Capítulo 1

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          Então, estou eu aqui no primeiro dia de aula do meu primeiro semestre. Acho que é meio que um ritual a primeira aula ser inacreditavelmente chata. Um cara de, aproximadamente, 20 anos com barba mal feita escorado na mesa dos professores dizendo que é monitor de História da Arte I - sabe-se Deus o que estuda essa disciplina. Nunca pensei que pudessem haver aulas chatas no curso de Arquitetura. Mas olha aí o destino me sacaneando.
          
Maria Júlia Alves Sales

          Escuto meu nome alta e claramente, ele ecoa da voz do mesmo cara que se apresentou como monitor só que dessa vez lendo uma lista de nomes, que provavelmente seria nossa lista de frequência, e eu fico, claramente, atenta a tudo que ele falar porque se eu cometer gafes no primeiro dia de aula eu sei que vão me zoar até o fim do curso.
     - Qual sua pretensão principal ao terminar o curso de Arquitetura? - Ele fala com um tom bastante educado.
     - Me empregar como Arquiteta, e me especializar em Arquitetura E Design.
     - Então, a senhorita deve gostar muito de desenhar, não?
     - Na verdade, não. Eu não sou muito fã de desenhar. Eu gosto mesmo é da parte de projetar e de organizar os espaços.
     - Você quer se especializar em design e não é muito fã de desenhar? - Ele fala soando irônico - É, a vida não está fácil pra ninguém.
          Algumas pessoas riem, mas eu acho que foi apenas pelo simples fato de que estariam tentando conquistar o monitor, pensando elas que ele teria alguma coisa haver com a nota que seria dada a cada um no final da disciplina. Ele coloca a mão no queixo e olhando para cima, ele esboça a elaboração de uma pergunta, quando um garoto, alto, loiro, forte e com uma camiseta azul apertada de uma maneira que podemos perceber seu abdômen bem definido, causado por dias na academia, o garoto entra na sala e cochicha algo no ouvido do monitor que o faz olhar para mim hesitante e dar um sorriso. O garoto começa a se retirar da sala, quando deixa cair um potinho amarelo do seu bolso e o monitor o alerta:
     - Dante, seu remédio. - O olhando com decepção.
          Claro que eu acho estranho, e já fico pensando um monte de besteiras. Mas, sou surpreendida quando o monitor me olha, sorri novamente e pergunta:
     - Maria Júlia, não é?
     - Sim.
     - A senhorita, por acaso, estaria solteira?
          Eu rio internamente, mas acho que demonstrei um pouco de vergonha ao ruborizar minhas bochechas. Aquele garoto veio perguntar seu estou solteira? Então, eu o respondo que sim. Isso dá por encerrada a nossa conversa. Quando ele continua a perguntar cada aluno sobre: as pretensões, vontades e mais dessas coisas inúteis.
          Acho que se passaram cinco minutos até ele terminar com as apresentações da turma. Então, ele olha lateralmente através da porta de entrada da sala e acena com a cabeça afirmativamente. Então um grupo de pessoas com vários potes de "remédios" entram na sala anunciando o trote. Os "remédios" são, na verdade, tintas de várias cores e dos mais variados tons. Os veteranos nos mandam ir para o pátio, mas de fila. Enquanto, me retiro da sala vejo o garoto, Dante, falando com o monitor. Mas saio antes de ver sua reação.

Apenas diga que não vai emboraOnde histórias criam vida. Descubra agora