SENHADOWIFI123

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Afundar (v.t.)
Impelir para o fundo, fazer penetrar profundamente: afundar um barco.

Tudo estava perfeito, eu tinha finalmente conseguido o meu primeiro estágio na C&T, uma empresa de tecnologia que cuidava da parte de TI de várias outras grandes empresas. Estava perto de me formar na faculdade e estava completando 6 meses de namoro com o cara que eu chamei de "crush" por quase um ano. Era algo para se orgulhar, quando a sua vida parece estar finalmente se encaminhando para um ótimo futuro. Afinal, depois de tantas coisas darem errado, agora eu sentia que tudo estava, de certa forma, certo.

Por mais que eu estivesse feliz com o estágio, o que não me deixava nada satisfeita era o fato de acordar 6 horas da manhã para enfrentar o trânsito do Rio de Janeiro todo dia de ônibus. Aliás, sair de casa às 7, pegar o transporte público para chegar ao meu destino às 8 ainda era sorte demais. Então, por que eu estava reclamando? Era só meio período, 2 horas da tarde eu podia bater ponto e ir pra casa dormir. Ou quase isso.

O que estava realmente martelando na minha cabeça é que: aquele era o meu primeiro dia.

Quem gostava de primeiros dias? Eu que não.

A ansiedade estava chegando muito perto de me matar e enquanto eu via todos os últimos dias de férias passando pelos meus olhos, sentada no ônibus, eu repetia mil vezes para mim mesma que aquilo tinha que dar certo.

"As pessoas são legais, vai ser o melhor estágio que você vai ter na vida". Meu amigo dizia, e eu queria acreditar nele, como eu queria. Mas eu tinha a insistente mania de me importar com a maldita primeira impressão. O que eles achariam da morena de olhos puxados, descendente de indígenas, que não sabia fazer ─ perdão a palavra ─ merda nenhuma? Deus, eu seria demitida no primeiro dia. Será que eu podia colocar no meu currículo "leitora assídua e maratonista de séries"? Talvez se eu colocasse Netflix em negrito teria algum impacto.

Ou não.

Horas obrigatórias de estágio, eu te odeio.

O ônibus parou no meu ponto e eu desci tentando limpar a minha mente ao máximo, não precisava de mais motivos para ficar ainda mais nervosa. Caminhei os 5 minutos restantes até a porta da empresa e cheguei junto com um rapaz que abriu a porta para nós dois, Dênis era o nome dele e ele me mostrou o setor onde trabalhava, o de redes. Um telão enorme estava preso à parede com vários computadorzinhos piscando, fiquei encarando por um bom tempo parecendo uma doida.

Logo depois Dênis me mostrou o setor de manutenção, a sala da administração, a recepção que ficava logo na entrada, mas agora a recepcionista tinha chegado, e avisou que eu trabalharia no andar de cima. Comecei a ficar nervosa novamente, subi as escadas dando bom dia a qualquer pessoa que aparecia na minha frente e lá estava a sala que eu trabalharia, a de desenvolvimento. Chegando lá tinha dois rapazes, falaram que eu podia me sentar na última cadeira e me deixaram sozinha logo em seguida.

Eles me deixaram sozinha!

Como se fosse algo totalmente normal chegar uma nova estagiária e eles falarem "ah senta aí", sem mais, nem menos, e deixar ela sozinha. Foi constrangedor. Olhei para o computador a minha frente e o liguei, se eu não tinha nada para fazer ia pelo menos ler os meus emails. Até que um tal de Leonardo chegou e além de me fazer uma palestra sobre robôs usando arduíno me passou o novo aplicativo que tínhamos que desenvolver.

Naquela primeira semana seria eu, a única mulher, e mais 4 homens, o Léo, o José ─ que também era modelo ─, o Max e o Francisco, que foram os dois desnaturados. Nos dois primeiros dias eu almocei sozinha, já no terceiro eles invadiram a cozinha e não foi tão solitário assim. Aos poucos eu fui desejando nunca mais sair do desenvolvimento.

Ainda é cedoOnde histórias criam vida. Descubra agora