O drama foi aparecendo...

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Estou na escola, e uma semana depois das aulas terem começado, sou a única a não ter nenhuma falta. 

Tinha uma pequena sensação que, quanto mais frio havia, as paredes estalavam cada vez mais, e claro, estava o Cláudio a bater os dentes de cima com os de baixo. Aquele som irritante irritava-me mais.

A professora chegou. Era a professora mais estranha que tinha visto na minha vida. E então a combinação da roupa dela nem se fala: uma camisinha amarela com um casaco de pelo verde. Sim, verde! As calças eram á boca de sino e usava um colar que chegava á zona do umbigo.

De repente vi a Fábia, (uma rapariga que não gosto muito dela) a atirar papeis para a Francisca. Eu olhei para ela e disse-lhe:

- Oh Quica, sabes que é muito arriscado atirares papeis! Sabes bem como é esta professora, ela implica por tudo e por nada!

-Mas que confiança é essa para me chamares de Quica?

- Eu sempre te chamei assim, não percebo porque é que agora vens com essa conversa

- Desculpa mas não posso falar nas aulas, sabes como é a professora!

Tive o pressentimento que ela disse aquilo para me picar. Tinha que descobrir o que é que ela e a Fábia falavam tanto.

No intervalo de 5 minutos, deixei primeiro a Quica sair e depois pedi á Inês para vigiar a porta. Ela deu-me sinal a dizer que não estava lá ninguém e então, aproveitei para remexer o porta-lápis dela. Não vi lá nada e então decidi ir á mochila. De repente, ouvi o som da campainha e era muito arriscado permanecer na sala. Saí a correr e coloquei-me á frente da porta.

A Quica chegou de braços dados á Fábia e dirigiu-me a palavra:

- Então, como vão as coisas? -e sorri para mim.

Fiquei paralisada e virei-lhe as costas. Nessa altura, percebi que aquele papel podia defenir o nosso futuro como amigas.

Quando o Manel, (um rapaz simpático mas muito bruto) chegou, começou a empurrar toda a gente e a carteira da Quica caiu. Mais rápida que a luz, apanhei a carteira e entrei para a sala.

Enquanto a Quica se queixava, fui vasculhando a carteira e encontrei lá um papel exatamente igual ao que elas falavam, um papel roxo, e então peguei nele, escondi-o e dei a carteira á Quica.

- Deixas-te cair a carteira Quica.

-Eu tinha reparado!- disse ela num tom arrogante.

-Não parece porque se reparasses eu não a tinha na minha mão!

A Quica pegou na carteira e entrou na sala. Eu, enervada gritei em alto e bom som:

-Já agora de nada Quica!

Ela olhou para traz, mas seguiu caminho.

Olhei para o papel que estava no meu bolso e disse baixinho:

- Vamos lá ver que surpresas é que me vais trazer...

A aula não tinha fim. A curiosidade de abrir o papel sem a Quica ver era maior que eu. Sentia que o que estava a fazer era errado, porque significaria que não estava a confiar nela, mas também já não sabia se ela confiava em mim! 

Quando os minutos pareciam intermináveis, a Inês mandou-me um papel e, em instantes, a Quica olhou para mim e disse:

-Pensava que não se podia atirar papeis na aula!

-Eu também pensava até ao momento em que tu atiraste um!- respondi-lhe.

-Eu não atirei nenhum papel.- retorquiu ela.

-Pois não!- disse eu num tom sarcástico. -É que eu não o tenho nem nada!

-Tu tens o quê? -engasgou-se ela.

- Estas atenta por acaso? -disse eu nervosa na tentativa de mudar de assunto.

-Olha Miriam não mudes de assunto. Dá-me o papel, ele é meu por direito!

-Vens-me agora falar de direitos? Acabaste de me mentir, escondes-me coisas e ainda dizes que não tenho o direito a ler?

-Eu não disse isso Miriam! - disse a Quica com uma voz mesmo chata.

-Não disseste mas insinuaste! Começo a achar que tu não és a pessoa que dizes ser.

-Não tenho culpa se te iludi!

-Não jogues baixo Quica!

A professora olhou para a Quica e exclamou:

-Francisca, não achas que estas a abusar no paleio?

A Quica baixou a cabeça e uma súbita vontade de rir apoderou-se de mim.

-Miriam! Também tu? Pensava que tinhas mais juízo.- falou a professora num tom suave.

Dei um minúsculo sorriso e baixei a cabeça também. De repente olhei para o porta-lápis e lembrei-me da Inês. Tinha-me esquecido do papel que ela me enviara. Olhei para ela e sorri como quem pede desculpa.

Numa questao de segundos, ouviu-se a campainha soar.

A Quica sai da sala a correr com a Fábia. Quase que ia apostar que ela já ia fazer queixinhas de mim. Nem acredito que isto me está a acontecer! 

- Inês desculpa, mas esqueci-me completamente do papel.

-Nao faz mal. conseguiste o papel?

-Claro! Vamos ler?

- Estás á espera do quê? Abre.

Abri o papel e fiquei em choque em ver o meu nome lá escrito. Foi como se me tivesse saltado á vista o meu nome. A Inês leu-o em voz alta:

-"Acho que a Miriam se esta a meter demasiado na tua vida (Fábia). Nao nao está, ela sempre foi assim! (Quica). Ela nao nos quer juntas. (Fábia). Estas a exagerar, ela é minha amiga é normal que se preocupe comigo!(Quica). Tu é que sabes.(Fábia)."

Olhei para Inês e dei-lhe um grande abraço. Acho que eu e a Quica estavamos destinadas a nao estarmos juntas... 





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