Efeito

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– Não sei por que, mas nunca mais vi o céu azul ou um dia de sol. Todos os dias são iguais. Sempre nublados. Também, não sei como conheci as pessoas que me cercam, e embora eu não goste delas, não consigo me livrar de suas desagradáveis companhias. Tenho feito coisas das quais fazia com menos freqüência.

– Sempre que estou no quarto escuro e fétido deste hotel, me drogo tanto que acabo por desmaiar, ou dormir. Quando acordo, não lembro se estive em casa, se vi minha mãe... Mas eu nunca a vejo mesmo...

– Hoje pela manhã, algumas garotas e garotos faziam sexo na minha frente. Me olhavam, me chamavam, e riam como loucas. Foi muito estranho. Acho que todos nós estávamos drogados demais, e perdemos a noção da realidade. Às vezes Tenho a impressão que sonho com a minha mãe. Ela está sempre muito confusa. Chora e grita meu nome. Eu fico diante dela. Quero ajudá-la, mas ela não me vê. Não me escuta, e me dá as costas. Como nada posso fazer, volto para o hotel. E tudo se repete. Todos os dias.

...Datava o ano de 1953 – Rio de Janeiro

– Tenho dezenove anos. E meu nome é Cleiner. Depois que meu pai foi embora, nunca mais o vi. Eu deveria ter cinco anos de idade, e mal me lembro de seu rosto. Minha mãe, nunca fez o tipo atenciosa. Quase nunca conversávamos, portanto, éramos quase que dois estranhos na mesma casa. Raramente eu a via, e quando isso acontecia, ela estava sempre com um novo namorado. Não sentia ciúmes, nem raiva. Ela não me despertava nada.

– Todos os meus amigos usavam drogas, e quem parava, imediatamente saía da turma. Vandalismo e sexo indiscriminado faziam parte de nossas maiores glórias. Fui preso diversas vezes por estar portando drogas e armas brancas. Mas nunca permanecia detido por mais de três ou quatro dias.

– Minha mãe pagava a fiança como sempre. Depois me olhava com desprezo, balançava a cabeça negativamente e depois ia embora como de costume. Eu nada falava. Sorria um sorriso de canto de boca, irônico e voltava para a rua, atrás dos meus amigos. Quanto a dinheiro era fácil. Para evita qualquer diálogo, ela depositava uma quantia razoável em minha conta mensalmente. Isso a poupava de maiores aborrecimentos, dispensando assim, termos que ficar frente a frente.



– No meu aniversário de 19 anos, resolvi fazer uma festinha no cemitério. Minha turma estava empolgadíssima. As garotas não eram nada inibidas, e quando já estávamos no auge de nossas alucinações, o inimaginável acontecia. Coisas bizarras e animalescas. Nesse dia, violentei a irmã de uma de nossas colegas. A garota não usava drogas, mas convencida a participar da festa, incentivada pela irmã, bebeu um pouco para se soltar, mas como não estava acostumada, embebedou-se. Assim, não foi difícil arrastá-la para um túmulo distante. Mesmo com medo no olhar, ela cedeu e me acompanhou.

– Foi fácil impedir que ela gritasse. No fundo, eu achava que ela queria aquilo, e pensando assim, usei de força e violência para conte-la. Só quando terminei, vi que ela estava em péssimo estado. Meus amigos arrancaram-na de mim, enquanto sua irmã gritava coisas que eu não conseguia entender e chorava muito. Até meus amigos ficaram assustados. Eu dizia que ela era uma vagabunda e merecia ter passado por aquilo. As garotas cuidaram dela e meus amigos me tiraram dali. Ninguém queria ser preso novamente por vandalismo e porte de drogas.

– A menina foi para casa, levada por sua irmã, que prometeu cuidar dela, mas garantiu que não contaria nada para seus pais. Disse que tudo ficaria bem, mas jurou vingança.

– A garota dormiu. Cansada e por causa da hemorragia interna não acordou mais. Em seguida a irmã enlouqueceu, porque se sentia culpada de toda aquela tragédia. A família foi para a região norte do Rio de Janeiro, e pelo que eu soube a internaram em uma Clínica Psiquiátrica.

Violência Sexual-Minha CondenaçãoWhere stories live. Discover now