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"Me deito pra dormir, mas nunca durmo. Fecho os olhos e na mesma hora abro em outro canto completamente diferente do anterior. Não sei o que acontece, ou porque, mas já faz tanto tempo que nem me importo mais. Já consigo até entender alguns lugares. A verdade é que nunca sei se tô sonhando ou não. Ali, com os olhos fechados e a luz apagada, eu me perco...."
Enquanto isso, o médio escrevia na ficha de Caleb. Já era a terceira vez que ele visitava esse psiquiatra: um homem alto, de mãos grandes e braços longos. Seus olhos eram verdes e a pele escura, e o óculos que usava dava-o um toque de inteligência e dramaticidade impressionantes.
Caleb, que tinha 17 anos. Ainda não havia se acostumado com o doutor, mas o jeito e o tom aveludado da voz dele passavam uma confiança quase palpável. Faziam ele se sentir seguro pra contar-lhe tudo. Segundo Caleb, Alex era o "cara médico" mais legal que ele já tinha visitado.
O garoto tinha o corpo forte e marcado das brigas de rua, os braços abarrotados de tatuagens, os pulmões manchados por conta do cigarro e os olhos penetrantes e castanhos. Seu cabelo era curto e desgrenhado, em um preto intenso e, naquele momento, suas veias pareciam querer pular para fora dos braços. O maxilar quadrado e os lábios caídos davam a ele uma aparência forte, e seus punhos machucados comprovavam isso.
Porém, apesar de ter uma aparência forte e rígida, seu interior, guardado por seus olhos castanhos, era o contrário disso. Com uma personalidade sensível e impulsiva, ele não entendia a ausência do pai, e as conversas entre ele e o novo cara médico sempre paravam por aí.
Alex sabia que isso se resolveria com o tempo, afinal, era apenas a terceira consulta, mas ele sentia que Caleb tinha muito potencial pra várias coisas e era um garoto talentoso, apesar de tudo. Entretanto, ele também sabia que não seria tão fácil assim despertar isso dentro do garoto.
"E como você se sente quando sonha?" perguntou Alex, dando um gole em sua caneca cheia de café (ele ama café).
"Quando eu fico sabendo, às vezes me dá medo.. Sei lá, de não acordar ou de não ser um sonho mesmo." respondeu o garoto, sentindo um calafrio correr pelas suas costas. Foi então que resolveu não falar mais nada.
Alex ainda insistiu com algumas perguntas e comentários, mas Caleb já tinha decidido consigo mesmo: ele não ia mais conversar e ponto final.
Logo o celular de Caleb despertou. Já eram seis da tarde e o tempo tinha voado. Foi uma das sessões mais rápidas que o menino já tinha ido. Então, mal se despediu de Alex e já saiu voando do consultório. Apertou várias vezes o botão do elevador enquanto falava que qualquer dia ele voltaria e partiu. Hoje era o dia da reunião...
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Veraz Devaneio
Fantasy"Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino" -Marguerite Yourcenar