- Morg não faz isso - Lucas implorava para a noiva que arrumava as malas.
- Eu preciso viver - era a única coisa que Morgana falava.
- Você vai viver aqui do meu lado fazendo o tratamento - Lucas diz pegando na mão dela e olhando em seus olhos castanhos.
- Lucas você já se despediu de um grande amor? Eu te amo, mas não dá mais - aquela frase foi como uma facada na boca do estômago dele. - Lucas, querido, por alguma razão não faz mais sentidos estarmos juntos. Eu quero "x" enquanto você quer "y". Nós estamos em caminhos diferentes, em pontos da vida diferentes. De alguma forma isso nos afastou. Eu te amo Lucas, mas eu tenho que me despedir de você, vai ser melhor para nós dois, está na hora de eu dizer adeus para o meu amor, você.
Dizendo isso Morgana foi embora sem olhar para trás. Ela sabia que se olhasse não conseguiria ir.
No fundo do seu coração desejou que ele não a odiasse.
[...]
Fazia tempo que ela não pilotava uma moto, a sua moto estava guardada há anos na garagem, mas ela decidiu que a partir daquele dia só iria para os lugares de moto. A adrenalina era incrível, seu coração acelerado, o sangue quente, a respiração ofegante e o espírito livre.
A estrada ainda parecia com o que ela lembrava-se, deserta, asfalto esburacado, árvores cercando e as vezes um posto de gasolina ou um restaurante de comida gordurosa. Foi em um desses restaurantes que ela parou para comer.
Morg não estava longe de sua cidade natal, mas a fome fazia seu estômago se contorcer causando uma dor insuportável, ela parecia mais frágil, ela estava frágil.
A garçonete gorda entregou-lhe o cardápio. Morgana lê todas as alternativas, nada saudáveis, do cardápio e se decide por comer um hambúrguer com suco de laranja, no estado que sua saúde está não é bom embarcar em muita gordura, afinal, ela precisava dos seis meses de vida para recuperar o tempo perdido.
Não demorou muito e duas fatias de pão recheadas com carne pingando gordura, alface e uma fatia de queijo estavam sendo devorados por Morgana que a muito tempo não comia algo assim e agora lembrava-se daquele gorduroso prazer da vida. Talvez eu não vá ser tão saudável assim nesses últimos meses que me restam, pensou.
[...]
O sol já estava se pondo quando Morgana avistou a placa anunciado a entrada da pequena cidade, seu coração acelerou e no mesmo ritmo ela acelerou a moto ansiosa por voltar ao lar.
A cidade estava exatamente igual, como se o tempo tivesse congelado. As casas em estilo colonial, as ruas não sofreram mudanças, a praça no centro da cidade havia ganhado um parquinho novo, mas incrivelmente semelhante ao antigo e a igreja tinha sido pintada recentemente. Cheia de nostalgia Morgana dobra a esquina e ao passar três casas finalmente chega na de seus pais.
A casa branca de porta vermelha assim como o resto da cidade continuava semelhante, Morg desce da moto e entra abrindo o pequeno portão de madeira, que sempre ficava aberto - em uma cidade pequena como aquela não precisava se preocupar com segurança - ela entra e anda pelo quintal sentindo o cheiro das flores de sua mãe. Morgana caminha lentamente até a porta de madeira vermelha, da duas batidas e aguarda ansiosa para que a atendam.
- Posso ajudar?
Era a voz de um homem, mas não era a de seu pai e também não vinha do outro lado da porta e sim do quintal atrás dela.
Morgana se vira e dá de cara com um homem que devia ter sua idade, alto, cabelo negro e comprido preso em um rabo de cavalo e incríveis olhos verde que davam um lindo contraste com a cor morena de sua pele.
- Os Gonçalves ainda moram aqui?
Morgana pergunta.
- Sim. Mas não estão no momento.
- Eles demoram?
- Não muito. Quem é você?
A voz grossa com que o homem pergunta quem ela é faz, por alguma razão, suas pernas tremerem.
- Morgana - sua voz sai baixa.
- Você voltou? Seus pais vão ficar tão felizes - um lindo e branco sorriso surge em seu rosto e ele anda em direção a Morgana. - Entre e espere por eles na sala. Vai ser uma grande surpresa.
- Obrigada. Mas quem é você?
- Desculpe esqueci de me apresentar. Miguel, ao seu dispor.
***

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Seis Meses
Short StoryMorgana é uma mulher de vinte e oito anos, realizada profissionalmente sendo a vice-presidente de uma das maiores empresas publicitárias de Minas Gerais, mas com a descoberta de uma doença Morg percebe que há muito tempo deixou de viver. O que Morg...