A Carta

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"Meu nome é Daniel. Quando eu era pequeno adorava cavar meu quintal em busca de artefatos históricos. Meu pai era um arqueólogo, e como todo filho pequeno, eu queria ser como ele, pois em minha mente ele era o melhor, o mais esperto, o mais corajoso, o mais forte, enfim, ele era meu herói e não havia ninguém que mudasse esse meu conceito. Eu posso dizer que muitas vezes tentaram me fazer odiar meu pai, pelo fato dele nunca estar em casa, as pessoas achavam que ele não se importava com minha mãe e eu. Bom, o tempo passou e ano passado ele morreu, eu fiquei bem abalado, queria de alguma forma ser como ele, mas eu só tinha quatorze anos, não podia sair viajando o mundo em busca de civilizações perdidas ou escrituras antigas..."

Esse texto que você acabou de ler foi uma parte da carta que eu pretendia enviar para uma empresa que estava sorteando uma viagem para alunos do ensino médio que queriam ingressar na carreira de arqueólogo. Quando descobri que essa empresa estava sorteando essa viagem fiquei maravilhado, afinal, a viagem era para um monumento que tinha acabado de ser descoberto por um grande historiador.

Eu era um brasileiro que morava nos Estados Unidos, na verdade, minha mãe era brasileira e meu pai era estadunidense (eles se conheceram na faculdade). Tínhamos uma vida muito boa. Minha mãe era dona de uma construtora que ela comprou quando pegou o seguro de vida do meu pai (não era muito, ela também possuía um dinheiro guardado). Eu tinha tudo àquilo que um garoto da minha idade queria, eu tinha um vídeo game de última geração, um bom computador e uma geladeira farta.

Eu era um garoto com muitos conhecidos, porém poucos amigos. Era alto se comparado ao resto de minha família, eu tinha cerca de um metro e setenta, meus cabelos eram castanhos escuros, não eram curtos, mas eram maiores que o cabelo da maioria dos garotos da minha sala, meus olhos, bom, mais escuros ainda. O que mais me intrigava em meu corpo era minha cor, eu realmente não sabia que cor eu tinha. Costumava falar que eu era amarelo... enfim, eu era um garoto normal.

Eram onze horas quando minha mãe me chamou para irmos até o correio entregar a carta.

- Espera um pouco, estou amarrando meus tênis – foi o que eu disse na quarta vez que ela me chamou. Eu estava revisando minha carta pela decima quinta vez.

- Se você demorar mais um pouco, vou me atrasar para a reunião! – Ela respondeu de uma forma realmente furiosa.

- Estou descendo!

Eu saí correndo pelo corredor até chegar à cozinha. Nem mesmo percebi que meu cachorro estava sem comida, pois eu passei como um raio na frente dele.

Eu entrei naquele grande carro vermelho da minha mãe e logo coloquei o cinto.

- Pronto, já podemos ir! – Eu disse com um grande sorriso no rosto.

- Você tem certeza que não esqueceu nada? – Ela perguntou com uma cara séria.

- Absoluta... eu acho.

- Ok, eu não vou voltar até aqui, então se certifique agora!

Eu vasculhei todos os meus bolsos e não encontrei a carta, mas eu me lembrava de ter colocado ela em meu bolso, então, onde ela estaria? Eu rapidamente saí do carro e fui olhar em minha casa, mas não precisei procurar muito. Quando eu abri a porta da frente, meu cachorro, Tyler, estava comendo ela.

"Você devia ter colocado comida para ele quando teve a chance", foi o que uma suave voz disse em minha mente.

Eu voltei para o carro cabisbaixo, como se eu tivesse confundido feijão com sorvete.

- Cheguei tarde demais, Tyler comeu a carta.

- Tudo bem, pegue uma folha e uma caneta e comece a escrevê-la novamente! – quando ela disse isso, eu simplesmente pensei "ela está louca? Não posso escrevê-la novamente, ela era perfeita!".

Eu só tinha esquecido que aquele era o último dia para enviar a carta, mas quando lembrei comecei a escrever como nunca escrevi na minha vida. Bom, a única coisa que eu me lembro, era que coloquei no final da carta à seguinte coisa "... toda a história é uma caixinha de surpresas, em um momento você está conferindo a sua carta como se nada fosse acontecer, e no outro está tentando reescreve-la, pois, seu cachorro a comeu.".

