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"But really I would rather be at home all by myself
Not in this room with people who don't even care about my well-being
I don't dance, don't ask, I don't need a boyfriend"

(Alessia Cara – Here)

Tampa, Hillsborough School

Um mês se passou. Estou na aula de Francês quando o sinal do intervalo começa a tocar. Estou morta de fome. Como sempre, acordei atrasada e não tive tempo para tomar o café da manhã. Decido ir ao refeitório para comprar algo que me sustente além da barrinha de banana que eu trouxe.

Compro uma torta de maçã e encho meu copo com soda. Me movo para longe do balcão, dando espaço ás pessoas da fila enquanto guardo o troco no bolso.

Já com a bandeja em mãos, começo à analisar todos os cantos do refeitório, procurando a mesa onde estão minhas amigas. Vejo um pontinho familiar, bem no fundo daquele mar de alunos. Lá estava Hannah.

"Onde estão as meninas?", pergunto, dando falta de minhas outras duas amigas.

"Elas acabaram de descobrir que o trabalho de Álgebra é pra próxima aula", Han responde rindo da situação. "Sorte que não temos essa matéria. Dizem que o senhor Alaman passa um trabalho por semana!"

"Eu não aguentaria isso.", digo abismada. E pensar que quando entrei na Hillsborough quase escolhi cursar essa matéria. Me sinto aliviada.

Hannah e eu começamos a conversar sobre livros. O papo vai ficando cada vez mais interessante, tão interessante que perco a noção do tempo. Despreocupada, passo os olhos sobre o relógio. Percebo que estou mais de vinte minutos atrasada para a aula de História!

"Meu Deus!", pulo da cadeira com o susto. "Estou super atrasada para a aula de História! Não escutei o sinal bater. Tenho que ir.", digo me levantando brucamente da cadeira, deixando Hannah pra trás, sem escutá-la se despedindo.

Corro em direção à porta do outro lado do refeitório. De repente sinto algo se chocar contra meu corpo. Em fração de segundos me encontro no chão, com a camiseta molhada de suco de laranja e algum ser com o peso sobre mim. Elevo meu olhar, curiosa para saber quem é. Matthew. Nos observamos por um tempo, num estado de inércia, como surdos e mudos para o resto do mundo. Então, finalmente volto a raciocinar.

"Será que dá pra sair de cima de mim?", peço rudemente. Sei que a culpa não é dele. Eu que estava correndo como louca. Mas só de olhar praquele sorrisinho fútil me deixa com raiva. E ainda por cima estou perdendo a aula mais importante de História que, aparentemente não dará tempo de participar devido ao estado da minha blusa.

"Desculpe.", diz ele sem jeito enquanto se levanta estendendo a mão para mim.

"Não preciso da sua ajuda", eu estou furiosa. Só porque ele é o garoto mais cobiçado da escola ele acha que basta apenas um pedido de desculpas acompanhado de um sorriso bonito e fica tudo bem? Não mesmo. "Eu tenho dois braços e duas pernas, sei me levantar sozinha.", completo me levantando.

Sinto uma ardência forte no joelho esquerdo que, quando olho, percebo que está sangrando. Matthew parece preocupado. Como eu queria reverter aquela confusão!

"Deixa eu te levar pra enfermaria?", ele pergunta. Afirmo com a cabeça, me sentindo derrotada. Eu realmente perderia a aula.

Brian Thinking

O fogo nos olhos dela é aparente. Se no outro dia viessem me dizer que Ashley assassinou alguém, não teria duvidas da verdade. Me sinto mal por ter acabado no chão com ela. Então, mesmo que a culpa não tenha sido minha, ofereço minha ajuda para levá-la até a enfermaria e, para minha surpresa, ela aceita.

Ashley senta na sala de espera enquanto informo o ocorrido à Celine, a enfermeira da escola.

"Vocês podem esperar ali na sala de consulta.", diz enquanto observa o joelho ferido de Ashley. "Pegarei o quite de curativos e estarei de volta num instante."

Ashley, com cara fechada e braços cruzados, entra na sala sem falar nada e eu vou em seguida, fechando a porta.

"Tá vendo o que você fez?!", a garota resmunga apontando para a camiseta úmida.

Por um momento, me desvencilho da conversa para observar os detalhes da camiseta molhada em seu corpo. A blusa estava transparente, deixando seu sutiã à mostra – o que não pude deixar de notar. Seus seios eram definitivamente volumosos.

"Eu não posso continuar na escola vestida desse jeito, tenho que ir pra casa", Ashley diz mais calma.

"Você não precisa", digo. "Tenho um casaco no meu armário. Posso te emprestar se quiser." Não sei por que estava sendo tão gentil com ela. A garota me trata mal e eu estou oferecendo meu casaco e me sentindo culpado por algo que eu não fiz?!

"Não precisa", diz envergonhada. "Já te incomodei demais por hoje, não acha?", completa com um sorriso sem graça.

Ashley estava mais bem humorada. Passou de assassina para garotinha normal da Florida. Sorrio em resposta à suas palavras.

"Pensando bem, um casaco não seria ruim. Estou congelando.", diz ela, pedindo desculpas pela bipolaridade em sua expressão.

"Vou buscar", digo saindo da sala.

Ashley Thinking

Celine está fazendo meu curativo quando Brian chega. Ele estende um casaco com a estampa do time de basquete Orlando Magic.

"Já acabei por aqui. Você se sente bem para continuar na aula?", a enfermeira pergunta.

"Na verdade, acho melhor ir para casa. Vou ligar para minha mãe vir me buscar.", sorrio de leve.

"Tudo bem, você pode esperar ela aqui na sala. Mas o mocinho aqui tem que ir pra aula.", diz apontando para Matthew, que sorri para mim e sai em seguida.

Decido colocar o casaco de Matthew enquanto minha mãe não chega. O moletom ficou enorme, parecia um vestido em mim. Mas a parte boa é que ele exalava um perfume viciante. Peço uma sacola à Celine para poder transportar a blusa molhada.

"Senhora Cooperfield, por aqui", escuto a voz da enfermeira, abafada pela porta.

"Obrigada, pode me chamar de Sarah", minha mãe responde e abre a porta.

Ela começa a me examinar, insanamente preocupada. Eu só machuquei um pouquinho meu joelho, não estou morta. Se eu etivesse não queria nem ver a reação dela.

The Ashley DiariesWhere stories live. Discover now