Cena 06

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Padre: Ora quanta honra, uma pessoa como o senhor na Igreja; a quanto tempo esses pés não cruzam os umbrais da casa de Deus?

A.M: É melhor o senhor dizer que a muito tempo eu não venho à missa.

Padre: A sim sei de suas ocupações de sua saúde.

A.M: Você sabe muito bem que eu não trabalho e a minha saúde é perfeita.

Padre: Sim, sim... O que te trouxe aqui? Não me diga eu já sei, a bichinha está doente.

A.M: É, já sabia?

Padre: Já, aqui as coisas se espalham num instante não sabe?! Já está fedendo?

A.M: Fedendo? Quem?!

Padre: A bichinha.

A.M: Não, mas o que é que o senhor quer dizer?

Padre: Nada não, é apenas um modo de falar.

A.M: Pois o senhor anda com um modo de falar muito esquisito!

Padre: Qual é a doença Major, rabugem?

A.M: Rabugem?

Padre: Sim, já vi uma morrer disso em poucas horas, começou pelo rabo, e espalhou-se pelo corpo inteiro.

A.M: Pelo rabo?!

Padre: Ai me desculpe, eu devia ter dito pela cauda, devemos respeito aos enfermos, mesmo sendo da mais baixa qualidade.

A.M: Baixa qualidade?! Padre!!! Veja bem com quem está falando, a igreja é coisa séria como garantia da sociedade. Mas tudo tem um limite!!!

Padre: Mas o que foi que eu disse?!

A.M: Baixa qualidade... Fique sabendo que meu nome todo é Antônio Noronha de Britto Moraes, e esse Noronha de Britto veio do Conde dos Arcos, ouviu? Gente que veio nas caravelas, ouviu?!

Padre: Sem dúvida! Na certa os antepassados da bichinha também vieram nas caravelas, não é isso?

A.M: É claro! Se os meus antepassados vieram, os dela vieram também! O que o senhor tá querendo insinuar, que por acaso a mãe dela...?

Padre: Uma cachorra...

A.M: O quê...?!

Padre: Uma cachorra...

A.M: Repita!

Padre: Eu vejo mal nenhum em repetir, mas ela não é mesmo uma cachorra?

A.M: Padre, eu só não lhe mato porque o senhor é padre e está louco!

[ROTEIRO] O Auto da CompadecidaOnde histórias criam vida. Descubra agora