Todos os dias que vou ao centro à procura de um emprego; vejo uma senhora entrar no ônibus dois pontos após o meu. Geralmente todos os lugares estão ocupados, então ofereço meu assento à ela e conversamos durante o percurso, sempre ajudo-a a descer. Essa é minha rotina de todos os dias.
Passaram-se dois meses e ainda estou desempregada, quase sem dinheiro algum. Me preocupo quando minha conta estiver totalmente zerada, não sei o que farei quando chegar a esse ponto.
Me assustei quando em um dia chuvoso de segunda-feira não encontrei aquela simpática senhora. Uma coisa tão normal do cotidiano acaba não acontecendo em um dia, como se fosse um mundo paralelo ao real; que mudasse de rumo sem sentido algum.
Já era sexta feira e nada daquele adorável rosto. Comecei a ficar assustada; pensando no pior, como sempre com minha personalidade pessimista.
Preocupada, decidi ir atrás dela. Não foi muito difícil de encontrar pois sabia que tinha uma padaria. Quando cheguei ao local, encontrei a família. Fiquei chocada com a notícia que ouvi: dona Amélia faleceu devido a um infarto no caminho para o ponto de ônibus na segunda-feira.
Meu mundo desabou por um momento; eu já estava tão acostumada com aquilo, com aquele rosto, com aquela conversa, com aquela pessoa que considerava importante mesmo não tendo laços afetivos.
Expliquei para a família minha situação e o quão a falecida era importante para meu dia a dia. Tentei conforta-los com palavras da mesma forma que me acolheram.
Comovidos por minhas pequenas ações durante meses, me ofereceram um emprego como forma de agradecimento. Me tornei uma nova confeiteira, acordo todos os dias as cinco da manhã, consequentemente pegando o mesmo ônibus mas em horário diferente, com mais novas faces que se tornariam familiares com o tempo.X X X
Hoje, três anos depois, me tornei dona da melhor padaria da cidade. O segredo da felicidade e da gentileza estão nos pequenos atos que nos deixam pessoas melhores. Agradeço até hoje em minhas orações por dona Amélia ter marcado minha vida.