Dirce

Verdadeira Natureza

   Dirce ficou desesperada e confusa, sozinha no meio da pista de dança. O homem misterioso havia desaparecido, mas ela estava disposta a encontrá-lo para descobrir o que ele sabia sobre ela.
   Ter sido adotada nunca foi um problema para ela. Seus pais a escolheram para amar, e isso tinha ainda mais valor. Mas no fundo havia um questionamento sobre sua origem, e agora que poderia descobrir, iria até o fim.

   A festa terminou sem que o homem misterioso voltasse, e Dirce nem ao menos sabia seu nome para procurar. Frustrada resolveu tomar um banho, e ir dormir.
   Ao sair do banheiro vestida com seu roupão, e com uma toalha enrolada no cabelo, quase gritou de susto ao ver um homem com um terno preto na sacada do seu quarto. Ele estava de costas, então ela pegou o vaso de flores na mesinha mais próxima e foi silenciosamente, preparada para golpeá-lo na cabeça, quando ele se virou e segurou seu braço no ar.
   - É assim que você se defende...de mim? - perguntou ele, com um sorriso malicioso. - Você vive aqui, em meio à esse povo fraco, sem saber quem é de verdade. Eu venho te salvar desse tédio e é assim que me agradece? - seu sorriso agora era quase amável.
  - Quem é você? - pergunta Dirce, com medo da resposta.
  - Sou Zeto, e vim te despertar.
Ao dizer isso seus olhos ficaram completamente vermelhos. Ele puxou Dirce pelo queixo, e a beijou. Ela sentiu algo se romper dentro dela, como se a caixa de Pandora tivesse sido aberta. E tudo ficou escuro.

   Ela acordou em sua cama, ainda de roupão, com uma sensação estranha no peito. Algo nela tinha mudado. Ela tinha despertado diferente naquele dia, e sabia que nada mais seria igual.
   Ela se levantou, se arrumou e penteou, e saiu para dar uma volta. Era sábado, algumas lojas ainda estavam abertas, e ela queria comprar! Entrou numa loja de cosméticos, ficou vidrada pelo batom mais vermelho de todos, mas aquela não era ela, ela não usava batom vermelho. Mas aquele era tão lindo...

   Seus pais estranharam o novo comportamento, as novas roupas e os lábios vermelho sangue, mas julgaram ser coisas da idade.
  
   O primeiro dia de aula da nova Dirce seria ainda mais surpreendente. Dirce era uma boa menina, quase invisível, que nesse dia seria notada. Quando chegou à escola, parado no portão estava Zeto, agora com roupas casuais parecia ainda mais belo. Ela caminhou em direção a ele com sua saia xadrez do uniforme escolar, as meias três quartos dessa vez acompanhadas de um par de sapatos de salto alto. Sem cumprimentos ele a beijou e disse:
  - Vá mostrar ao mundo quem você é! - sorriu, e desapareceu.
Aquele beijo despertou aquele sentimento forte novamente, e ela sabia que estava pronta, só não sabia para quê.
   Adentrou as portas da escola com uma determinação incomum. Logo na entrada foi analisada com olhar de desdém pela menina mais popular de toda a escola. Mas o namorado dela olhou de forma bem diferente. Dirce sabia o que tinha que fazer. Era como uma intuição, uma força maior que ela. Ela queria o lugar daquela menina, e o teria, começando pelo namorado.

   Dirce sentia que a batalha seria fácil, quase injusta; nunca tinha se sentido tão poderosa assim. O que estava acontecendo com ela?

   Após o intervalo seu destino era certo: campo de futebol. Assistiria ao jogo do popular Brian, e humilharia sua popular namorada em público. E foi o que fez. Roubar um beijo de um homem pretensioso foi mais fácil do que roubar doce de criança. O jogo estava fácil demais!

   O resto do dia foi dedicado a coleta de informações sobre a rainha juvenil para o golpe de misericórdia, e não foi difícil. Como toda rainha, ela tinha um amante bastante impróprio, e Dirce a ajudaria a mudar de vida! Com uma gravação de vídeo para maiores de dezoito anos a rainha deposta, flagrada com seu professor de história, pode recomeçar uma vida purificada num acampamento para jovens problemáticas. Já o professor teria que lecionar num lugar diferente, a prisão.

   Dirce foi pra casa satisfeita, e contou a seus pais sobre como ajudou uma amiga a mudar seu comportamento libidinoso. Seu objetivo foi alcançado com êxito, e ela dormiu como um anjo.

   No dia seguinte acordou péssima, exausta, sentindo como se estivesse drogada. Quando chegou na escola todos a olhavam. As meninas agiam como se ela tivesse matado alguém, mas os meninos a olhavam diferente. Por alguma razão ela era vista, mas não sabia de nada até que Brian a interceptou no corredor com um beijo. Ela ficou paralizada, por um segundo sem entender nada, mas aquele beijo trouxe as lembranças do dia anterior. Ela não entendia o que tinha acontecido, mas sentia que não tinha volta, então abraçou Brian, o beijou novamente, e seguiu com ele para a sala de aula.