Capítulo 2

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          Nós somos obrigados a andar com mãos nos ombros uns dos outros. Descendo os dois primeiros pavimentos, com todos nos olhando e cochichando coisas que não temos ideia. Alguns riem, outros nos observam apontando disfarçadamente. Eu ouço uma voz feminina gritando: - Eu vou mandar ver tinta na cara nesses S1's. Ah! Então, é assim que eles chamam os calouros, S1's. Depois de descermos, os dois lances de escadas somos agrupados por curso num pátio, eu olho ao redor, e percebo que aqui só há quatro cursos, dos dezesseis que estavam disponíveis para a escolha na hora da inscrição. Então um garoto, com cabelo de estilo 'black power' e de pele bem morena, fala ao microfone:
     - Bom dia, galera! Primeiro de tudo, parabéns pela sua aprovação na federal. - inicia-se uma salva de urros em forma de congratulações. - Aqui estão todos os quatro cursos do Centro Tecnológico. Então, por favor uma salva de palmas para os S1's de Arquitetura e Urbanismo galera! - as pessoas nos aplaudem e sorrimos timidamente, em resposta. - Agora, uma salva de palmas para os S1's de Engenharia Civil. - e eles o fazem. Depois, são sucedidos pelas salva de palmas para os alunos de Engenharia da Computação e, em seguida, a salva de palmas para os alunos de Engenharia de Novos Materiais. Uma garota de cabelos castanhos com pontas esverdeadas e olhos castanhos-claros toma o microfone da mão do apresentador do trote e nos avisa que agora vai, realmente, iniciar o trote. Ela avisa também que os alunos veteranos podem começar a nos pintar, seguidamente começa a tocar uma música, eu a reconheço, eu amo músicas internacionais. How Deep Is Your Love, Calvin Harris. Eu danço, da minha maneira, enquanto se aproxima a garota de cabelos com pontas esverdeadas e passa sua mão cheia de tinta verde na minha cara, então ela sai de do meu campo de visão. É quando o garoto, Dante, aparece com um gingado bem sensual, ele se prepara para passar a tinta amarela no meu cabelo, quando eu digo:
     - No meu cabelo não. - eu o olho franzindo o cenho.
     - Tá bem, se você não o quiser. - ele sorri, olha pra baixo.
     - Remédio, não é?
     - Aquela tinta não era pra ter caído. Eu quase estraguei o trote.
     - É, eu percebi. - eu falo meio sem ação. Então, ele me olha, morde um lábio, põe a mão no meu cabelo e me beija.

Nossa, como ele tem pegada.

