A MÃE DO ANO

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  Eu sou a mãe do ano, aquele ser amoroso que nunca grita e que faz bolinhossem glúten para as crianças levarem de lanche para a escola. Está bem,tudo isso é mentira.Com onze anos de experiência, não tenho vergonha de admitirpequenos delitos na maternidade. Descobri nas pracinhas, grupos demães na internet, reuniões de escola e aniversários infantis que a mãe quenunca se descabela quando o filho ameaça atravessar a rua sozinho éuma lenda, uma mentira bem contada. Tão real quanto a ChapeuzinhoVermelho ou a Bruxa Malvada.Uma das minhas falhas é deixar minhas filhas pularem o banhoquando está frio demais. Sem exceder o equivalente a um feriadoprolongado, é claro. "Antes suja do que resfriada", postulava minha avóde origem italiana. Note que naquela época nem existiam os lençosumedecidos.Não separo as brigas, às vezes, para deixá-las se resolveremsozinhas. Ajudo a guardar os brinquedos com muita frequência porqueodeio bagunça e vivo com pressa. Eu sei que o certo é ensiná-las aarrumar as suas coisas e ser dura com isso. Mas, na prática, quaseninguém consegue bancar a professora de vida 24 horas por dia.Raramente vou aos aniversários de coleguinhas porque tenhopreguiça e não gosto das músicas de festas infantis. Também não façomuitos eventos porque, acabada a festa, não consigo guardar direito ospresentes no caótico armário das minhas filhas. À medida que as criançascrescem, os guarda-roupas vão encolhendo, sabia?E, por último, não gosto muito de brincar. Tenho dificuldade emjogar jogos e servir chá para as bonecas no chão da sala. Quando ajudona lição de casa, sempre quero ir além e, sem perceber, já introduzologaritmos quando era só pra extrair umas raízes quadradas.Resumindo, sou chata e um pouco relapsa. Como todas as mãesde verdade, não como aquela impecável e sorridente que aparece noscomerciais tirando os germes do chão e se divertindo horrores com agarotada. Ou seja, sou assim, como você.  

A MAMÃE E ROCKOnde histórias criam vida. Descubra agora