Júlio arranjou um emprego temporário na portaria de um prédio.
— Bem vindo. Este é seu novo canto.
Disse Afrânio, o gerente.
Júlio estava preocupado com o que aconteceria a seus filhos e esposa sozinhos em casa, mas respirou fundo e relaxou.
O interfone tocou. Júlio assustou-se.
— Nome.
Disse enfim, mas não obteve resposta.
— Nome.
Repetiu.
Silêncio.
Abriu a porta, não havia ninguém.
Mas vislumbrou uma senhora, dona da casa em frente ao prédio, sentar-se na cadeira de balanço, olhando os netos brincarem no gramado.
Olhou mais um pouco, e voltou para sua mais nova cadeira de couro rasgada.
Júlio tomou um gole de seu café, e depois de permitir a entrada de nomes importantes no estacionamento do prédio, voltou para casa.
No outro dia, Júlio sentou-se em sua cadeira, bebeu dois goles de café, e esperou o toque do interfone.
Não veio.
Esperou mais um pouco.
Bebeu outro gole do café.
Decidiu abrir a porta e levar consigo a cadeira de couro.
Sentou-se.
Viu Antônio pegar o ônibus.
Viu Dona Tonha pegar um dos netos no colo.
Viu Otávia sentar-se no banco da calçada.
Viu Pedro falar com a namorada.
No fim, o trabalho de Júlio não era ser porteiro.
Era ficar na portaria.
Novembro, 9