Capítulo 4 - Lucy

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Quando olhei para a rua estreita, pude ver no final dela um amontoado de pessoas se afastando. Corri para me aproximar delas e ver o que estava acontecendo, até que pude ver uma cabana com uma placa que dizia "SIGMA VACINAS". Me perguntei desde quando aquilo estava ali e o motivo de tanta gritaria. Guardei minha arma novamente do no coldre e tentei atravessar a multidão que estava aglomerada em frente à porta da cabana.

Quando consegui atravessar a multidão, entrei logo em seguida na cabana. Um homem veio tentar me impedir de entrar, porém logo atrás dele, um dos enfermeiros de cabelo loiro chamado Henrique Loyal gritou:

-Pode deixá-la passar, ela faz parte da equipe de médicos da Sigma. -Henrique era um cara bacana, um dos melhores enfermeiros da equipe. -Lucy, precisamos de sua ajuda.

-O que houve, Henrique? -corri na direção dele. -Ouvi gritos e vim correndo nessa direção, pensei que poderia ser Primax.

Ele puxou meu braço, me guiando por algumas lonas que faziam a divisão da cabana. Ele era um cara alto e bonito. Era difícil entender o por que de ele não ser um modelo e sim um enfermeiro, mas ainda bem que ele era um enfermeiro, era ótimo no trabalho dele.

Henrique me levou para um cubículo pequeno, onde havia outro cubo maior de vidro que havia duas pessoas amarradas em suas camas; uma era um homem com cabelos grisalhos e a outra era uma criança que não deveria ter mais de 10 anos, com uma expressão de assustado.

-Henrique, conte-me o que está havendo aqui. -Pedi.

-Troque-se. -Ele abriu uma cabine, me empurrou para dentro e me entregou uma caixa que continha um traje anti-vírus. -Vá se vestir.

Fechei a porta e comecei a por o traje que era de cor azul, com um marca SIGMA no meio do traje.

-Aquele homem e aquela criança estão infectadas com o vírus do Primax. -Ele explicou. -O homem mais velho teve um ataque de raiva e começou a atacar paciente e a equipe. O prendemos naquele pequeno cubículo, isolado para não causar mais estragos.

-O que houve com o garoto, também está infectado? -Essa era uma situação delicada, eu era uma médica mas ainda estava em aprendizado. Não sabia como lidar com aquele tipo de situação, estava começando a entrar em pânico.

-Não sabemos ao certo...-ele fez uma pausa-o homem durante o ataque acabou mordendo o garoto e isso nunca havia acontecido. Ordenei alguns exames, mas agora você vai ter que ajudar a lidar com a situação.

Eu fiquei em choque, não havia casos de que o vírus se espalhasse pelo ar de pessoas contaminadas ou o contato físico, porém contaminação por saliva, não havíamos pensado muito nisto. Eu sabia exatamente as etapas para podermos lidar com a infecção antes de atingir os estágios dois e três, então eu iria aplicar elas em ambos. Iria tratar o garoto como se ele tivesse infectado, independente dos resultados dos exames.

Saí da cabine e encontrei com o Henrique vestindo o mesmo traje que eu e segurando dois capacetes. Ele me jogou um destes e eu tentei agarrá-lo, mas acabei deixando cair.

-Você sempre está viajando, Lucy. -Comentou ele, sorrindo enquanto eu me abaixava para pegar o capacete. -Espero que esteja pronta e concentrada para lidar com nossos dois pacientes ali dentro, precisamos salvá-los.

-Preciso do resultado dos exames gerais. -Falei séria, e encaixei o capacete no traje. -Vamos entrar, aplicar os soros anti-primax enquanto esperamos os exames.

-Pode deixar, Doutora. –Disse o Henrique que agora estava com uma expressão séria.

Era isso que eu adorava no Henrique, apesar de ser apenas uma aprendiza, ele sempre me tratou como uma médica de verdade, com respeito. Pôs o capacete e seguiu para fora do cubículo. Ouvi ele chamando alguém, quando ele voltou para dentro do cubículo estava acompanhado de uma moça da minha altura que usava óculos, tinha um cabelo cacheado que estava preso num rabo de cavalo e carregava uma prancheta. Acredito que seu nome era Amanda. Henrique virou-se para ela e pediu:

-Amanda, preciso que você me faça um favor. Fique nos vigiando e esperando o resultado dos exames aqui fora, você poderá nos ver lá dentro. Quando o exame chegar, você nos avisa ou se qualquer coisa der errado lá dentro, aperte o botão de emergência próximo à porta.

