First Wave

He called me "First Wave"

O nome dela era Hebe. Pelo menos é o que me dizem.

Andava sempre com um caderno e uma caneta atrás. Não tinha medo de nada e todos concordavam que a sua personalidade roçava o arrogante. Era inteligente, sarcástica e tinha mais ideias para salvar o mundo do que tinha em sensatez.

Todos os que falavam nela o faziam com uma irratação indesfarçável e, contudo, com tanto amor que era impossível não perceber o quanto a estimavam.

Fui obviamente uma desilusão quando apareci. Ambas possuíamos os mesmo olhos avelãs constantemente surpresos, os mesmos narizes altos e lábios pequenos e carnudos. Os nossos cabelos eram do mesmo tom castanho apenas diferenciados pelo corte. Tinhamos o mesmo porte alto e curvilineo, a mesma passada determinada e, no entanto, nenhum olho treinado nos confundiria. Hebe e eu não podíamos ser mais diferentes.

No meu mundo era uma estudante universitária, com uma obceção por livros, chá, gatos e música rock. Trabalhava à noite para juntar dinheiro para estudar no estrangeiro e a minha maior alegria era chegar a casa, acender uma vela e atirar-me para o sofá a ver uma série como a mais comum dos mortais. O meu nome era Gaia.

Neste mundo sou Heba, uma fugida, não só à polícia mas também ao meu país e a minha própria família. Passo a vida a mudar de casa, com um grupo de fiéis seguidores atrás e a tentar conseguir concretizar o meu objetivo de vida. Ora, aí é que está o problema. Não faço ideia de qual será esse objetivo. Porque eu não sou Heba, eu apenas vim com a primeira onda.

Devem estar a perceber tudo, claro. Pelo canto do olho consigo ver Eos a limpar o seu conjunto de facas brilhantemente assustador e Hélio a cantarolar qualquer coisa enquanto cozinha. Estão ambos concentrados nos seus próprios assuntos, para variar. Acho que este é um bom momento para vos contar como cheguei aqui.