O amor não sao palavras.

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São 2 Horas, é madrugada, está frio, e é perigoso estar fora tão tarde, mas não tenho escolha. Não sei para onde ir, não sei o que fazer, todos estão contra mim, viraram-me as costas, alguns porque nunca gostaram de mim, outros porque não tiveram escolha, e outros porque eu virei primeiro . Mas não culpo ninguém pelo sítio aonde me encontro hoje, a culpa é minha e das escolhas que fiz. Escolhas que eu fiz por amor, e por falta dele também. Amor que senti e ainda sinto por um homem que não fez mais do que magoar-me, pisar em cima de mim e abandonar-me e falta de amor por mim, não me amei o suficiente para ir-me embora quando devia, não me amei o suficiente para saber que eu não seria a primeira escolha dele, sim ele me amou, mas eu devia ter notado que esse sentimento foi morrendo quando ele notou que o amor que eu tinha por mim também morrera. Mas será que amou mesmo ?
Parecia tudo estar tão perfeito, eu e ele, perfeito. Ele era o meu paraíso privado, com ele eu sentia que podia tudo, podia ter tido um dia de merda mas quando estivesse com ele, as coisas ficavam bem. Infelizmente isso mudou, mudou quando ele pela primeira vez bateu na minha cara, ele estava nervoso e pediu desculpas, então eu perdoei. Mas aconteceu a segunda, a terceira e a quarta vez. Eu perdoava sempre porque ele trazia rosas e pedia desculpas, fazíamos amor e deixávamos a dor pra trás. As minhas amigas sempre tentaram avisar-me, tentaram alertar-me sobre o meu tipo de relação, sobre o tipo de relação que eu mantinha com ele, mas eu dizia sempre a elas que estavam erradas, que elas não conheciam aquele homem como eu, elas não conheciam o homem que ele era de verdade, hahaha que enganada que eu estava, afinal, eu é que não conhecia o homem com quem dividi a cama durante dois anos. Ele acabou por arranjar uma amante, no princípio ele escondeu, mas quando descobri ele nem  quis saber, olhou para mim e ordenou que eu me fosse embora se isso fosse um incômodo. Eu arrumei tudo que era meu, coloquei as minhas malas em prontidão, mas não consegui passar da porta, não conseguia imaginar como seria viver a vida sem ele, sim eu estava cega. Naquela noite ele me bateu outra vez por ter tentando abandona-lo, eu perdooei pois achei que ele tinha razão, eu me coloquei no lugar dele e achei que faria o mesmo se ele me tentasse abandonar, afinal, eu o amava. Sim, perdoei sim, apesar de ele ter-me partido duas costelas e ter deslocado o meu braço esquerdo, perguntaram-me se eu queria apresentar queixa, mas eu não podia fazer isso com o meu amor, não podia colocá-lo na prisão, naquele lugar horrível.

Eu sabia que as coisas que ele fazia não eram por amor, aquilo não era amor,era suposto o " amor " deixar-me assim, com dores e manchas? eu sabia que não, mas nao tive coragem suficiente para deixá-lo, coragem suficiente para ir-me embora, a minha procrastinação é que me trouxe até esse momento.

Hoje as 22 ele chegou a casa e cheirava a álcool e perfume de mulher, o jantar estava na mesa por isso ignorei-o e continuei a ver o meu filme, ele não se sentiu feliz por tê-lo tratado como se ele não estivesse ali, foi até mim, tentando abraçar-me, senti nojo dele, nojo e ódio. Pedi que ele me deixasse em paz, que tomasse um banho e fosse para cama, ele recusou-se dizendo que eu era mulher dele e era meu dever satisfazê-lo, tentou mais uma vez beijar-me, empurrei-o, e por estar bebado, ele caiu sem sequer tentar agarrar-se. Levantei-me e fui até a cozinha, abri a geleira e tirei água, quase ia tirando o copo, ele agarrou-me por trás, deixando o copo cair e desfazer-se em cacos, eu estava descalça, eu tinha hábito de andar sem sapatos em casa. Ele prendeu-me naquela posição e quando tentei soltar-me pisei num pedaço de caco que ficou preso ao meu pé.
Ele afastou -se quando me ouviu gritar, mas logo voltou ao ataque, apertou a minha boca com força, e disse ao meu ouvido que não queríamos que os vizinhos ouvissem. As minhas maos estavam ao alcance da gaveta dos talheres, abri a gaveta o mais rápido que pude e puxei uma faca que passei no braço dele, ele automaticamente tirou a mão da minha boca, sai o mais rápido que pude do alcance dele. Fui até ao quarto, tranquei a porta e jurei não sair de lá até que ele se fosse embora, eu pedi que ele fosse embora de casa, que ele saísse e me deixasse em paz. Ele tentou fazer de tudo para arrombar a porta, até que desistiu. Era a primeira vez que eu lutava contra ele, era a primeira vez que eu lutava pela minha vida, lutava por mim, lutava contra ele. Acordei com um estrondo, olhei para a faca ensanguentada, e voltei a segura-la.
Ele deve ter encontrado uma das chaves suplentes, e deve ter deitado a casa abaixo para encontrar, pois quem cuidava disso tudo era eu, nunca se interessou em saber aonde estavam as chaves . Mais um estrondo, vi a maçaneta a mover-se mas a porta não abriu, ele estava a tentar todas as chaves, ele ia matar-me, eu senti que sim, senti que esse não era mais um dos episódios dele de agressão, era diferente porque pela primeira vez eu reagi, arrependi -me por ter deixado o telemovel na sala. Ouvi o chacoalhar das chaves e entrei em desespero, eu estava morta, morta.
Ele abriu a porta, olhou para mim e sorriu, um sorriso maléfico, um sorriso sem humor nenhum, cheio de maldade, um gesto horroso que não atingia os olhos dele, agora eu conseguia ver, conseguia ver o homem do qual todo mundo me alertava, ele estava aí, bem à frente de mim e eu já não estava cega, as lágrimas corriam dos meus olhos sem cessar, coloquei a faca entre nós e ordenei que ele não se aproximasse mais.
Ele deu dois passou e eu dei dois para trás. Ele veio a todo gás, tentou tirar a faca das minhas maos, eu lutei, resisti até que ....
Agora estou aqui, a sangrar, com frio e descalça, mas continuo viva, e ele ? Não sei, deixei a faca dentro do estômago dele, deixei-o a esvair-se em sangue e fugi, corri e não olhei para trás. Não tenho para onde ir, tenho medo de ser acusada, eu não planeei isso eu juro. Mas ninguém vai acreditar em mim, eu sei que não.

Chamo-me Marta e esta é a minha estória. Mulheres, não se prendam, no primeiro sinal de que algo está errado procurem ajuda, não permaneçam numa relação que vos seque e vos cegue, amem-se. Sejam como rios, sempre em movimento, aquilo que lhe faz mal, tire do seu caminho com a correnteza, que é o seu amor-próprio.

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