Porcelana

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Brisas primaveris imbuem-te o espírito com luz, pálida boneca de porcelana; tardes a observar a serra, o céu azul acinzentado, as andorinhas voando em sintonia, dançando ao som da leve brisa; tudo se apresenta em tons fúnebres, pinceladas suaves de cores frias, dias e dias, e noites, e tardes, e manhãs.

Apenas tu és a leve dedilhada numa guitarra, num bar afumarado e algo familiar, o reflexo lunar no nosso escuro e gélido rio, e o riso acriançado, estendido por inúmeras tardes de Verão, um daqueles sépia, já algo distantes.

És porcelana leve, rara, pura, perdida e encontrada no mundo, e tudo mais aquilo que dificilmente alguma vez conseguirei escrevinhar, esboçar, gritar, fazer; és a frustração de não conseguir chegar perto do que se assemelhe a ti, nunca, porque tu, e todas as tuas versões beiram o inexistente e o grandioso, ténuamente.

E depois de tantos Infernos, continuas a mesma pálida boneca, resiliente, perdida e encontrada no mundo, e inteira; tomara que retornem depressa, as ditas brisas, porque se em ti houver luz, jamais a faltará a alguém.

10.06.2016

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