A Última Dança

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O casamento de Lion seria na próxima noite. Leonard compreendia que não teria o coração da princesa assim.

De certa forma a única coisa que queria de Lion era sua Felicidade, quando a notícia que ela iria se casar veio à tona, a primeira coisa que pensei foi, tudo bem ela será feliz.

Mas meu coração doía, os últimos dias ao lado de Lion, foi totalmente de despedida, sabe, eu ainda não havia compreendido que ela poderia partir a qualquer momento. Meu coração estava machucado, mas estava extasiado.

No mundo real, as coisas parecem limitadas, ao ponto que mal consegue distinguir o certo com o errado. Como eu havia dito o grande problema da terra está longe de ser algo do planeta em si, mas mesmo os humanos.

Em Delain, Leonard agradeceu o tempo em que passei com Lion. Falou que ele amava outra pessoa, mas como a família real escolheu ele e Lion, não se podia fazer nada. A propósito eu não importava com o casamento em si, eu queria a Felicidade dela, mesmo que eu devesse destruir a passagem para Delain.

-Steve...

Era Zoe.

-O que será de nós depois da partida de Lion?

Olhei para Zoe e todos os outros, até mesmo Remmy ao lado de fora do trem. Eu não falei nada, eu sabia do que aquilo significava, o que a morte dela iria acarretar.

-Se a princesa realmente partir, você não terá motivos para voltar aqui, Sr. Steve.

Disse Remmy ao longe.

-E vocês? Não posso ver vocês? - questionei.
-Esse mundo foi constituído pra ter o Criador e o Elo. O elo é o núcleo, aquilo que mantém a mente do Criador ativa. Você é o criador desse mundo. E o elo é Lion, se ela partir uma parte de sua mente apaga, e esse sonho, não se concretiza. - falou Twin.

-Esse é o pesadelo, que todo bom sonho se tem. Nem tudo pode ser real. As coisas têm que ser assim. Como sempre foi, e como sempre é... - completou Pink.

Eles estavam certos, essa é a parte, as regras do sonho. Nem tudo pode ser perfeito. Meu último embarque para o feliz para sempre?

-Café? - perguntou Srta. Margareth.
-Não, não... deixa para mais tarde.

Em Delain, o ritmo era envolvente, de festa. As danças eram típicas, com alegria e muito vinho, eles dançavam as musicas escocesas, eles diziam em como a vida era difícil e como o vinho era bom.

O gigantesco salão estava repleto de luzes, cheio de gente, a princesa estava sentada no trono ao lado de Lancaster, eles tinham um sorriso forçado na face, eu me servi de um drink e fui para o terraço. A noite nunca esteve tão repleta de estrelas, os lagos iluminados e riachos iluminados pela luz do luar. E por um momento pensei, que realmente logo não poderei viver eternamente no meu mundo quase perfeito.

O meu sonho estava acabando, e logo a vida real estava de volta em meus planos. Lion apareceu atras de mim, fechando as cortinas, nos separando da escada que dava acesso de volta ao salão principal.

Ela me abraçou, forte, eu senti suas lágrimas descendo pelo blazer.

- Não deves chorar, minha princesa...

Eu me virei, e abracei, entre meus braços, protegendo tentando fazê-la confortável.

-Estava lendo... Estava lendo Shakespeare.

Sua voz estava abafada, fraca e rouca. Debilitada.

-Qual obra? - perguntei.
-Romeu e Julieta...

Todo mundo sabe como a história dos dois terminam. Meu coração apertou, ao ouvi-la prosseguir.

-Tem um trecho que eu marquei, para lhe falar.
-Sou todos ouvidos - afirmei.

Ela me olhou nos olhos. Deixando cair as lágrimas nos lábios.

-"Essas alegrias violentas, tem fins violentos, falecendo no triunfo, como fogo e pólvora; Que num beijo... se consomem...".

Ela então recitou, e me beijou.

-Oque quer dizer com isso? - perguntei.
-Dança comigo? - mudou de assunto.
-Na frente dessa gente ?

Ela disse que sim com a cabeça, e eu a segui, ela segurou bem firme meus dedos. No salão principal todos abriram ala para nós, todos os olhares nos pertenciam agora.

Antes, olhei para Leonard. E ele assentiu com a cabeça, deixando-me dançar com sua futura esposa.

- Me dá a honra dessa última dança Sr. Steve...?

-É claro minha princesa...

E começamos a dançar. Uma explosão de sentimentos. Olhei para seus olhos castanhos, tornando-me submisso a ela. Ela é a única coisa que me fazia alegre. Abracei ao som da música, por fim éramos apenas eu e ela, ninguém mais, ela me olhou fundo, dentro dos meus olhos, e por um breve segundo sua pupila dilatou, e fechou os olhos, ela suspirou, por mais uma vez.

E se foi.

Ela caiu em meus braços, tudo muito rápido, ela foi socorrida, meu choro não saiu, estava sufocado, eu iria explodir.

Lentidão. E mais lento. Piorando...

Corri para fora. Gritei o mais alto que pude. Um choro de dor, um choro amargo, Zoe e os outros vieram me abraçar, eu olhei neles e um por um começou a desaparecer.

"... alegrias violentas tem fins violentos..."

Um por um, todos se foram, o castelo desapareceu, e o Trem chamava o meu embarque, pela janela a dor era indescritível, insuportável, ensurdecedora. E pela janela o meu mundinho perfeito iria perdendo forma, morrendo junto com quem a fazia viva.

Desembarquei.
Remmy me olhou.

-Senhor...

Eu olhei para ele, e ele para mim.

-Eu sinto muito. Adeus, passageiro querido...

E ele também se foi...
O Trem começou a enferrujar, e a desaparecer, a plataforma das 07:00 não existia mais. Peguei o blazer e voltei para a superfície,  o caminho, uma voz tão doce que parecia o arrastar dos anjos cantarem me chamou.

No breu, escutei um barulho do trem, era o Trem da Meia-noite. Forcei minhas vistas para a cobertura que nunca vi antes, e lá estava uma moça maravilhosa, meiga, com um penteado tão lindo como, a pele era clara, ela se aproximou.

Desajeitada, ela disse...

-O meu trem está partindo, preciso de companhia, não sei viajar nessas coisas... pode me ajudar?

Uma versão completamente igual de Lion, porém real, não era sonho, era real. Ela me estendeu a mão, e como um só nos tomamos por iguais.

Pegamos o Trem da Meia-noite.

Srta. Margareth estava lá.

-O café, Senhor, eu guardei, irá querer? - disse ela sorrindo.

Eu não entendia muito bem, mas aceitei, a moça do meu lado pegou o dela, com leite, pouco açúcar no café, e algumas torradas.

O clima estava frio, o vidro embaçado por causa do cafezinho.

- Qual é o seu nome pelo amor de Deus ?

Ela me olhou, com um sorriso louco, ela escreveu o seu nome na janela do Trem.

ELLE

Sorrimos e degustamos do café, e logo depois, eu vi um reino.

O reino.
Aquele reino...

E os meus amigos das antigas.

Fim?

O Trem da Meia NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora