tinha cabelos negros, olhos verdes, boca e nariz perfeitamente bem desenhados e a pele pouco bronzeada. Ele era bonito sim, não vou negar. Fiquei surpresa quando o vi. Não imaginava que a Hillsborough fosse capaz de ter um garoto realmente atraente andando por seus corredores.

Digo isso porquê, a maioria dos garotos dessa escola são aqueles nerds, espinhudos, com carinha de criança. Claro, tem alguns que salvam, mas nenhum que chegue perto do nível de beleza daquele aluno novo.

Mas a beleza desse garoto não me afeta em nada. Mesmo que ele tenha se tornado um bom passatempo para ficar observando de vez em quando, não quer dizer que eu eu vou dar uma de idiota, babando e correndo atrás dele como muitas garotas fazem.

Pessoas bonitas são arrogantes. E como eu conheço bem essa escola, tenho quase certeza de que ele vai entrar no grupinho dos idiotas.

Para minha infelicidade, o sinal toca. É hora da aula. "Que ótimo!", resmungo entre meus pensamentos revirando os olhos.

Subo as escadas e ando em direção à sala de aula. E não é que aquele garoto estava lá mesmo, em plena aula de Inglês?! "O dia já começou bem", penso sarcasticamente.

Decido não ligar muito para a presença dele. É só mais um aluno na sala. O que tem de mais nisso? Exatamente. Nada de mais. Tudo iria continuar como estava, de que adianta criar falsas esperanças de que ele não vai ser um idiota como o resto da sala?

Olive é a primeira a puxar assunto com o garoto, sentando na segunda fileira atrás dele. Talvez porque quisesse um novo amigo ou pudesse estar realmente interessada em uns amassos com o mesmo. Acredito mais na segunda opção.

O garoto deixa claro no olhar o quão espantado estava de frente com aquela maluca que não parava de falar nunca. Logo, para sua sorte, a professora dá início à primeira aula do ano.

"Bom, como vocês já sabem, este é o primeiro ano de vocês no Ensino Médio e espero que estejam preparados para evoluírem no estudo ficando cada vez mais organizados para a faculdade.", Senhorita Portman, professora de Inglês, advertia e dava, provavelmente, os mesmos conselhos dos anos passados aos alunos. Quando ela finalmente acaba aquele discurso, que mais parecia com a história da bíblia de tão longo, se vira olhando para as carteiras.

Senhorita Portman começa a executar a chamada. Assim finalizada, Portman se vira para o mais novo e mais importante objeto de estudo da classe. O objeto pelo qual, a maioria estava mais interessada em saber suas origens do que as da própria matéria estudada.

"Você é novo por aqui, não é?", Portman faz cara de desconfiança. Todos levam os olhares ao menino. "Qual o seu nome?"

"Sou...", o garoto responde em um tom tímido sorrindo de canto. "Me chamo Matt, Matthew Harvey."

Após finalmente saber seu nome, olho entre a lista das aulas que decidi cursar e percebo que veria Matthew em mais três: Teatro, Literatura e Música.

"Ah, sim. O famoso Matthew.", Portman diz em tom de reprovação e, todos ficam intrigados. A professora percebe o espanto na cara dos alunos e então tenta concertar seu tom. "Seja bem vindo", diz com a voz amenizada. "Vamos começar a aula então, pessoal? Abram na página 67 do capítulo 1."

No final da aula, estava claro que a frase que a professora expressou havia gerado uma grande repercução. Era história pra cá, história pra lá... Todos queriam saber o que tinha de tão errado em Matthew.

Era típico do povo da Hillsborough querer saber até o CPF do aluno novo antes do final do primeiro dia de aula. Eles precisavam ter certeza de que Matthew serviria para fazer parte de seu grupo.