Parte 4 (final)

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Miguel deixou Morgana na sala de estar e voltou ao trabalho no carro do senhor Gonçalves.

Morgana sozinha dentro daquela casa cheia de recordações, olhava para todos os lados com seus olhos castanhos arregalados. Toda vez que via uma foto pendurada na parede ou decorando a estante sorria, sorria pela nostalgia, pela saudade e porque através daquelas fotos tinha certeza de que seus pais não tinham ressentimentos por ela nunca mais ter ligado para dizer um simples oi.

Não demorou muito e Morgana, distraída pela foto de sua família na mesinha ao lado da poltrona, ouve um grito estridente que ela conhecia bem. Ela olha em direção a porta dando de cara com sua mãe chorando de alegria pela presença da filha que não dava notícias há anos.

Morg levanta-se do sofá e olhando para sua mãe sorri.

- Oi mamãe.

Não precisou ser dita mais nenhuma palavra para que sua mãe corresse ao seu encontro e lhe desse aquele abraço saudoso e acolhedor, aquele abraço de mãe.

Morgana enterra seu rosto nos cabelos de sua mãe e sente aquele cheiro de baunilha que a Dona Sônia sempre teve. Ali no meio da sala em que cresceu, abraçada a sua mãe, Morgana se permite chorar pela primeira vez desde a descoberta do câncer. Em meio ao choro das duas Morgana pôde ouvir uma voz masculina conhecida.

Morg levanta a cabeça e o vê, os olhos castanhos dele  fixados nela e na esposa abraçadas no centro da sala.

- É você mesmo?

A pergunta inocente e incrédula do Seu Rubens fez Morgana rir.

-Sim papai.

Paralisado na porta ele sorri de uma forma que ele não sorria desde que sua princesinha fora embora montada em uma moto com o Lucas.

- Eu voltei - Morgana diz mais para ela do que para ele.

Seu pai caminha lentamente até ela, Rubens chega na filha e toca seu rosto com delicadeza, como que se tocasse de maneira brusca ela fosse sumir, quando se dá conta de que é real ele a puxa para um abraço apertado de saudade.

[...]

Morgana não conseguiu contar o motivo pelo qual tinha retornado para casa, dizendo à eles que voltou porque estava de férias e passaria seis meses com eles. Claro que seus pais ficaram felizes pela volta de sua princesinha e não duvidaram dela. Eles também perguntaram de Lucas e ela mentiu novamente, seus pais adoravam o ex-noivo ela não seria capaz de dizer a verdade, não ainda. Agora ela precisava do carinho deles, ela diria a verdade, mas por enquanto preferia assim. Não sabia qual seria a reação de seus pais ao descobrirem sobre sua leucemia e só de imaginar doía seu coração. É melhor não dizer a verdade por enquanto, pensou.

- Não consegue dormir?

Miguel chega na sala onde Morg está sentada.

- Mais ou menos - ela responde. - Você também pelo jeito.

- Eu estava terminando umas coisas que tinha para fazer. Amanhã é minha folga, ia dormir agora - diz andando em direção a estante.

- Ia?

- Bom, você está no meu quarto - ele diz rindo.

- Desculpa eu não sabia - ela diz levantando-se.

- Tudo bem.

- Bom, eu vou subir. Boa noite Miguel.

- Boa noite Morgana.

Ela anda em direção às escadas e sobe devagar, a doença parece avançar a cada segundo e Morgana se sente indisposta. De repente o mundo em sua volta começa girar e seu estômago embrulha, o jantar está na garganta e ele é mais rápido em sair do que ela em segurá-lo. O degrau a sua frente está coberto por vômito e sua cabeça começa a latejar, de repente, ela cai sobre algo macio. A última coisa que vê são os olhos dele, aquele infinito verde.

Seis MesesOnde histórias criam vida. Descubra agora