Despertar

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Pisquei.

Por uns segundos meus olhos só viram estrelas. Minhas costas doeram sentindo o impacto contra a árvore, mas tudo começou a se recuperar rápido.

O toque doce e frio de flocos de neve chegaram ao meu rosto. "Neve? No meio do verão de salvador?" Pensei. Tinha alguma merda acontecendo.

Me levantei sentindo cada vez mais o toque frio na pele nua. Quase esqueci que estava no meio da minha batalha pela sobrevivência.

O espírito encarnado flexionou os joelhos e saltou na minha direção. A pequena cobertura de neve no chão ao seu redor flutuou por alguns centímetros antes de ser pressionado no chão novamente devido ao impulso do salto.

O pouco treino que tive com João e minhas experiências e quase morte, me ajudaram a perceber o sutil, porém poderoso, movimento de salto. Minha distração, por outro lado, me impediu de me preparar corretamente.

Tive apenas tempo de juntar os braços em frente do rosto e tentar criar um escudo fraco de energia antes do espírito me acertar em cheio e me lançar novamente para a frente.

O escudo não foi suficiente para absorver o impacto, mas me deu mais estabilidade.

Meus pés se firmaram no chão enquanto era empurrado para frente. A áurea vermelha e quente dos espíritos serventes a Seth, deixava o ar sufocante. Busquei mais forças dentro de mim enquanto tentava bloquear o espírito. Lentamente fui reduzindo a força dele até o momento em que estávamos no mesmo nível de poder, mas segundo joão, eu sou a reencarnação de Yang, o espírito positivo, e todos as coisas vivas na terra tem seus lados positivos e negativos. Minha força vem de todos os lados positivos dos seres vivos. Meu poder deveria ser enorme.

Gritei expelindo todo ar nos meus pulmões, absorvendo a energia espiritual do universo que existe em todos os lugares. Senti meu cérebro super ativo e as coisas em descontrole e desequilibradas ao redor começarem a se reequilibrar, mas aquilo não duraria. Minhas feridas começaram a se curar rapidamente. Exceto o pedaço de graveto peso nas carnes da minha coxa.

O espírito percebeu a mudança de áurea.

Seus olhos se arregalaram e a sua própria áurea diminuiu.

Abri os meus braços e a energia contida em mim vazou de meu corpo deixando a noite do parque se clarear. Faíscas tilintaram ao nosso redor enquanto o espírito se virava e tentava fugir.

-Ah,não! Sua vez de sofrer um pouco.

Juntei os braços ao redor do parque como se abraçasse minha cintura. O poder ao redor que antes estava em mim e que agora se espalhava fluindo pelo parque, iluminando a noite, se voltou para mim em uma velocidade absurda.

A força da absorção de energia incluiu todos os seres vivos na minha direção. As árvores se contorceram e pequenas plantas murcharam instantaneamente. Pequenos vaga-lumes caíram ao chão com sua luz piscando e falhando. Um vento arrastou a poeira e a neve para mim e até mesmo o espírito encarnado de Seth foi arrastado em minha direção.

Comecei a chegar no meu limite. Minha fúria contra aquele espírito inferior estava no auge.

Liberei toda a energia contida em mim de uma forma instantânea. Uma explosão de energia branca refletiu no parque. A neve secou no chão e as árvores envergaram para longe de mim.

O espírito recebeu a explosão em cheio. Sua pelo começou a rachar e o excesso de energia escapou pelas rachaduras até ele também explodir em faíscas.

Durante segundos um brilho branco ofuscou todos as luzes da cidade e depois evaporou. Caí no chão extremamente cansado. As luzes ao redor estavam queimados e não havia mais neve no chão.

Uma chuva fininha começou a cair. Percebi que a explosão de energia tinha vaporizado os cristais de gelo no ar.

Me obriguei levantar e caminhar pra longe dali.Estiquei completamente o corpo e tentei dar o primeiro passo, mas a perna fraquejou. Uma dor lancinante subiu pela minha coxa até o cérebro. Meus olhos escureceram e eu caí novamente. O graveto enfiado em minha perna ainda estava lá.

Sentei respirando fundo. Não era a primeira vez que iria arrancar algo do meu corpo, mas lembrava exatamente a sensação. Segurei firme. Respirei fundo e arranquei.

A dor confundiu meus sentidos. Quando meu cérebro voltou ao normal me vi no chão com a boca babando. Uma pequena poça de sangue estava perto do local onde antes estivera o graveto. Agora, não escorria mais sangue da ferida. Estava se curando rapidamente.

Ter tanto seres vivos positivos ao redor ajuda de vez em quando.

ouvi o movimento de folhas se mexendo e me arrastei para longe. Minha perna melhorou logo então pude levantar.

Continuei mancando na neve que começou a desaparecer pelas ruas da cidade. Me afastando cada vez mais do parque e indo na direção do único lugar seguro que eu conhecia.

O abrigo para mendigos Apoullus.

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