I. A Coroação

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Sempre era muito complicado me esgueirar até a cidade, mas desde que os passeios noturnos se tornaram frequentes o caminho parecia definido com perfeição para que eu não precisasse esbarrar em algum galho ou pisasse em um deles.

Nos primeiros dias eu ganhei alguns arranhões, só não sabia dizer se aquilo era devido aos esbarrões e quedas ou se eram as unhas compridas demais das plebeias com as quais eu me deitava.

Os passeios se iniciaram por volta dos meus dezesseis anos. Estava entediado demais para dormir em uma noite de muito calor e decidi que seria bom espairecer pelos jardins do castelo, só não esperava me deparar com um caminho difícil demais a ser percorrido e nem que seria fácil demais me perder. Quando me dei conta, lá estava eu entre os plebeus. Como não estava vestido como um deles e com certeza iria chamar a atenção, decidi voltar para trás, mas não sem antes deixar algumas pistas pelo caminho com a promessa de que voltaria no dia seguinte.

Achei dificuldade para encontrar a mesma entrada - ou saída - no dia seguinte, me deparei com o abismo que dava para o mar, mas ao longe podia ver o porto que ficava próximo ao palácio, com certeza eu já estava longe o bastante e perto demais da cidade.

Não sabia bem o que deveria procurar por entre os mais pobres, pedintes e miseráveis, mas quando avistei algumas pessoas felizes demais - mesmo sendo governadas pelo meu próprio pai - decidi que era para lá que eu iria. O lugar era pouco iluminado, mas eu conseguia ver com perfeição as mulheres nuas que perambulavam por ali. Confesso que, apesar da pouca idade, não entendi muito bem do que se passava. Decidi que era melhor me sentar no balcão, não muito perto dos outros e estando boa parte do tempo cabisbaixo, não queria correr o risco de ser identificado.

Depois de beber duas cervejas, julguei ser o suficiente para me aproximar um pouco daquelas mulheres que passavam entre os senhores ali acariciando-os. Me aproximei de uma mulher recheada de curvas e toquei sua cintura, chamando a atenção dos olhos escuros como aquela noite estava.

- Quero você.

Foi tudo o que eu disse e foi o suficiente para que eu tivesse a minha primeira noite com uma mulher linda e experiente.

Depois daquela noite, enviei uma carta para meus amigos de cidades vizinhas: os príncipe Neocio Quigley, Molcas Deverich e Dipcas Folly. Eles precisavam saber que eu havia sido o primeiro dentre eles a me deitar com uma mulher.

Depois daquele dia, eles vinham me visitar com mais frequência e cada um teve sua primeira vez naquele prostíbulo. Eu tive minhas outras primeiras vezes também. Com duas mulheres, três e entre outras experiências.

Mas tudo passou a ficar mais complicado quando descobriram que o futuro Rei Supremo de Tomtheod estava se deitando com as plebeias e desde então eu andava mal humorado, com a mesma liberdade que minha irmã, Dipyna. Ou seja, nenhuma.

- É por isso, meus amigos, que eu odeio ser o próximo na linha de sucessão do meu pai. Mais ainda, odeio ter que ser monogâmico e odeio ainda mais esperar pela princesa com quem eu vou me deitar pelo resto da vida. - Terminei de explicar para meus amigos, sentados comigo na sala de reunião que fora construída para que eu tivesse minha própria privacidade.

- Deve ser uma pressão mesmo. - Dipcas assentiu, bebendo da sua cerveja.

- Mas pense pelo lado bom, - Neocio interviu e atraiu minha atenção. - ninguém vai mandar em você a partir de hoje. Você está fazendo 21 anos, Tyleus! Você vai assumir um reino inteiro e, se quiser, vai ter suas próprias putas morando aqui dentro com você. Quem se importa com a futura Rainha Suprema de Tomtheod? Acha que o seu pai foi fiel à sua mãe esse tempo todo?

Pensei por um momento sobre aquilo e a resposta foi alta e clara na minha mente: não.

- Ainda não sei como não apareceu um bastardinho por aí. - Dipcas cuspiu.

Seja Minha Rainha [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora