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Naquela manhã, Louis me acordou com uma bandeja repleta de diversas comidas, bebidas, bolinhos e pães. Com o coração quebrado, o beijei e ele sorriu. Eu não comi nem metade do que ele me levou, mas dei grande parte em sua boca. Parei quando ele disse que não aguentaria aquilo tudo de uma só vez. Coloquei o lençol manchado de suco e chá para lavar, e ele sugeriu uma guerra de chantilly.

Eu o deixei ganhar.

Ele não sabe cozinhar, mas insistiu em me fazer algo especial no almoço. O lembrei de tirar o frango do forno, antes que o queimasse outra vez. Ele tirou no tempo certo e a travessa estava quente demais. Ao que ele a jogou com pressa na pia, derrubou o óleo com orégano que ali estava no chão. Louis é desastrado. Comi o frango recheado e o disse que estava muito bom. Eu queria chorar. Talvez porque ele o homem que mais amo não percebesse o abismo em que estávamos, talvez por que seu beijo era o melhor do mundo.

À tarde ele me disse que não iríamos ao trabalho hoje, mesmo que fosse feriado. Disse que não era para eu perguntar como havia convencido o filho de nosso antigo chefe, aquele velho e rabugento, disso. Louis amarrou uma bandana em meus cabelos e rimos. Ele me levou para o parque e caminhamos. Estava cansado de andar, e então apenas sentei no chão e o fiz sentar- se na minha frente. Conversamos um pouco e eu beijei sua cicatriz. Louis com as sobrancelhas franzidas ao descobrir uma cicatriz da qual não se lembrava em sua testa fora a cena mais triste que já vi.

Quando o sol começou a se por, Louis me fez correr. Subimos um pequeno morro e assistimos ao sol escondendo- se, abraçados. Estava frio. O verão havia terminado há mais de cinco meses. Eu não consegui mais ficar ali, e então levei Louis para casa. Ele disse que tinha outros planos comigo, mas eu o fiz sentar. Disse que precisávamos conversar. Naquela noite, ninguém iria dirigir.

Frente a frente, segurei suas duas mãos e sussurrei que o amava. Ele sussurrou que me amava também. Perguntei se ele realmente queria saber sobre a cicatriz e ele assentiu, preocupado. Beijei seus lábios e segurei suas mãos com mais força.

Eu contei para Louis que ele já havia me levado café- da- manhã na cama, que já havíamos feito guerras de chantilly e que ele já havia cozinhado um almoço especial para mim. Eu o contei que na primeira vez que ele me levou ao parque, pudemos ficar mais tempo, pois a brisa veranil nos acariciava com mais delicadeza do que o vento invernal. O contei que ele já havia me levado ao restaurante fino e arrumado, e que o homem do terno risca- de- giz havia nos guiado até nossa reserva. O contei que ele havia me pedido em casamento, e que eu aceitei. Que o pedi para irmos para casa. E que ele havia dirigido rápido demais naquela noite.

Tão rápido que as árvores tornavam- se borrões. Tão rápido que a fumaça de seu cigarro escapava pela janela. Tão rápido que meus cabelos se agitavam ao vento, e a ponta de seu nariz ficara vermelha e gelada; tão gelada que ele me pediu um beijo. Mas, quando o beijei, ele continuou rápido, rápido demais. E todos os seus dias futuros tornaram- se uma rotina.

Ao contar toda a verdade a Louis, ele chorou, me abraçou com força e me pediu desculpas. Eu disse que a culpa não era dele.

Naquela noite, Louis e eu choramos até cair no sono, abraçados.

amnesia / larry stylinson Onde histórias criam vida. Descubra agora