Natasha odiava se sentir deslocada, sozinha em um lugar que nada tinha a ver com ela; abandonada. Foi assim naquela sexta-feira à noite.
Não que Natasha repugnasse festas, não. Ela apenas não queria ficar ali, vegetando naquele "puff" que cheirava a cerveja, sem nem saber onde sua amiga havia se metido, além de ter que usar o seu repertório completo de desculpas para afastar homens, os quais ela separou nas mais distintas categorias de bêbados, que por vezes a rodeavam.
A música ensurdecedora era uma das suas favoritas, mas naquele momento a irritava profundamente. "Vai ser legal", pensou ela amargurada lembrando da fala da sua amiga, Beatrice, antes dela ser arrastada do seu aconchegante apartamento.
Um rapaz, com o típico perfil de "Capitão do time de futebol" dos filmes de colegiais, parou diante dela, oferecendo um copo de vidro com um líquido vermelho.
-Não, obrigada. - Respondeu ela, sorrindo forçadamente para com o seu gesto.
-Você não bebe? - Perguntou ele com a fala um pouco enrolada. "Este é um bêbado que gosta de dividir tudo que acha pela casa", classificou ela.
-Não. - Ela respondeu olhando o horário no minimalista relógio em seu pulso, seu companheiro indispensável. Não passara sequer cinco minutos desde que olhou-o pela última vez.
-Você quer dançar comigo? - Perguntou ele. "Ótimo, mudando para a categoria de bêbados-dançarinos de programas de auditório".
-Não. - Ela sabia que ele iria perguntar o motivo, então tratou de adiantar o processo. - Se eu dançar, terei de modificar a sua memória com um Obliviate. - Ele concordou, como se fosse a coisa mais óbvia que já tinha ouvido
-Entendi... Então por que você está aqui? - Ela mordeu os lábios inferiores, pensando naquela pergunta, a qual havia feito para si mesma incontáveis vezes nas últimas horas.
-Eu não sei.
-Ah! Você quer dançar comigo? - Ele tornou a perguntar, franzindo o cenho. - Esqueci que você não pode...
-O que é uma pena, estava com muita vontade de dançar com você. - Ela brincou, fazendo com que ele se alegrasse automaticamente.
-Então por que você não dança? - Ele quase imediatamente bateu na própria testa, talvez com mais força do que deveria. - Esqueci, desculpa.
Natasha soltou uma gargalhada, estava ficando com pena do garoto, pateticamente preocupado com o que ela poderia fazer com a sua memória.
Ele continuou ali em pé, até que uma garota de cabelos cacheados o puxou até a pista de dança improvisada, tão bêbada quanto ele.
Os minutos se arrastavam, e tudo que ela queria era uma boa maratona de séries na Netflix e o seu pijama da Lufa-Lufa.
Levantou-se cautelosamente até a mesa de jujubas, tentando não esbarrar com ninguém durante tal percurso. Observou a parte da casa em que se encontrava, cansanda só de imaginar o trabalho que daria para arrumar tudo no dia seguinte.
Deu meia volta, com a intenção de voltar de onde tinha saído, batendo com força a sola do sapato de salto no chão ao constatar que o mesmo estava ocupado por um casal em uma explícita "demonstração de afeto".
Encostou-se na parede, inquieta com a situação. Só sentia vontade de fechar os olhos e ser teletransportada para debaixo das suas cobertas de pelúcia.
Natasha nunca fora o tipo de garota extrovertida da sua turma de amigos, e sim a que fazia as piadas inteligentes, as quais raramente alguém realmente compreendia. É, ela também não era o tipo de garota que se sentia extremamente confortável com aquelas saias justas e salto de quinze centímetros. Talvez por essas circunstâncias uma menina a encarava abismada, possivelmente com a sua notória falta de interesse naquela festa, a cada dois minutos.
Um bom tempo se passou, e Natasha finalmente teve a certeza de que precisava abandonar aquela desconfortável inércia e tomar uma providência: Ela iria para casa de qualquer jeito.
Com uma dose de coragem e uma pitada de descontentamento, perdeu-se na aglomeração de pessoas, procurando a saída da casa.
Logo que a achou, escancarada, respirou fundo o leve ar noturno (se comparado ao do interior da casa) e desceu os curtos degraus. Estava livre.
Natasha viu outra vez o garoto, com o qual ela havia mantido o maior diálogo da noite. Ele sorriu para ela.
Ela mexeu nos cabelos ruivos tingidos, acenando enquanto desviava de um moço que entrava apressado, carregando um engradado de bebidas. Começou a caminhar pela rua mal iluminada, tentando equilibrar-se em meio aos paralelepípedos, com dificuldade por conta dos saltos dos sapatos.
Logo o rapaz a alcançou, com uma agilidade imprópria a um bêbado.
-Olha, eu não me importo se você apagar a minha memória, mas eu não vou deixar você ir sozinha; essas ruas são perigosas. - Ela olhou admirada para ele.
-Então, faremos um acordo: Eu não apago a sua memória, desde que você me diga o seu nome.
-Ah, que maravilha! Já estava ficando preocupado. Não queria esquecer de como você estava linda atacando as jujubas, mas queria tanto falar com você de novo! - Ela corou, encarando fixamente o chão. - Meu nome é Steve, e o seu?
-Natasha.
***
Oioi! E então, o que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado, de verdade ♥
Deixem os votinhos para me ajudar, e um feedback (vale até ideia para os próximos capítulos!).Quero agradecer também aos quase 3k, o surto provavelmente será no próximo capítulo!
Um beijo, até a próxima. ♥
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O Alfabeto dos Contos
ContoSerão 26 contos ao todo. Por que 26? Um conto para cada letra do alfabeto! Ou seja, uma garota para cada letra do alfabeto. Uma completamente diferente da outra, assim como cada uma terá um desfecho diferente. Românticas ao extremo, sérias de mais...