Todos os dias, quando a bola gigante brilhante se escondia, Ohum ficava observando aqueles pontinhos azuis, piscando, presos naquela parede azul escura, curvada para dentro. Às vezes via tais pontinhos flutuando por aí. Um dia até conseguiu pegar um deles, e quando o colocou na boca para sentir o gosto e o apertou com seus dentes, ele explodiu em uma gosma nojenta e de gosto horrível. Mas Ohum gostava de vê-los piscando, alguns em tons mais escuros.
Ohum era o mais velho e mais forte de seu grupo. Tinha quase duzentos quilos e dois metros de altura. Seu corpo era coberto por pelos espessos para protegê-lo do frio. O maxilar era proeminente e de presas agudas. Isso para ajudá-lo a cortar os alimentos. Suas unhas eram robustas, assim como a pele que revestia suas mãos. Ele olhou em volta de seu bando e observou alguns dos mais novos correndo em voltas e rolando no chão. Duas mães seguravam nos braços criaturas iguais a ele, só que pequenas, muito pequenas e de olhos redondos e inocentes. Outros machos mais velhos, assim como ele, observavam os pontos luminosos no céu. Mais adiante, sobre uma rocha que se dispunha na frente da bola brilhante da noite, estava um macho se deleitando de um raro vegetal. Com seu andar, considerado um tanto quadrado,Ohum caminhou até ele e subiu na rocha com a ajuda de seus braços fortes.
– Ohum! – resmungou o ser receptivo, escondendo atrás de si o alimento.
– Ohum! – disseOhum, apontando o alimento atrás das costas do outro macho.
Enraivecido, o outro macho negativou a cabeça e rosnou para Ohum, escondendo ainda mais seu alimento. Ohum se aproximou dele e meteu o braço, dando a volta nas costas do outro macho. Brutal, o outro macho bateu nos braços de Ohum e pulou para trás. Ohum arregalou os olhos e também rosnou, pulando em cima do macho mais fraco. Seus dentes penetraram no ombro do outro e seus braços o jogaram de cima da rocha. Seguido disso, Ohum bateu nos peitos e rosnou alto, para que todo o bando entendesse que ele era o mais forte dali.
Ohum desceu da rocha, encarando todos que o olhavam com os olhos tristes. Nenhum deles entendia a morte, porém, sabiam que aquele que caíra da rocha nunca mais se levantaria ou comeria novamente. Ohum se aproximou do corpo moribundo do outro macho e pegou o alimento ainda em suas mãos. Ohum rosnou mais uma vez para o macho morto e mais uma vez encarou aqueles que observavam a cena. Seguido disso, saiue deixou a tribo, seguindo para a caverna ao alto da montanha.
Ohum aguardou a luz, entocado, pois sabia que ela não demoraria a chegar. Quando ela chegou, ele desceu para o lago cristalino, a fim de pegar uma daquelas coisas que ficavam se remexendo por baixo da água, para comer. Sabia que tinha que tomar cuidado com os negócios pequenos e pontudos que ficavam no meio da sua massa de comer. Uma vez ficou com um daqueles entalado na garganta, por várias vezes que a bola brilhante apareceu e se escondeu no céu.
Quando chegou ao lago, de cara viu algumas daquelas coisas coloridas, bem na beira. Ele se aproximou com cuidado e pulou em cima delas. Seu peso e tamanho brutos, unidos a sua lentidão, espantaram as criaturas e elas se dispersaram. Bravo, Ohum pegou um daqueles objetos duros na beira do rio e atacou longe, de raiva. Viu o objeto desaparecendo meio as folhas das árvores e em seguida ouviu um baque. Algo caiu das folhas e bateu na água do rio, tremulando ondas circulares. Curioso, ele entrou mais profundo e foi andando, até que a água fria lhe cobriu a cintura. Quando se aproximou do ponto que viu a coisa caindo, percebeu algo desgrenhado boiando na água. Surpreendeu–se ao ver que era uma daquelas pequenas criaturas voadoras que nunca conseguiu pegar. Com medo de que ela voasse dali, ele pulou em cima dela, mas seu peso sobre a água apenas a afastou mais ainda dele.
Ohum emergiu limpando o rosto rapidamente e procurando a coisa por todos os lados. Seus olhos a encontraram boiando, inerte. Daí por diante, ele começou a se aproximar com mais cuidado, com medo de que ela fugisse de novo. Foi avançando um metro a cada cinco segundos, e quando preparava um bote, algo surgiu das profundezas e agarrou com as grandes presas o corpo moribundo do pássaro. O susto de Ohum foi tão grande que ele gritou e começou a nadar e depois a correr, para o mais longe dali.
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O Princípio 4,5 MILHÕES a.c
AventuraConheça a história Ohum. Um magnífico semelhante nosso, em constante desenvolvimento intelectual. Se encante com a beleza inocente de uma mente quase animal.