Parte 02

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    A roupa de secretária me deixa com um certo desconforto, essa saia cinza aperta, e essa camisa social me deixa feia e sem seios. Sem contar a tiara que obriga a mostrar minha enorme testa, e um rabo de cavalo no meu cabelo preto me deixa mais velha.

- Lara, não esqueça que hoje iremos para casa juntos. Disse Jeferson mostrando total interesse em mim.

- Só nos seus sonhos, panaca! Dei dedo para ele disfarçadamente, mas me arrependi quando vi quem entrara pela porta da recepção, era o Sr. Gronm. Ele estava com uma aparência horrível, Quem diria que o dono de uma empresa como essa estaria em tal situação.

- Veja quem está alí Lara, é o nosso chefe. Parece que caiu na depressão outra vez não é mesmo? Disse Jeferson.

- Quem não ficaria? Não faz nem um ano que ele perdeu toda a família em um acidente de carro, pai, mãe, filho, mulher, e ainda o cachorro. Será que está tomando seus remédios? ? Perguntei .

- Sim, outro dia vi que tomara dois daqueles vermelhinhos que o deixa sonolento. Só espero que não precise se internar novamente como há um mês.

O sr. Gronm estava olhando para todos os lados, como se sentisse medo do próprio reflexo que projetavam se nos vidros da sala principal. Com muita dificuldade ele abriu a porta de sua sala, entrou e então a fechou.

-Levarei uma xícara de chá para ele daqui uns minutos. Disse para Jeferson enquanto ele voltava para sua mesa.

*

Minha sala não era segura, algo dizia que eu estava em perigo. Mas, Por que eu me sinto tão preso a esse mundo? Por que insisto em querer voar como naqueles sonhos que tenho? Onde sou um pássaro, que corta o ar e celebra a liberdade?

Peguei um copo com água do filtro próximo a porta, puxei a gaveta e peguei meus remédios, sentei e os tomei. Um alívio de tomar e me sentir mais calmo era insubstituível, porém, não sentia mais nenhum efeito, queria me sentir seguro, então me joguei para debaixo da mesa, e comecei a roer minhas unhas. Queria parar mas não consegui, e sem sentir nenhuma dor, comecei a tirar sangue dos meus dedos com os dentes. Um vulto abriu a porta, e então percebi que era Lara, a secretária, eu estava consciente, mas não conseguia parar de chorar e roer os dedos ensanguentados. A mulher correu e tentou tirar os dedos de minha boca, mas foi inútil, sem querer bati a mão com força no rosto dela, me arrependendo chorei mais ainda. Lara se levantou e ligou para alguém do celular em que estava em sem bolso, poucos minutos se passaram e me arrastaram novamente da minha sala, assim como um mês atrás.

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