“Era um som baixo, surdo, rápido, como o de um relógio envolvido em algodão.”
— Coração denunciador,
de Edgar Allan Poe.🍁🍁🍁
OS RUMORES já eram transmitidos pelos moradores do pequeno bairro da imensa São Paulo. A cidade inteira, embora tenha um alto índice de assassinatos diários, estava embargada por aquele caso incomum.
Já era a décima segunda vez que a perícia recebia um caso do bairro Conseler*¹. A faixa de um amarelo reluzente cercava a bela casa da família Dantes, uma das famílias mais reverenciadas em toda São Paulo.
O desaparecimento de Nathaniel Dantes deixou todos da vizinhança agitados. Aliás, aquele já era o décimo segundo caso de um assassinato naquele bairro no prazo de uma semana. Todos se perguntavam:
Quem seria a próxima vítima?
Ninguém se importava realmente com o sangue do jovem Nathaniel, que já secava na calçada, ou até mesmo com o próprio assassino. Os moradores de Conseler estavam preocupados com as suas próprias vidas. Nem mesmo faziam questão de perguntar como estava a jovem mãe de Nathaniel, que naquele instante, se debulhava em lágrimas, observando a espessa possa do líquido escarlate de seu filho, e levando em conta o seu desaparecimento.
Mas naquela tarde de véspera de dia das bruxas, uma garota dos cabelos negros e espessos, observava cada passo da perícia com seus famosos olhos de águia. Contemplava aquela visão da janela de seu quarto, bebericando aos poucos, o chá gelado que acabara de preparar.
A sua casa era ao lado da residência dos Dantes, e deve ser mencionado que, o jovem desaparecido, era ex-namorado e vizinho da garota, o que colocava a moça na primeira linha de sucessão como suspeita/vítima, aliás, as últimas doze casas do bairro foram assoladas com o desaparecimento de um membro da família. E a única evidência em cada caso era uma possa de sangue deixada pelo assassino/sequestrador.
Jéssica não parecia estar assustada ou amedrontada por estar inclusa na lista de possíveis vítimas. Na verdade, a garota estava entusiasmada por estar presente no caso. Mas ela sabia que corria riscos; como morava sozinha na casa que sua avó havia lhe deixado como herança, todos pensavam que a jovem e bela Jess não conseguiria se defender sozinha, eles pensavam.
Aquele trinta de outubro exalava insegurança e pleno terror para a vizinhança, mas aqueles acontecimentos só deixavam a jovem cada vez mais esperançosa de sair um pouco da rotina.
O dia das bruxas não é muito comemorado no Brasil, embora Jess amasse aquela parte sombria do ano. Raramente as pessoas confeccionavam as suas lanternas de abóbora e as deixava para fora de suas casas, como uma pequena comemoração; e no bairro Conseler não era diferente, nunca foi tradição enfeitar as casas para comemorar tal data. Mas aquele ano seria diferente.
Finalmente Jess sentia que aquele halloween seria distinto de todos os outros em seu país, especificamente em Conseler.
A garota arrumou o seu vestido florido, amarrou seus cabelos majestosos em um coque, debruçou a sua xícara de chá na bancada da cozinha e foi atender ao chamado da campainha.
Lá estava um homem alto, com cabelos grisalhos e vestindo o uniforme da perícia.
Eles chegaram. — A garota revirou os olhos, deixando o homem entrar.
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A Última Folha de Outono [✓]
Kurzgeschichten"Os verdadeiros monstros são humanos" Em meio a corpos ocultos e lacunas nas mentes engenhosas da perícia, um psicopata atua sem compaixão até alcançar a sua possível décima terceira vítima, Jéssica Álvarez, uma jovem com uma certa obsessão pelo lad...