Meus olhos se abriam, eu podia ouvir e ver o que estava ao meu redor. Sons de máquinas ligadas, cheiro de éter, eu estava no hospital novamente por conta de tentativa de suicídio, sim, aquela não era a primeira vez.
Minha família é uma família desestruturada, meu pai bebe e fuma, minha mãe é evangélica e eu tenho uma irmã de 23 anos que se prostitui pra sobreviver.
Meu pai chega bêbado em casa bate em mim, e em minha mãe, ela aceitou a Jesus quando eu tentei suicídio pela segunda vez, ela não sabia mais o que fazer, então foi pra igreja. Minha irmã, a Jheniffer, queria se formar em psicologia, mas a vida não é boa com todo mundo, depois de tanta luta e tanto choro, ele desistiu e passou a se prostituir, ela chora antes de dormir, porquê não gosta do que faz, mas precisa. Minha mãe trabalha como empregada doméstica e costureira, quando pode, meu pai é desempregado, e eu tento encontrar motivos para trabalhar.
Eu sabia que quando chegasse em casa novamente, iria apanhar de meu pai por ter tentado suicídio, ele diz que é falta de surra, um baita ignorante.
Eu acordei e continuei ali até que alguém viesse, passou alguns minutos o Jordan entrou na sala.
A vida do Jordan não é também muito boa, ele tem depressão mas toma remédios, ele fuma drogas, e sabe que pode morrer, talvez faça isso propositalmente, ele é homosexual e sofre em casa e no colégio por conta disso. Os pais dele , expulsaram ele de casa, e agora ele mora na casa da avó, que não aceita o homosexualismo, mas ama seu neto.
-Aurora caramba, que susto que cê deu na gente, por quê fez isso? -perguntou o Jordan enquanto me abraçava.
-Desculpa, eu só to cansada disso tudo Jordan, não aguento mais. -respondi tentando segurar o choro.
-Aurora, eu também não aguento mais, mas to lutando, uma hora isso acaba. E tudo se resolve.
-Desculpa. -respondi olhando pra o Jordan enquanto ele estava de cabeça baixa chorando.
-Você é muito importante pra mim.
-EI!! Para de chorar, eu to bem, não vou fazer mais isso. Mas me diz, to aqui há quanto tempo?
- Há três dias, você perdeu sangue demais, acordou algumas vezes mas estava fora de si, e voltava a dormir. AINDA bem que a Cibelly viu você, caso contrário, estaria no teu túmulo agora.
-Para de drama Jordan, eu não iria morrer eu não sirvo..
Fui interrompida quando vi a garota de cabelo azul entrando na sala.
-Oi Jordan! Bom dia. AURORA, você acordou, graças à Deus, que bom que está viva. -disse a menina enquanto me abraçava.
-Sim... - respondi meio sem graça -qual seu nome moça?
-Cibelly Loristten. Lembra de mim né?
-Sim, eu lembro.
-Bom, preciso conversar contigo.
-Ta bom...
-Jordan, cê pode ir lá pra fora, apenas por 5 minutinhos.
-Ok. -disse o Jordan se retirando
-Aurora, eu sei que é difícil passar por tudo isso, mas o suicídio não é e nunca será a saída. -ela segurou minha mão com uma força boa, que me trouxe paz.
-Eu sei Cibelly, mas eu tô tão fraca, tão mal, e não tenho apoio. Minha família ta destruída, o que acontece lá só eu vejo, se minha mãe morrer, eu perco tudo, ela é a única que cuida de mim, apesar de ser ignorante as vezes, é a única que tenho por mim. Ela e minha irmã.
-Sei o que cê passa, e que é difícil, mas vai acabar, e não será com o suicídio.
No momento em que ela disse aquilo tudo, eu comecei a chorar, chorei minhas dores, ela me abraçou e disse que ficaria tudo bem, a dor que eu sentia estava presa, e ela não sairia com minhas lágrimas. Cibelly chamou o Jordan, ele me abraçou e me fez carinho, no momento em que chorava, meu pai entrou na sala.
-AURORA, vamos pra casa, levante-se e vamos, sua mãe está ocupada.
-Não, eu não vou Luiz. -eu me recusava a chamar ele de pai.
-Você não tem querer, levante-se logo! Não tenho tenho tempo pra perder com garota mimada. - disse enquanto puxava meu braço com força.
Uma enfermeira entrou no quarto, a Cibelly tinha ido chamar.
-Senhor, sua filha não esta de alta. O senhor não pode levá-la.
-EU sou o pai dela!
-VOCÊ NÃO É MEU PAI!
Eu levantei, e saí da cama, fui pra janela do quarto, estava no 10° andar, e disse que iria me jogar dali, minhas lágrimas caiam sem parar, o Jordan estava muito mal, por mim e por ele, a Cibelly estava ali pedindo pra mim não fazer aquilo, e meu pai, dizia pra mim se matar, e que seria melhor pra ele. A Cibelly conseguiu chegar perto de mim, ele disse que eu não voltaria pra casa, ela me pegou e em questão de segundos, a sala estava cheia de enfermeiros, senti uma picada no meu braço, apaguei.
Quando acordei estava na cama, a Cibelly estava do meu lado. Estava tudo calmo.
-Cibelly? O que houve?
-Meu anjo, você acordou, que bom. Seu pai veio lhe buscar e você tentou se matar. Foi horrível, não faz mais isso.
Balancei a cabeça em sinal de afirmação.
-Aurora, eu preciso ir agora. Minha mãe sabe que to aqui, mas ta me esperando.
-NÃO! -disse eu desesperada enquanto segurei a mão dela. -fica Cibelly, por favor.
Ela me olhou e deixou algumas lágrimas cair, vi que estava cansada, mas ela ficou, beijou minha testa, e sentou do meu lado, ficou conversando comigo, e do nada, não ouvi mais nada, peguei no sono...
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Meu último Outono
Short StoryApenas o amor e a compreensão são capazes de mudar uma vida.