O sábado amanheceu nublado com um clima de velório. Isso, em um velório, era exatamente como aquela garota se sentia. Bety era como a chamavam, mas seu nome era Elizabethy, uma garota bonita de 16 anos, alta, de olhos e cabelos castanhos, não era magra nem gorda, talvez um meio termo.
Sempre rodeada de amigos, mas nunca completa. Por trás de sorrisos e risadas compartilhadas havia um grande pranto em seu interior.
A luz fraca que passava pela cortina escura fez com que a morena acordasse, o travesseiro molhado pelas lágrimas que lhe consumiam e aquelas paredes brancas que perdiam o brilho eram suas únicas companhias naquele quarto vazio.
Enquanto ia ao banheiro e lavava o rosto, não deixou de notar o inchaço no mesmo, devido ao choro. A briga com a família tida na noite anterior, ainda lhe deixava marcas, não aquelas em seu corpo, que já eram antigas, mas aquelas que lhe perturbavam os pensamentos. Ela continuou por um certo tempo fitando seu rosto no espelho, as olheiras das noites mal doridas e o semblante pálido e fraco. Provavelmente a anemia já tinha chegado afinal tudo que comia era forçado a sair, em poucas horas, por vômitos induzidos. Era triste a forma como ela definhava.
Passou pela cozinha, dando um bom dia forçado para os ali presentes, tomou um copo d'água e foi se trocar, permanecendo no quarto. As ameaças de suicídio não seriam cumpridas, lhe faltava coragem suficiente, mesmo que os métodos fossem muitos. Deitou a cabeça no travesseiro, que lhe parecia pesada, onde acabou adormecendo.
Quando acordou sentiu uma dor em seu braço, notando, em seguida, a presença de uma agulha conectada à uma bolsa de sangue, sua vontade era de sair daquele leito de hospital, mas não tinha forças, quanto mais tentava se soltar e sair dali mais fraca sua respiração se tornava. Não demorou até um médico aparecer no quarto e lhe dar a notícia, sua medula estava comprometida e não tinha mais cura para aquele câncer, teria apenas alguns meses de vida. Os vômitos forçados só agravaram mais a situação
Ao contrário de qualquer outra pessoa, ela não se desesperou, até se sentiu aliviada, por assim dizer, dando um leve sorriso ao receber a notícia. Ela teria seu descanso final e não precisaria se preocupar mais, uns diriam que sua atitude foi egoísta, mas ela só queria viver, mesmo que para isso fosse necessário morrer.
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Tragoidia
General FictionUma sequência de contos e histórias escritos em diversos momentos de minha vida (2006-Atual). Não são autobiográficos, não se preocupem. CADA CAPÍTULO É UMA HISTÓRIA DIFERENTE...