twenty-third note

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Há quatro anos, no dia vinte e sete de janeiro de 2012, eu me assumi lésbica para a minha família.

Nós éramos a família perfeita e eu tinha só 14 anos naquele dia. Meus pais eram engraçados e amorosos e Sofi apesar de ser uma pestinha, era a minha pequena garotinha.

Meu pai era o pastor de uma das maiores igrejas de Miami e minha mãe o amava apesar de tudo. Ele sempre gostou de brincadeiras que eu passei a odiar depois de entrar na adolescência, ele me dava "tapinhas" que apesar de fracos para ele me machucavam, ele sempre me tocava demais.

Sempre tive o fardo desde a minha infância de que a forma como eu me sentia era errada, pecaminosa. Eu achava que nem ao menos merecia amor e carinho de alguém.

Eu orei a Deus para que aquilo parasse, mas não parou. Era eu e eu me aceitei, então decidi que eu deveria dizer a minha família.

Meu pai nunca havia me olhado com tanto nojo como naquele dia, minha mãe o acalmou e disse que era apenas uma fase rebelde.

Não era.

E dia após dia, meu pai tentou me curar com tapas e socos em meu corpo.

Não conte a mamãe Mila, ela não quer se machucar também.

No dia dezenove de outubro desse mesmo ano, meu pai tentou me tocar antes que minha mãe invadisse o quarto e o mandasse embora.

Ela me abraçou e disse que ele nunca mais me tocaria.

Ele foi atrás de mim outra vez, depois da escola. No dia onze de novembro, meu pai me matou.

Ele me bateu até que eu não estivesse mais consciente, me deixou sangrando no chão quando as pessoas chegassem e me levassem para o hospital.

Meu coração não bateu durante dois minutos, mas então... Eles fizeram algo e me trouxeram de volta.

No dia doze de dezembro, eles encontraram meu pai e o prenderam. Nesse mesmo dia, quando recebi a notícia, eu gritei e chorei pela casa inteira batendo nas coisas.

E dois segundos a mais, eu teria enfiado aqueles comprimidos na minha garganta se não fosse por Dinah.

Eu odeio lembrar disso.

Mas olhando para Lauren, enquanto ela dormia na cama do meu quarto depois que fizemos nosso trabalho de inglês, eu lembrei de tudo.

Não sei qual a história de Lauren, mas eu sabia que poderia ser ainda mais dolorosa que a minha.

E olhando para o pequeno roxo em seu antebraço, eu tenho um pouco de medo.

Não quero que ela saia da minha casa e volte para aquele lugar.

Eu só quero que ela fique bem.

Por que me importo tanto?

notas sobre ela ♧ camren ♧Onde histórias criam vida. Descubra agora