DOMOS VEROS: e a heresia de Lowfields (EM REVISÃO)

Capítulo Segundo

Após a chegada na misteriosa Masons Village, Wallace e o cocheiro se acomodaram no suntuoso, porém, destruído templo da pequena vila. A atmosfera do lugar exerceu o efeito semelhante ao das badalas de um sino, pois fez a mente do seminarista tilintar com um mar de indagações: Qual o real motivo da condenação dessa vila? Quais segredos estão aqui guardados? Por que o passado foi ignorado?

 Com o incessante desejo de escrutinar o mistério ali escondido, o estudante encontrou a brecha necessária para narrar a história do lugarejo, após envolver o velho homem no seu jogo de reflexão. Enquanto a fogueira aquecia os corpos dos viajantes, o clarão da chama enchia de luz os olhos do jovem. Sem ao menos piscar, começou a contar:

- Séculos atrás, alguns pedreiros totalmente tementes a Veros desejaram fazer-lhe uma homenagem. Oras... eram humildes homens. Portanto, haveria meios para eles satisfazerem o desejo do coração? No entanto, começaram a guardar pedras consideradas ruins, que sobravam das construções de templos e castelos dos quais trabalhavam. Andaram por todo o reino de Brodland a procura de terras desinteressantes aos olhos dos grandes. Ao encontra-las, lançaram as bases de um grande edifício. A construção era muito penosa, pois não tinham o material e ferramentas adequadas. Nem todos podiam trabalhar ao mesmo tempo, porque os serviços de fora eram os garantidores do sustento. Por isso, revezavam a labuta. Havia neles a consciência de que não veriam o templo terminado, contudo, seus filhos e netos sim. Quando a notícia da construção se espalhou pelo reino, gerou insatisfação, pois aquilo foi considerado um desrespeito a Veros: "onde já se viu humildes pedreiros se acharem no direito de erguer um templo ao deus por conta própria, sem a permissão da Domos Veros?". Imediatamente, a coroa enviou seus homens para interromper a edificação. Mas aqueles trabalhadores eram realmente tementes e fervorosos em sua fé. Colocaram um propósito no coração e não desistiriam facilmente. Quando os homens do rei chegaram, os alvanéis, ainda com as ferramentas nas mãos, ajoelharam-se e disseram: "não iremos cessar de trabalhar e honrar nosso deus. Para tanto, precisarão nos matar". Ao verem tal ato de fé e devoção, os homens do rei se comoveram e pouparam a vida deles. A história desses trabalhadores correu todo o continente e chegou finalmente em Rosgla, La Ciudad Divina, sede da Domos Veros. Primos, o líder de toda nossa fé, ficou tocado com tamanha piedade daqueles pedreiros. Não julgou ser um abuso da parte deles, mas, ao contrário, uma inspiração para todos os fiéis. Dessa forma, incentivou todos os templos do continente a doarem àqueles trabalhadores. E, enfim, a obra foi concluída. Masons Village atraiu pessoas de todo o canto de Brodland, ansiosas por morar na famosa vila.

O boleeiro, num gesto disfarçado, enxugou algumas lágrimas dos olhos.

- E aqui estamos... – disse o velho homem, que soltou um profundo suspiro.

- Mas volto a insistir na pergunta: não lhe parece estranho?

- Por Veros, rapaz! O que parece tão estranho?! Já estou cansado de você me fazer essa pergunta! - gritou o cocheiro.

- "O que parece tão estranho"? Olhe em volta – mostrou o local com os braços abertos – Masons Village está destruída. E essa destruição foi causada pelas mãos dos homens... e pior, homens da coroa e Domos Veros – Wallace se levantou – agora... por que destruíram exatamente a famosa vila e seu suntuoso templo que serviram de inspiração para todos os fiéis do continente?

Lentamente, ergueu-se o cocheiro com expressão fechada e dentes cerrados.

- Não se comporte feito um idiota, seminarista. Sabe muito bem que Masons Village foi destruída porque se rebelou contra a coroa e Domos Veros. Por isso esse lugar é amaldiçoado.

O estudante caiu na gargalha indisfarçada e irônica.

- Do que está rindo? – perguntou com a respiração num ritmo intenso.