          Eu retribuo seu beijo. Passamos, aproximadamente, 2 minutos assim. Quando sinto alguém jogando tinta em mim, nos soltamos e eu sorrio. Então, a garota que estava apresentando, avisa, dessa vez, que os alunos serão dividos para pedirem dinheiro no sinal. Claro que eu me irrito por dentro, eu odeio pedir coisas, principalmente dinheiro.
     - Eu posso ir com você, vão ter supervisores observando vocês mesmo. Então, eu posso ficar responsável pelo grupo que você ficar. - Dante fala com um sorrisinho no canto da boca.
     - Não vou achar ruim. - Eu retribuo seu sorrisinho. A garota diz que vai dividir grupos de oito pessoas, sendo 2 de cada curso. No meu grupo temos 5 garotos e 3 garotas, sendo que eu e outra garota somos de Arquitetura a terceira garota é de Engenharia de Novos Materiais.
     - Lana! Eu vou ficar responsável por esse grupo. - Dante fala para a garota do cabelo de pontas verdes. Ah! Então, esse é seu nome. Ela me olha, olha para ele e ri, então, ela acena afirmando. Ele nos diz para o acompanhar e nós o fazemos. Quando estamos caminhando, um garoto de Engenharia da Computação se apresenta para Dante e o pergunta se ele pode pagar a parte em dinheiro que teria que pedir no sinal. Mas, ele não fala com deboche ou exibido até porque eu só o escuto por causa que Dante está ao meu lado. Dante ri e fala baixo:
     - Não, se pudesse eu o teria feito no meu trote. - Então o garoto de pele clara, olhos castanhos-claros, musculoso e bem vestido, recua e nos acompanha.
          Eu achei que por ter ficado com o meu supervisor do trote, eu me livraria, mas não. Agora, estou aqui parada ao lado do sinal esperando o ficar vermelho pra pedir dinheiro. Ah! Como eu odeio isso! O sinal fica vermelho. Eu corro pra pedir dinheiro e Dante fica parado nos observando. Entre os carros, às vezes, passam motos buzinando para que saiamos da frente. Quando vou pedir dinheiro no terceiro carro da minha fileira, vejo que estou sendo acompanhada pelo garoto  de Engenharia da Computação que havia se apresentado. Ele está no mesmo lado que eu. Enquanto eu peço dinheiro para o passageiro deste Celta cinza, ele pede para o motorista de um carro preto que não identifico. Ouvimos alguém gritando: - Diego, peça do outro lado do carro! Do mesmo jeito que a Maria Júlia está fazendo. - É o Dante. Diego o obedece e quando vai sair, estando de costas para o sinal, um motoqueiro aparece na sua frente, de repente, e consegue desviar dele mas, me atinge.
          Quando acordo, me vejo numa salinha com uma porta fechada, essa sala deve ter 6m². Então, um cara de jaleco branco aparece e diz que eu estou bem mas tive uns arranhões, mas nada grave.
     - Eu posso ir agora? - eu o pergunto.
     - Pode sim. Acho que seus amigos estavam preocupados.
     - Eles não são meus... - eu não completo a frase, mas é verdade, eu nem falo com eles direito. Quando me levanto da cama, sinto uma dor, apenas incômoda, no joelho da minha perna direita, ele está machucado e meu antebraço direito também, mas são apenas cortes superficiais. Assim que saio da sala junto com o médico, a garota do meu curso que foi comigo para o trote no sinal diz que agora teremos aula de Desenho Geométrico e me pergunta se eu consigo ir pra aula. Eu respondo que sim, ela me olha hesitante e me diz que se eu não puder ir, ela falaria com o professor. Então, eu cedo e digo a ela que eu vou pra casa mesmo, ela acena concordando. No momento em que vou sair, ela pede meu número por causa do grupo da nossa turma que irão criar no Whatsapp. Eu a digo e então ela se despede e sai. Pego um táxi e vou para casa.
          No caminho, eu começo a pensar por que o Dante não estava fora da sala assim que eu saí dela como a garota da minha turma. Então, perco meu pensamento quando vejo uma ligação, minha mãe.
     - Oi, Mãe!
     - Filha, bom dia! Eu só queria saber como estão as coisas aí na faculdade.
     - Eu to indo pra casa agora.
     - Mas, já?
     - Sim. Houve um imprevisto...
     - Maria Júlia! Que tipo de imprevisto? - ela me enterrompe.
     - Eu caí da escada. - eu sei que se eu falar a verdade pra ela, ela vai surtar.
     - Ai, Meu Deus! Está tudo bem?
     - Está, sim. Eu só tive mesmo que vir, mas está tudo bem sim.
     - Qualquer coisa me ligue! Beijos, filha. - ela desliga.
         Minha mãe é gerente de negócios de um banco, então ela não tem muito tempo para mim, mas eu a entendo. É necessário. Vou pra o meu quarto, tomo um banho e fico na cama. Começo a lembrar do louco dia que eu tive e olha que não são nem 12:00 a.m.  Quando vou almoçar, meu celular vibra, eu o pego e olho superficialmente a tela é vejo um 'Oi, você tá bem?' escrito com um número desconhecido. Ah! Dante, deve ter pego meu número com a garota da minha turma. Eu respondo e acho diferente a foto de perfil, quando eu a amplio e vejo nitidamente. Diego.

Apenas diga que não vai emboraOnde histórias criam vida. Descubra agora