Quando eu terminei de colocar meus contatos no final da carta, nós chegamos ao correio. Eu entrei e consegui enviar a carta!

Naquele dia eu não fui à escola, fiquei em casa assistindo televisão. No noticiário local estava passando um artigo sobre super-heróis (oh, eu quase ia me esquecendo, no meu mundo pessoas com poderes especiais existam). Uma escola para pessoas superdotadas tinha sido criada com o intuído de diminuir o aumento de vilões. Ela funcionava basicamente assim: se você tem superpoderes, vai ser mandado para lá, sem mais nem menos.

Um mês se passou e o resultado do sorteio tinha finalmente saído, e adivinha! Eu perdi.

Fiquei muito abalado naquele dia, foi como se meu mundo tivesse desabado, porém na semana seguinte uma carta chegou, e nela dizia:

Para Daniel.

Prazer, meu nome e Carlos, eu sou um dos arqueólogos responsáveis por escolher a carta vencedora do sorteio.

Sua carta chegou até mim por um acaso. Outro arqueólogo que também estava escolhendo as cartas acabou ficando doente e eu tive que olhar as cartas que chegariam para ele naquele dia, foi então que vi sua carta. Parecia que o destino tinha me dado à chance de retribuir um grande favor que uma vez foi dado a mim. Quando eu tinha acabado de começar minha carreira como arqueólogo seu pai me apoiou como nenhum outro!

Pode parecer estranho, você deve estar se perguntando como eu sei que você é filho de meu grande amigo Michael, bom, digamos que mesmo ele não sendo um homem com grande senso de humor (e muito menos gentil) ele sempre contava sobre sua família, contava como seu filho, Daniel, e seu cachorro, Tyler, se divertiam, e dizia como tinha saudades de vocês. Quando li esses nomes em sua carta eu fui pesquisar um pouco mais sobre você e sua família (não me ache estranho, tinha que fazer com todas as cartas que tinham chances de passar pela seleção), foi então que soube da morte de seu pai. Á dois anos estávamos em uma escavação no México, isso me fez refletir um pouco. Tudo que eu tenho a dizer é que eu sinto muito por vocês, e que ele sempre será lembrado por mim.

Eu quero muito retribuir o que seu pai fez por mim anos atrás, acredite se não fosse por ele eu não teria chagado onde eu estou! Pensando nisso eu tive uma grande ideia, eu vou pagar sua excursão até a escavação prometida no sorteio. Você não passou pelo processo de seleção, mas consegui conversar com meus supervisores e eles me permitiram trazer você e mais um acompanhante.

Prepare as malas, pois dia 29 de junho você irá viajar!

Ligue-me quando puder 888-501-7747

Gustavo Mendes.

Fiquei feliz quando eu descobri que teria uma chance de conhecer o monumento mais misterioso do século! Sim, a excursão era para um grande monumento chamado "Laberinto de los Muertos". Ninguém nunca conseguiu descobrir o que existe dentro daquele grande monumento, pois seu interior era um grande labirinto onde aparelhos eletrônicos não funcionavam.

Eu fui correndo até a minha mãe para contar essa incrível notícia, mas, pelo visto, não tão incrível para ela.

- Eu nunca vou deixar você ir viajar com um cara só porque ele disse que conheceu seu pai! – Foi o que ela disse.

- Mas mãe eu posso levar um acompanhante, e esse acompanhante pode ser você! – Esse foi o melhor argumento que eu pude elaborar naquela hora, pois, ela estava totalmente certa.

- Eu não vou poder ir com você. Preciso resolver muita coisa na empresa no próximo mês.

- Então liga para ele! Ele deixou o número no final da carta! - Minha mãe me deu as costas e foi para a cozinha – Vamos mãe! Você sabe o quanto isso é importante para mim!

Ela se virou e olhou fixamente em meus olhos, eu encarei isso como um desafio, se eu desviasse o olhar ela não deixaria.

- Ok, vamos, me dê o número dele. – quando ela disse essas palavras meu coração pulsou de alegria. Só faltava mais uma etapa para ela deixar.

Eu entreguei a carta na mão dela e comecei a implorar a Deus que tudo fosse bem.


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