Ela balançou a cabeça em concordância, como se tivesse entendido completamente suas ordens. Henrique apontou para a porta de entrada do cubículo onde estavam os nossos pacientes, como se dissesse " Vamos, primeiro as damas". Eu segui andando em direção à porta, que abriu automaticamente. Henrique passou por ela também e ela se fechou. A Amanda apertou algum botão que fez a porta se trancar com nós dois lá dentro. Precauções, não é mesmo?

Quando entramos no cubículo maior onde estavam os pacientes, eles nos observavam. Andamos até uma pequena prateleira onde havia alguns equipamentos médicos e remédios , pegamos algumas seringas e uns potes de soro anti-primax. Henrique pôs em uma bandeja e levou até a mesa próxima as camas; cada cama ficava em um canto do cubículo, e uma mesa entre elas, fora o espaço para podermos passar e chegar os pacientes.

-O que você quer fazer, Lucy? -Perguntou Henrique.

Correr, morrer, ir para casa e chorar abraçada ao meu travesseiro, tudo menos estar aqui nessa situação com essas duas pessoas que dependem de mim e do Henrique para sobreviverem. Mas lógico que eu não ia dizer isso em voz alta, essas pessoas contam comigo, eu acho.

-Quero examinar a mordida no garoto.

Henrique fez um gesto para eu acompanhá-lo. Nos aproximamos do garoto que estava amarrado e quase chorando. Henrique apontou para o ombro do garoto, onde havia um curativo que precisava ser trocado com urgência. Henrique se aproximou e retirou o curativo, o garoto gemeu.

-Jack é o meu nome. Por favor, não me deixem morrer. –Disse o garoto.

-Vamos cuidar de você, Jack. -Disse Henrique com um sorriso reconfortante o rosto, o que fez com que eu me sentisse mais determinada a solucionar aquele problema.

A mordida havia parado de sangrar há algum tempo, Henrique se afastou para começar a fazer outro curativo na mesa. Eu coloquei um termômetro na boca do Jack. Ele era um menino bastante quieto. A temperatura dele estava normal, nada fora do comum.

-Quantos anos você tem, Jack?-Perguntou Henrique enquanto vinha na nossa direção com um curativo novo em mãos.

-Oito. -Respondeu o menino. -E você?

-Tenho vinte e cinco anos. –Respondeu Henrique, enquanto aplicava o curativo novo no Jack, foi ai que eu percebi que eu não estava fazendo nada.

Jack gemeu mais um pouco enquanto Henrique aplicava o curativo, mas lago assustador aconteceu logo em seguida. Um grito de ódio vindo das nossas costas e um barulho de algo tentando se soltar desesperadamente. O susto foi tão grade que eu acabei tropeçando quando fui olhar para trás. Estava ele, gritando e tentando se soltar, o segundo paciente. O homem que tive um ataque de raiva e atacou o pobre Jack, mas quem poderia culpa-lo? Ele está infectado, a única coisa que eu posso fazer para o ajudar é curando ele.

-Caramba, que susto. -Disse o Henrique, ele aplicou finalmente o curativo e olhou para o homem. -Esse aí é o Domel, um dos guardas da cidade, é difícil vê-lo neste estado.

-Ele é alguém importante?-Perguntei enquanto o observava se contorcer e gritar palavras para nós.

-Não para mim e nem para você. -Henrique fez uma pausa, pensativo. -Porém foi ele quem salvou essa cidade, foi ele quem nos procurou e nos trouxe até aqui.

Agora entendi o motivo da multidão lá fora, imagina quantas pessoas sobreviveram graças à esse homem que foi nos procurar. Se não fosse por ele, teríamos um reino que estaria completamente devastado e dominado por crias do Primax. Eu precisava dar o máximo de mim para salvá-los, o Doutor sempre me disse que eu tenho um talento natural para cuidar dos pacientes, espero mais do que nunca que ele esteja correto.

As Crônicas dos Deuses - RenascerOnde histórias criam vida. Descubra agora