Muda destino muda

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A Inês, indignada, perguntou-me o que é que eu estava com aquela cara de morta. As palavras custaram-me a sair mas saíram:

-A Quica odeia-me e já nao quer saber de mim- disse eu com uma voz quase a chorar.

-Miriam, estás a tomar conclusões precipitadas, só porque os vossos últimos dias não tem sido os melhores, nao quer dizer que se odeiem. Não te esqueças os bons momentos que passaram e passamos juntas, isso é o que interessa, não as coisas más.

-As coisas más importam Inês. Se ela teve atitudes más, mostrou-me a sua outra "face". Não estou a dizer que vou deixar tudo ir pelo cano abaixo, só estou a dizer que....imagina um rio, só que com as aguas nem se mexiam. Vou deixar as coisas correrem com o seu tempo, normalmente o tempo ajuda!

-Ás vezes o tempo ajuda, mas outras vezes ele só nos faz perder tempo. Pensa que o tempo todo que ias esperar, irias desperdiça-lo, pois podiam ter vivido mil e duas aventuras!

-Mil e duas? Acho que essa expressao nao existe!! -finalmente, alguém que me conseguiu animar o dia, pois claro, só podia ser a minha melhor amiga!

De repente, ouviu-se uma voz esganiçada a falar:

-Meninas, vão demorar muito tempo a entrar para a sala?

Era a professora de Geografia, não sei como é que me pude esquecer daquela vozinha esganiçada.

Na aula, ganhei coragem (finalmente) e falei para a Quica:

-Quica, desculpa eu ter falado daquela maneira doutra vez... Eu tinha ciúmes é verdade!

-Que dia é hoje?

-QUE É QUE ISSO INTERESSA?- interroguei-a.

-Foi o dia em que admitiste alguma coisa.

Houve ali um momento em que nos rimos bastante. Foi como um momento de descontração depois daquelas discussões todas.

-É verdade, preciso que me ajudes a estudar Francês para o teste, eu tinha-te mentido de manhã. Desculpa, mas estavas-me a enervar um bocado.- retorquiu a Quica.

-Não faz mal. Admito que ambas temos falhado uma com a outra. E acerca da Fábia...

-O que é que ela tem?

 -Ela não teve a coragem de te salvar e eu tive. Ainda achas que ela é uma boa pessoa para ti?

-Nao sei, acho que me sinto confusa...

Um momento de tensão apoderou-se de nós. Só olhavamos uma para a outra e sorriamos como se nao conhecesse-mos.

Durante a aula, a professora obrigou a Paula (uma rapariga nojenta que ninguem gosta) a ler um texto.

- OHHH stora, não me apetece nada mesmo!

-Paula, mas que comportamente é esse? Nem parece teu!- resmungou a professora.

(Aquele tipo de comportamentos são típicos da Paula, ela é que não os faz nas aulas).

-Posso ler? - disse a Quica, levantando o braço.

-Claro Francisca! Alguém que gosta de participar na aula não é menina Paula? -respondeu a professora.

-Espera lá. Tu nem gostas de participar na aula!? -disse eu para a Quica.

-Inspirei-me em ti! -concluiu ela.

(Algo de estranho se estava a passar ali. Ela até pode ter mudado, o que duvido muito! Na minha opinião, aquilo cheirava-me a esturro!)

-Meninos, está quase a tocar, despachem-se a fazer os exercicios. Nao se esqueçam dos trabalhos de casa!- esclamou a professora.

Tocou.

-LIVRES!!!-gritou o Manel.

Cada vez mais acho que sou a única normal da minha turma. Anda tudo tolo!

No intrevalo, eu e a Inês fomos ter com a Quica e convidámo-la a andar connosco!

-Não estão a ver que estou com a Fábia?

-Nós pensamos que vocês podim andar connosco.- respondeu a Inês.

-Primeiro o convite era so para mim-disse a Quica enervada- Mas agora já é para as duas!

-O mundo não gira á tua volta!- respondi-lhe.

-Sabes que mais? Tu não nos mereces!- retorquiu a Inês- Uma pessoa como tu foi feita para uma pessoa como a Fábia!

A Fábia chegou á nossa beira. Eu fiquei com uma cara de enojada.

-Vou para a fila do buffet, querem vir connosco?- interrogou a Quica como se nada se tivesse passado.

-Tu funcionas bem Quica?- perguntou Inês irritada.

-Vocês parecem que não gostam de ver eu e a Quica a andar juntas!- esclamou a Fábia.

-Parecem? Se calhar não gostam mesmo. Sabem que nome é que isso tem?

-Não!- respondemos em coro.

-CIÚMES!!!- cantou a Quica.

Eu e a Inês saímos da beira delas e fomos dar uma volta á escola. Estava frio, mas a raiva que se tinha apoderado de nós aquecia-nos. Começou a chover! Entramos lá para dentro e sentamo-nos nuns bancos mais fofos que os sofás das nossas casas! Mal nos alapamos, tocou para as aulas. Eu e a Inês olhamos uma para outra e dissemos em sintonia:

-Pena termos que ir!

Começamo-nos a rir.

Já na sala, a professora Graça (A professora de ciências mais fixe que já tivemos) entrou com uns papeis minusculos na mao. Calculei que fossem os papeis para as visitas de estudo, mas com este tempo, em meados de Setembro, íamos onde?

-Bom dia meninos! Alguém consegue adivinhar o que trago na mao?- disse a professora Graça.

-Visita de estudo, visita de estudo, visita de estudo!- dizia eu em voz baixinha enquanto fazia figas!

A Quica olhou para mim de lado e encolheu os ombros. Fingi que não tinha visto  que ela fez. Ela voltou a fazê-lo, só que desta vez a tentar dar mais nas vistas. Ignorei-a. Pela terceira vez ela voltou a fazer o mesmo só que a dar ainda mais nas vistas. Desta vez, suspirei bem alto. Tinha o precentimento que ela hoje queria arranjar problemas sérios comigo! Fiquei a pensar nela a aula inteira e o resto do dia, ou seja, acabei por não saber o que eram os tais papeis, também a professora não os entregou!

Finalmente o dia tinha acabado e o teste tinha-me corrido muito bem. Da Quica já não posso dizer o mesmo pois acabei por não estudar com ela. No autocarro, a Quica fez questão de se sentar á minha beira.

-Desculpa Miriam!- exclamou a Quica.

-Que é que se passa contigo Quica?

-Eu tenho tido uns problemas que não irias compreender.

-Se me contares possa ser que eu vá compreender certo?- respondo-lhe.

-Aqui não. A Fábia não pode saber disto, envio-te mensagem quando chegar a casa.

Por mim aquela resposta era-me indiferente. Contar-me lá ou em casa era igual. Quando cheguei a casa, vesti uma roupa mais quente e fui para o Jardim Municipal que fica perto da minha casa. Sentei-me num banco todo molhado. Imediatamente sentou-se um rapaz ao meu lado. Suspiramos ao mesmo tempo e dissemos em coro:

-Muda destino muda!

Olhamos um para o outro ao mesmo tempo.

-Miguel, prazer.

-Miriam.

Sorrimos. Aquele cabelo avelã e os seus olhos do mar apoderaram-se da minha mente e a sua voz doce e suave do meu coração. Foi como amor á primeira vista. Usava uma camisa fina aos quadrados pretos e umas calças pretas. Ele tinha bom gosto! Só não sei como é que não sentia frio. Se calhar fui eu que lhe aqueci o coração! Quero acreditar que sim....


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