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Olá! Juro que tentei não cumprimentar o caderno.Hoje foi tenso, corri de uma horda de humanos. Me senti orgulhosa ao ouvir um deles dizer "essa peste corre mais do que eu", achei bem-feito pra ele.Nunca me pegarão viva!E espero que nunca peguem depois de morta. Os ataques têm se tornado cada vez mais constantes. Às vezes aparecem do nada atirando, às vezes eu os avisto antes de chegarem e consigo trancar alguns zumbís em depósitos. Eu faço gestos pra eles, insinuando armas, e eles entendem que falo sobre humanos. Faço gestos para eles me seguirem e eles me seguem. Confiam em mim, isso é bom. Morrem de medo dos humanos (eu também), nunca vi um zumbí atacar ninguém. Só chegar perto.O problema é que os zumbís são muitos. Não dá pra esconder todos e nem mandar correrem. Alguns nem andam. Havia um zumbí que tinha uma perna só, eu o chamava de Pilinho, ele vivia se arrastando usando os braços desgastados para aguentar o peso do próprio corpo (que nem era tanto). Certa vez achei um carrinho de madeira, era uma tábua grande com rodas, coloquei Pilinho em cima e o empurrei rua abaixo. Ele fez "uooooooo" de tão feliz. Sim, eu dou nome a alguns zumbís que vejo com mais frequência. Tem o Jaiminho, que usa roupa de carteiro. Sempre pergunto se tem carta pra mim e ele balança a cabeça dizendo que não. Tem a Dona Gertrudes, que é uma senhora bem simpática deficiente de um braço; o Ignóbio, que vive se esfregando em paredes; e a Jiliminha, que vive pondo lixo na boca e vomitando por aí. Ah, tem também o Zumbí do Não. Ele anda sempre balançando a cabeça pra esquerda e pra direita, sem parar. Não sei como ele consegue.Eu havia dado nomes a mais alguns, porém eles sumiram e outros morreram. Saudades do Seu Girimba, que parecia um bêbado.Às vezes eu fico me perguntando o que mantém os zumbís vivos. Se eu não como, como consigo ficar em pé? Como um zumbí consegue respirar sem pulmão? Se for uma bactéria deve ser muito poderosa. Deve ser por medo de não se contaminar que os humanos têm aversão aos zumbís. O QUE NÃO É MOTIVO PRA SAIR ATIRANDO EM QUALQUER UM QUE VÊ PELA FRENTE! É só não chegar perto, ora!O ataque de hoje ocorreu quando eu estava realizando um lindo trabalho de pintura corporal num amiguinho que chamei de Tum. Enchi Tum de flores, faltavam só algumas para acabar quando ouvi os tiros. Corri para tentar salvar alguns zumbís, mas já estava cheio de humanos na rua. Tum conseguia até correr, mas correu pro lado contrário e morreu. Um cara falou "quem é que pinta esses zumbís"?Respondi que fui eu, mas ele mirou a arma. Foi daí que eu corri mais do que ele....Houve outro ataque agora há pouco. Corri e vim para outra parte da cidade. Aqui só tem casas. Ainda estou procurando onde tem tintas ou sprays. Não vi nenhum humano nessa área por enquanto. Não sei de onde eles vêm, nem onde se alojam. Já pensei em descobrir, mas seria arriscado segui-los ou chegar perto do lugar. Pensei também em evitar ficar na rua, mas não posso abandonar meus irmãos zumbís. Eles podem não entender o que eu faço por eles, mas eu entendo, e é por isso que eu ajudo....Passei o resto do dia explorando umas casas. Queria achar algo pra ler, mas, pelo visto, quem morava nesse bairro só lia propagandas. A não ser que os humanos também tenham levado. Mas duvido muito. Se gostassem de ler não teriam tempo pra matar. Tenho tanta raiva. Mas voltemos às casas.Eu não achei nenhuma tinta, mas tinha várias pequenas estátuas em uma das casas. Só tinha sobrado isso, a casa estava totalmente saqueada. Algumas estátuas tinham chifres, outras eram vermelhas, haviam mulheres seminuas e com vestidos longos. Também tinha estátuas de senhores usando terno e chapéu. E já ia me esquecendo dos pratos. Grandes pratos de barro com tridentes de metal dentro. Alguns tinham um pó amarelo que não sei o nome. E também cera derretida, disso eu lembro o nome.Agora tá muito escuro lá fora, preciso monitorar a rua com meu porrete de madeira nunca usado em alguém. Um dia bato em algum humano. Alguns saem à noite pra caçar zumbís. E SÓ POR DIVERSÃO. Eu fico indignada!Bem, o dever me chama.Afinal, pra ajudar alguém nem precisa ser chamado. Basta se pôr no lugar de quem precisa.

Ps.: Ah! Não me despedi dessa vez!

Ziggy StardustOnde histórias criam vida. Descubra agora