Meu marinheiro alegre e bom

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   A cauda de peixe era de um tom de cobre, escamas bem nítidas e acabam um pouco abaixo do umbigo da sereia de pele negra. A sereia tinha os cabelos pretos e iam até a cintura, eles estavam presos na metade da cabeça com uma trança embutida, conchas e pedrinhas de ferro alaranjado. No busto, a única coisa que cobria seus mamilos era o próprio cabelo preto como piche.
     Ela era uma tentação... O pirata estava em uma canoa, remando de volta ao seu barco escondido, junto com ele estava seus marujos sujos e desdentados. A voz dela era doce, o fazia querer entrar no mar junto a ela.
— O que faz nessas águas, capitão? — ela falava de forma lenta, fazia com que o homem desejasse entrar dentro daquela água salgada.
       Ele escutou a água, alguém tinha submergido.
— Capitão, sereias...
      Ele havia percebido, só não havia reagido como havia sido combinado na hora de planejar o roubo. O capitão não sabia que elas eram tão belas e viciantes, ah se ele pudesse respirar embaixo da água...

Após uma manhã de verão
Eu cuidadosamente me perdi
De baixo das paredes de Wapping
Onde eu conheci um garoto marinheiro

     Ele se lembrava disso, mas as vozes doces cantando juntas e com o som do mar que ele tanto amava no fundo, fazia sua mente criar neblinas em cima daquela lembrança.   

Conversando com uma moça jovem
Que parecia sentir dor,
Dizendo, William, quando você vai
Eu temo que você nunca vai voltar

Meu coração é perfurado pelo Cupido
Eu desprezo todo o ouro brilhante
Não há nada que possa me consolar
Mas meu marinheiro alegre e bom

     Era verdade, William podia escutar a voz de sua antiga esposa brigando com ele, pedindo para que ele não fosse embora, que ela não queria tem todo o ouro do mundo se não podesse ter ele junto ao filho. Ele estava sentindo as mãos molhadas e finas da sereia no seu rosto, ela o forçava para baixo e seus companheiros gritavam para que ele não fosse ora paquerava as demais sereias. Graças que eles não estavam atrás da sua, aquela sereia negra e de cabelos escuros seria dele.

Seu cabelo pendura em cachos
Seus olhos são negros como carvões
Minha felicidade atende a ele
Onde quer que ele vá

    A voz de Elizabeth fora embora junto com sua imagem, ao ouvir esse trecho ele só conseguia pensar na mulher que agora o fazia beijar a água salgada. Ele mal podia esperar para ser os lábios dela, e não o mar

De Tower Hill para Blackwall
Eu vou passear, chorar e gemer
Tudo para meu marinheiro alegre
Até ele navegar para casa

    Ah, ele adoraria isso. A neblina em sua mente o fazia se perguntar onde é que vira aquele porto, aquelas gramas verdes, aquele cheiro de terra a invadir sua narinas... Quem é Elizabeth Backstreet?
     Ele se perguntava como conhecia aqueles lugares,  se é que realmente conhecia... William tinha em mente que nunca saíra da água, nunca saíra do lado dela... daquela bela pele achocolatada... Qual era o nome dela mesmo?

(...)
Meu marinheiro alegre e bom

     Ele ouvia só isso, se repetindo tantas vezes em sua cabeça que o dava sono, no entanto o sono era tirado pelos lábios salgados. William adorou o beijo,  nunca havia beijado dentro da água, ou já tinha? Não importa, ele já estava dentro, a melodia ainda se fazia presente em sua mente, deixando as lembranças dele cada vez mais distantes e nubladas.
    William sentia tontura, sentia algo estranho lhe entrar nos pulmões lhe tomando o ar. Ar? Desde de quando ele respira ar? Ele já saíra da água alguma vez?
     Tudo ficava escuro, nublado... A única nitidez e clareza era a voz da negra a sua frente.

(...)
Meu nome é  Maria
A filha de um comerciante de feira
E eu deixei meus pais
E três mil libras por ano

    "Maria..." — enquanto seu corpo sangrando, sendo atacado por um monte de sereias famintas, inclusive a que disse se chamar Maria, ele sorria com o nome em mente. A canção o fez ter esquecido Elizabeth, seu filho e todos os outros marinheiros que também eram feitos de comida pelas sereias.
    Logo, os marujos eram cadáveres mortos sendo levados pela correnteza marítima para qualquer lugar e para o esquecimento.

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⏰ Última atualização: Oct 17, 2016 ⏰

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