Introdução

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      "Eu vejo a expressão no seu rosto, de medo, do meu medo. Seus olhos estão perdidos mas não estão à procura de nada, apenas observam sem procurar caminho algum. Teu corpo está entregue à algo que não podes controlar, te leva sem perceber. Você sorri com os olhos arregalados mas já não sei se pela felicidade. Suas mãos trêmulas tocam as minhas, elas estão frias e seus lábios secos cheiram a álcool, mas não estás bêbado, ainda. Não consigo imaginar onde foi parar toda aquela paixão pela vida que você carregava, pois todos os teus atos e falas ultimamente remetem a superficialidade, mas eu sei que é justamente pela profundidade que se encontras que estás assim..."

Eu me perguntava o que havia acontecido aqui. Costumava procurar razões para tantas mudanças, motivos para sentir segurança e algum ponto firme para me segurar e ter certeza que eu não estava caindo. Meu mundo já não era o mesmo, ele girava e eu só queria ele parado, mas ele nunca foi, eu que costumava girar com ele. Minhas mãos estavam frias e pálidas, meu coração havia parado e meus pensamentos acelerados... Ele havia realmente partido.

Sua presença já não era constante, mas fazia parte de uma rotina. Eu insisti que mesmo que não fosse meu, estivesse comigo pois eu não estava pronta para me despedir.
Eu o vi ali passando as tardes ao meu lado, olhando nos meus olhos e falando da minha importância, do quanto somos bons um para o outro; isso era o meu melhor. Não queria o perder.

Mas as coisas boas não podem durar para sempre, pois depois de um tempo acabam se tornando despecebidas, não é? É o que sempre me disseram e é o que começo a acreditar.

Houve um tempo que ele se perdeu, não de mim, não nas ruas, não de seus amigos e parentes, mas de si mesmo. Seus olhos estavam perdidos, seu corpo trêmulo, seu sorriso vazio, cheirava a superficialidade. Seu coração estava quebrado e a mente transtornada. Ele não me ouvia, meus conselhos não serviam, meu desespero vinha.

Passei meus dias pensando na última vez que o tinha visto, era desolador ver a pessoa que amo naquele estado, entregue ao acaso. Eu poderia fazer algo, mas não cabia a mim tomar uma decisão. Eu era apenas uma amiga, uma amante, uma segunda opção; eu não poderia interferir em muita coisa. Apesar disso eu queria estar ali do lado dele para que soubesse que não estava sozinho, mas ele se afastava cada vez mais e chegou a um ponto que eu não sabia mais como chegar até ele.

Tempos depois ele me aparece renovado, com um belo sorriso no rosto e com o coração recuperado. Ele estava de volta e mais bonito que antes, bem parecido com a primeira vez que o vi. Fiquei feliz por ve-lo alegre novamente, ve-lo bem.
Mas algo à mais havia mudado. Eu havia reparado algumas vezes antes dessa que ele estava com outros interesses, que seus olhos me olhavam de forma diferente e que seu toque já não era de garoto apaixonado. As outras garotas tinham um novo brilho, o sorriso delas chamavam mais atenção; além do mais eu descobri que eu não era mais o tal porto-seguro que ele dizia que eu era. Isso doeu, mas eu fingi que não senti.
Tua atenção estava voltada para as outras, o papo delas era novo, outros interesses, novos sonhos, novas missões; isso te atraiu para elas da mesma forma que te atriu para mim. Eu entendi a forma que estou sendo posta de lado porque não foi de repente, foi algo que se desgastou a muito tempo e que já não me pertencia à mais ainda.

Eu segurei com toda minha força o quanto pude, acabei me machucando demais. Mas eu não estava pronta pra perde-lo e por isso eu nunca consegui mudar. Eu não conseguia seguir em frente pois aquilo me prendia, a dor de deixa-lo parecia muito maior do que apenas segurar essa "barra"; mas não era verdade. Doia tanto mas eu sempre pensei que valesse a pena, que tudo bem eu me sentir mal as vezes contanto que o tivesse do lado. Eu que tanto critiquei isso, me via fazendo o mesmo e até pior.

Quando caiu a ficha, quando disse alto o que havia acontecido, foi como se estivesse estourado minhas paredes internas, como se tivesse arrancado meu coração.

Me enganei por muito tempo, fechei meus olhos, fingi que podia com o inevitável, fui tola e agora sinto.

Saber que aquelas palavras bonitas serão apenas palavras, saber que tudo que planejei ficará no papel, saber que a falta se tornará constante, não é algo fácil mas já estava na hora eu seguir em frente.

Eu perdi o amor da minha vida. O perdi sem ao menos o ganhar. Nunca o tive por completo, sempre me contentei com pequenas partes, com pedaços que ele me oferecia e que com tão pouco eu sentia que ganhava o universo.

O que mais doía era saber que nunca o teria, que ele nunca seria aquilo que eu mais desejava, um companheiro de verdade. O que doía era saber que suas palavras eram mentirosas, que só eram ditas como forma de me prender, com medo de ficar só. Eu me tornei só.

Eu o amei mais do que a mim mesma, o coloquei em primeiro lugar em tudo e fiz mais do que podia para tê-lo comigo, mas agora eu só quero seguir em frente sabendo que dei o meu melhor.

Agora meus dias mudarão e com todas as dificuldades, minha mudança começa agora.



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