Eu tinha aproximadamente 12 anos quando descobri a verdade e não fazia a mínima idéia do que fazer com aquela informação, visto que não poderia contar para minha melhor amiga. Como esconder algo dela se eu sempre lhe contei tudo?
Assim que ouvi a verdade da boca de minha mãe me tranquei em meu quarto tentando assimilar tudo, ela bateu na porta me dizendo que não éramos más, tentando me tranquilizar, eu sabia que não era má, mas muitas daquelas mulheres ali presente, as quais eu nunca havia visto na vida, se tornaram motivo para minhas preocupações, fiquei dias sem sair do quarto, Alana vinha à minha procura e eu tinha medo de encará-la e não saber ou comseguir mentir, minha mãe rapidamente inventou uma causa para meu desaparecimento repentino, segundo ela eu jazia muito doente... Isso deveria tranquilizar Alana? Pelo contrário, isso a deixou mais preocupada do que a hipótese de eu não querer mais vê-la, portanto ela vinha todos os dias à espera de notícias a respeito de minha melhora, isso me deixava feliz, digo, saber o quanto ela se preocupava comigo, mas ao mesmo tempo me entristecia, visto que era uma mentira descarada, mas o que poderia fazer eu?
Depois de duas semanas decidi enfrentá-la, não contei a verdade, mas a tranquilizei com minha simples presença, foi o bastante para ela, nossa amizade permanecia a mesma, Alana não me fez perguntas, tudo o que importava era que eu estivesse bem.
Depois de alguns dias minha mãe vendo meu estado de espírito mais revigorado, veio até mim para conversamos.
- Tenho algo muito sério para te dizer Luara... Espero de coração que você entenda...
A forma como ela me disse, foi como se tentasse acalmar minha alma antes que ela fosse impactada, de imediato me sentei em silêncio esperando que ela dissesse o que de tão sério tinha para falar.
- Na sua idade, uma bruxa inesperiente, fica totalmente vulnerável e você não deve ficar despreparada...
- Sim mãe, eu entendo - concordei com o que dizia, já que em minha mente a parte boa de ser uma bruxa era os poderes.
- Você começa seu treinamento daqui a dois dias - Sorri com a notícia, cedo de mais - vou te mandar para um lugar onde você será muito bem tratada, é por pouco tempo - meu sorriso se desfez de imediato.
- Quanto tempo? - pensei na triste despedida que teria com Alana.
- Só um Semestre, não vai ser muito... E as pessoas que vão te treinar são de inteira confiança...
Eu não poderia contrariar minha mãe, sendo que ela estava certa em seus receios. O mundo é um lugar extremamente perigoso e eu, não conheço mais do que vejo na TV sobre ele, o que vejo nos jornais já me assusta o bastante para que eu nem sequer queira contrariá-la.
Nunca havia me despedido de alguém, como seria a sensação? Como passará o tempo? Vai estar tudo diferente quando eu voltar?
- Você prepara minhas coisas?
- Claro minha filha, não se preocupe, só... Se despeça da sua amiga com cautela, afinal de contas não é para sempre!
Me olhou reconfortantemente, minha mãe sabia o quanto minha amizade importava de fato para mim, assenti e sai de casa caminhando pela trilha que me conduzia até a casa de Alana, memorizava cada detalhe com receio de esquecer o caminho quando voltasse, parecia que eu ficaria uma eternidade sem voltar. Era estranho pensar nos dias seguintes sem que Alana estivesse neles, perdi muito tempo trancada em meu quarto e agora só tenho dois dias.
- Dois dias - disse com tristeza no momento em que cheguei frente à sua casa.
Me aproximei e abri um enorme sorriso ao vê-la treinar com seu tutor. Além de fazer o papel de pai, ele a ensina defesa pessoal e outros estilos de luta, minha amiga aprende rapidamente apesar da dificuldade dos movimentos.
Me aproximei deles anunciando minha presença, ao me notar Alana correu ao meu encontro me surpreendendo com um abraço apertado.
- Calma, desse jeito você vai me sufocar - era muito forte seu aperto, ela não tinha noção do quanto.
- Desculpa - se afastou sem jeito - fico feliz que tenha vindo, até Lion estava com saudade de você - é como Alana chama seu tutor (Lion), segundo ela é um apelido carinhoso para um homem feroz.
- Eu também - seu tutor me cumprimentou com um beijo na bochecha e nos deixou a sós, eu tinha a leve impressão de que ele soubera o real motivo de meu anterior desaparecimento, seria possível?
- O que quer fazer? - disse entusiasmada, seu olhar denunciava que já tinha algo em mente.
- Não sei... Que tal você decidir? - sorri ternamente.
Ela logo deu pulinhos de alegria, gesticulou para que eu a esperasse e se dirigiu para sua casa, minutos depois voltou com uma sacola em mãos e uma roupa diferente. Agora seus longos cachos ao vento pareciam lindas chamas que chicoteavam seu rosto, a luz ressaltava o dorado de seus olhos.
- Vamos no lago! - disse entusiasmada - eu trouxe um biquini para você.
- Não sei se estou a fim de nadar - disse pensativa.
- Não vai me fazer essa desfeita, por favor!
Quando Alana coloca uma idéia na cabeça ou elabora um plano, ela vai até o fim, usar de teimosia com ela não adiantaria de nada, eu acabaria cedendo no fim. Logo aceitei a ideia, fomos até o lago, que não ficava tão longe assim da casa dela.
- Deixa eu ver o que me trouxe - assim que disse vi um pequeno pedaço de pano voar em minha direção - Ei! Não joga - peguei em minhas mãos e não achei tão ruim, fui atrás de uma árvore e coloquei a parte de cima, continuei de shorts mesmo.
Quando retornei Alana já estava nadando, corri e de uma salto cai próxima a ela espirrando água em seu rosto, rimos com a cena. Nos divertimos o restante do dia e também o dia seguinte, foram um dos melhores de minha vida.
Não me lembro de ter dito adeus, talvez eu não tenha mesmo dito, o medo que veio sobre mim foi maior, queria continuar com a lembrança do sorriso de Alana e não de um olhar triste de uma despedida. Minha mãe já havia feito minha mala, eu sairia cedo de casa, não tão cedo, mas cedo o bastante para que minha melhor amiga não viesse me ver.
Veio um carro preto muito bonito me buscar, entrei nele e fiquei a olhar em direção à sua casa, eu não via, mas sabia que estaria lá, foi como se eu sentisse sua proximidade, de longe avistei Alana chegando em minha casa, não deveria ser assim a notícia, "sinto muito amiga" pensei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Temidos - A Rejeição
General FictionSou uma garota simples e que não conhece muito da vida, às vezes sofro por causa disso... Minha melhor amiga é uma Mestiça... Ela finge saber mais da vida do que eu, mas não sabe. Às vezes eu gostaria de contar toda a verdade, mas não sei se seria b...