A Fuga

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De início, ficaram em êxtase por enfim terem se livrado do irmão que jamais gostaram, mas logo pensaram no que iriam falar para a mãe. Inventaram uma desculpa. Voltaram até a casa correndo.
- Mãe, Levih foi morto por um bandoleiro que estava querendo roubar um dos cavalos, só chegamos a tempo de espantar o homem, que fugiu.
- Enterre ele no quintal. Tenho mais o que fazer. – a indiferença da mãe pela morte do filho assustou até mesmo os outros dois.
Valentine, que descia as escadas, ouviu o relato e desatou a gritar, culpando os irmãos e correndo até o celeiro, onde viu o corpo do irmão, caído de qualquer jeito sob a poça de seu sangue rubro. Ela abraçou seu corpo esguio e chorou desesperadamente. Logo foi interrompida pelo riso odioso de Ira.
- Tá vendo o que você fez? É culpa sua o Levih ter morrido, ninguém mandou contar nada para ele. – ele a levantou pelo braço e a esbofeteou com força nas duas faces, jogando-a no chão, em seguida. Ele virou-se para voltar para a casa e ela, sem pensar duas vezes, pegou uma pá e o golpeou na cabeça, duas, três, cinco vezes ou mais, quem é que contou? Ela só queria dar um fim na existência daquele ser inescrupuloso que se dizia ser seu irmão. Quando ele, enfim, morreu, arrastou-o até um canto escondido no celeiro e usou a pá para cavar uma cova num bosque atrás do celeiro para Levih, que merecia um enterro digno. Ninguém sentiria a falta de Ira até o outro dia, por que ao sair da casa, havia dito que iria pegar um cavalo e ir até a cidade, assim, Valentine pôde cavar sem perturbações, quando conseguiu uma cova, já era quase noite, voltou até o celeiro e trouxe o corpo do irmão com a ajuda de um dos cavalos mais manso, que não se assustou com o cheiro da morte. Parecia que o cavalo gostava de Levih, pois ficou parado enquanto Valentine o tirava do lombo do animal e o colocava com cuidado na cova recém-aberta. Parou para dar um beijo na testa do irmão e agradecer sua proteção, lágrimas rolavam por seu rosto todo. Fez-se silêncio na floresta, os animais estavam de luto também.
- Querido Deus, receba a alma de meu irmão amado, que lutou para me defender dos meus irmãos, arranje um lugarzinho perto do meu pai, que também me protegeu. Acolha-o e dê-lhe asas, por que ele já era um anjo. Dê-lhe o descanso eterno e a paz que ele não teve aqui. Amém. – o cavalo relinchou como se estivesse de acordo. Ela fechou a cova e depois o montou até o celeiro, onde deu-lhe uma porção a mais de ração. Subiu até o seu quarto, juntou umas mudas de roupas e o dinheiro que havia guardado até agora. Foi até o quarto de Morgan, que dormia a sono solto. Pegou um dos travesseiros e subiu o vestido até as coxas para sentar-se na barriga dele e assim, poder sufocar-lhe no sono, ele tentou soltar-se para conseguir respirar, empurrando a irmã, mas não conseguiu, por estar assustado e pelo peso extra que ela havia ganhado com o bebê que não sabia estar carregando. Ele sufocou lentamente até a morte. Ela roubou sua espada. Foi até o quarto da mãe e roubou todo o dinheiro que esta havia escondido numa caixa de sapatos, sabia do esconderijo por que um dia viu, sem querer, a mãe pegar dinheiro ali. Depois de pegar toda a quantia, foi até o quarto de Levih e pegou uma muda de roupa do irmão, caso precisasse disfarçar-se. Juntou tudo e foi até o celeiro e pegou o cavalo manso que havia lhe ajudado e fugiu para nunca mais voltar ali.

Viúva NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora