[14] Natasha

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Natasha odiava se sentir deslocada, sozinha em um lugar que nada tinha a ver com ela; abandonada. Foi assim naquela sexta-feira à noite.

Não que Natasha repugnasse festas, não. Ela apenas não queria ficar ali, vegetando naquele "puff" que cheirava a cerveja, sem nem saber onde sua amiga havia se metido, além de ter que usar o seu repertório completo de desculpas para afastar homens, os quais ela separou nas mais distintas categorias de bêbados, que por vezes a rodeavam.

A música ensurdecedora era uma das suas favoritas, mas naquele momento a irritava profundamente. "Vai ser legal", pensou ela amargurada lembrando da fala da sua amiga, Beatrice, antes dela ser arrastada do seu aconchegante apartamento.

Um rapaz, com o típico perfil de "Capitão do time de futebol" dos filmes de colegiais, parou diante dela, oferecendo um copo de vidro com um líquido vermelho.

-Não, obrigada. - Respondeu ela, sorrindo forçadamente para com o seu gesto.

-Você não bebe? - Perguntou ele com a fala um pouco enrolada. "Este é um bêbado que gosta de dividir tudo que acha pela casa", classificou ela.

-Não. - Ela respondeu olhando o horário no minimalista relógio em seu pulso, seu companheiro indispensável. Não passara sequer cinco minutos desde que olhou-o pela última vez.

-Você quer dançar comigo? - Perguntou ele. "Ótimo, mudando para a categoria de bêbados-dançarinos de programas de auditório".

-Não. - Ela sabia que ele iria perguntar o motivo, então tratou de adiantar o processo. - Se eu dançar, terei de modificar a sua memória com um Obliviate. - Ele concordou, como se fosse a coisa mais óbvia que já tinha ouvido

-Entendi... Então por que você está aqui? - Ela mordeu os lábios inferiores, pensando naquela pergunta, a qual havia feito para si mesma incontáveis vezes nas últimas horas.

-Eu não sei.

-Ah! Você quer dançar comigo? - Ele tornou a perguntar, franzindo o cenho. - Esqueci que você não pode...

-O que é uma pena, estava com muita vontade de dançar com você. - Ela brincou, fazendo com que ele se alegrasse automaticamente.

-Então por que você não dança? - Ele quase imediatamente bateu na própria testa, talvez com mais força do que deveria. - Esqueci, desculpa.

Natasha soltou uma gargalhada, estava ficando com pena do garoto, pateticamente preocupado com o que ela poderia fazer com a sua memória.

Ele continuou ali em pé, até que uma garota de cabelos cacheados o puxou até a pista de dança improvisada, tão bêbada quanto ele.

Os minutos se arrastavam, e tudo que ela queria era uma boa maratona de séries na Netflix e o seu pijama da Lufa-Lufa.

Levantou-se cautelosamente até a mesa de jujubas, tentando não esbarrar com ninguém durante tal percurso. Observou a parte da casa em que se encontrava, cansanda só de imaginar o trabalho que daria para arrumar tudo no dia seguinte.

Deu meia volta, com a intenção de voltar de onde tinha saído, batendo com força a sola do sapato de salto no chão ao constatar que o mesmo estava ocupado por um casal em uma explícita "demonstração de afeto".

Encostou-se na parede, inquieta com a situação. Só sentia vontade de fechar os olhos e ser teletransportada para debaixo das suas cobertas de pelúcia.

Natasha nunca fora o tipo de garota extrovertida da sua turma de amigos, e sim a que fazia as piadas inteligentes, as quais raramente alguém realmente compreendia. É, ela também não era o tipo de garota que se sentia extremamente confortável com aquelas saias justas e salto de quinze centímetros. Talvez por essas circunstâncias uma menina a encarava abismada, possivelmente com a sua notória falta de interesse naquela festa, a cada dois minutos.

Um bom tempo se passou, e Natasha finalmente teve a certeza de que precisava abandonar aquela desconfortável inércia e tomar uma providência: Ela iria para casa de qualquer jeito.

Com uma dose de coragem e uma pitada de descontentamento, perdeu-se na aglomeração de pessoas, procurando a saída da casa.

Logo que a achou, escancarada, respirou fundo o leve ar noturno (se comparado ao do interior da casa) e desceu os curtos degraus. Estava livre.

Natasha viu outra vez o garoto, com o qual ela havia mantido o maior diálogo da noite. Ele sorriu para ela.

Ela mexeu nos cabelos ruivos tingidos, acenando enquanto desviava de um moço que entrava apressado, carregando um engradado de bebidas. Começou a caminhar pela rua mal iluminada, tentando equilibrar-se em meio aos paralelepípedos, com dificuldade por conta dos saltos dos sapatos.

Logo o rapaz a alcançou, com uma agilidade imprópria a um bêbado.

-Olha, eu não me importo se você apagar a minha memória, mas eu não vou deixar você ir sozinha; essas ruas são perigosas. - Ela olhou admirada para ele.

-Então, faremos um acordo: Eu não apago a sua memória, desde que você me diga o seu nome.

-Ah, que maravilha! Já estava ficando preocupado. Não queria esquecer de como você estava linda atacando as jujubas, mas queria tanto falar com você de novo! - Ela corou, encarando fixamente o chão. - Meu nome é Steve, e o seu?

-Natasha.

***

Oioi! E então, o que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado, de verdade ♥
Deixem os votinhos para me ajudar, e um feedback (vale até ideia para os próximos capítulos!).

Quero agradecer também aos quase 3k, o surto provavelmente será no próximo capítulo!

Um beijo, até a próxima. ♥

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