Capítulo Dois

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A chuva já estava parando, mas a bagunça estava apenas começando. Saí procurando para ver se realmente não havia ninguém ali. Não encontrei ninguém na cozinha, nem do lado de fora. O ônibus ainda estava parado no local que descemos hoje pela manhã.

Quando estava voltando para o galpão encontrei um celular na cozinha, ele não tinha senha, então desbloqueei e entrei na internet com o intuito de mandar uma mensagem pra minha mãe. Mas tive uma surpresa quando acessei o Facebook. Várias postagens de crianças pedindo ajuda, elas não estavam encontrando seus pais, tios ou qualquer adulto que fosse. Nenhum deles estava mais por perto. O que estava acontecendo?

Corri para dentro do galpão, as crianças ainda corriam. Precisava chamar a atenção delas e contar o que havia descoberto. Chamei Júlia e pedi para que tentasse acalmar algumas das crianças, pedi para que falasse que eu tinha informações novas.

Subi em um dos beliches que ficava ao centro para que todos pudessem me ver e ouvir.

-GENTE! - gritei, mas a maioria continuou a fazer o que estava fazendo.

Precisava de algo que chamasse a atenção.

-Os adultos sumiram do mundo! Está na internet, acabei de ver. O pessoal que estava aqui não está mais. Eles SUMIRAM! - gritei tão alto que todos pararam e olharam pra mim.

-Como você sabe disso? - um menino perguntou com desconfiança, pronto para voltar a bater o travesseiro no seu amigo que também brincava com ele.

-Ta aqui na internet, você pode olhar - e mostrei o celular.

Eles chegaram mais perto e viram que eu estava falando a verdade.

-Mas como a gente vai sair daqui agora? - uma menininha disse quase chorando.

Eu não tinha a resposta, não sabia o que fazer, mas me sentia um pouco responsável por eles. A gente não tinha culpa de estar passando por aquilo, talvez eles estejam apenas pregando uma peça na gente, mas não acredito muito nisso.

-Vai dar tudo certo. Vamos pensar pelo lado bom, não vamos precisar seguir aquele cronograma.

-Simmmmm - todo mundo gritou, fazendo a maior bagunça.

-Mas precisamos nos controlar, isso aqui vai durar um mês, não sabemos quando eles vão voltar, nem como vamos sair daqui - tentei manter a calma, não podia me desesperar.

-A gente pode brincar muito - gritou alguém.

-Tem comida na cozinha, não vamos passar fome - Júlia disse.

-Pessoal, ninguém sai do acampamento, sempre fique perto de outras pessoas, e, por favor, ajude a manter a ordem.

Mamãe sempre disse que eu era uma menina mais madura do que minha idade dizia. Sempre tive muita responsabilidade sobre as coisas, o que me ajudou hoje.

A gente se organizou, mesmo sendo apenas crianças. Nós decidimos não sair do acampamento, não brigar e não fazer nada de errado, ou tentar. Mas não sei se essa regra ficaria de pé por muito tempo.

A noite estava apenas começando, corremos muito, brincamos de pique, comemos alguns doces que encontramos na cozinha, fomos para fora do galpão, mesmo a noite, e brincamos por muito tempo na chuva até não aguentarmos mais. Aquela, sem dúvida alguma, foi à noite mais divertida da minha vida.

O local ficou encharcado por conta de a gente ter entrado e saído de lá várias vezes, mas não ligamos muito. Enquanto alguns tomavam banho, outros já estavam dormindo. Chamei o pessoal que ainda estava na chuva porque a maioria já havia entrado.

Sentia-me responsável por eles. Fiz tantos amigos em tão pouco tempo, eu não queria mal a ninguém ali. Fechei a grande porta do galpão com a ajuda de Júlia, e então fomos dormir. Aquele foi um dia incrível.

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