Raposa

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Pisco repetidas vezes para acreditar que alguém está me ligando num sábado.

-Alô? - atendo com a voz mergulhada no sono 

-Srta. Green, preciso do seu sim outra vez.- a voz masculina e meio impaciente pede. 

-Sr. Groove? Ah, claro- esfrego os olhos ainda atordoada e sento no lençol quentinho -Claro que irei a Odessa.

Confirmo o óbvio

-Precisava confirmar para comprar sua passagem, irá segunda- Avisa tranquilo.

Novamente dou um pulo da cama e arregalo os olhos. 

-já? Nem tenho com quem deixar a Raposa!

-A o que? - pergunta estranhado o animal citado.

-É minha gata - bufo - Vou me organizar, que seja na segunda de noite, ok.
Ele confirma e volto a me deitar.

Hesito em voltar a dormir, assisto atentamente a ligação se acabar para digitar o número do meu irmão.

-Atenda, Amon Green.- resmungo para o celular que não tem culpa nenhuma.E meu irmão parece ouvir, respondendo com um simples "e aí?". 

-Amon, poderia ficar um semestre com a raposa ? Você sabe que ela ama você.

-O que está aprontando?- pergunta divertido enquanto sua esposa chama por ele ao fundo.
Nunca gostei dela. 

-Trabalho, vou pra Odessa.- respondo sem entrar em detalhes
-Sobre o que?... -pergunta de atrevido.

-Nem pense, não posso contar nada. Se eu contasse teria que te matar.- brinco e ele ri do outro lado.

-Eu fico com ela.

Sussurro um "obrigada" e desligo, meus pés parecem estar amarrados do chumbo, foi tão difícil levantar mas preciso aproveitar minha gata, até por que não vou ficar muito tempo perto dela.

Já me bate um desespero, ela é minha companheira. Reúno meus papéis em cima da cama, ajeitando-os dentro da minha pasta-bolsa rosa de trabalho. Agarro raposa e a deixo sentada em cima das minhas pernas, pela 2 vez hoje o celular da sinal de vida, na tela, o rosto de judy Aparece na tela.

-Eu e as meninas queremos te ver.- murmura animada assim que eu atendo.

-Judy!- chamo-a animada com sua ligação -Quero ver vocês, onde estão?
Conheci a mesma na faculdade, ela sempre foi meio mimada, fizemos direito juntas mas no meio do curso ela preferiu de aventurar pela moda, e sinceramente é a praia dela.

-Já sabe né? Te espero na Starbucks da 5• avenida.- Ela desliga estalando a boca em beijos.

O pelo sedoso e ruivo de raposa se arrepia, sua cauda passeia pela pasta que esqueci de colocar na bolsa, curiosamente abro... cai exatamente nos olhos azuis da Eva.
Tinha algo lá.

(...)

Minha calça de couro estava tão apertadas em minhas coxas levemente malhadas que mal consigo passar pela multidão na avenida central de Kiev.
Judy estava sentada com duas amigas na mesa da ponta, seu cappuccino quentinho esquentava seus longos dedos brancos, atravesso a primeira parte do salão pé ante pé preparando-me para contar a "novidade" de odessa.

-VOCÊ O QUE?- grita assim que finalizo, resumidamente,meu caso.

-É, volto em um semestre.- bufo -Fique tranquila. Ela tem vocês né meninas?

Pergunto para suas "amigas" que viram o rosto.
É meio chato ouvir Judy falar de homens o tempo todo.
Tomo mais um gole do meu café com chocolate. Espero um surto maior a cada golada e então ela abre a boca:

-Vocês souberam da Irmã de Dani? Ouvi dizer- começa uma colega de Judy, fazendo todas se aproximarem para ouvir -Que ela gosta de meninas...
Todas ficaram boquiabertas como se fosse um absurdo. Reviro os olhos já impaciente com essas novas "Amigas".

-Eu sou lésbica.- jogo em pauta e dou os ombros.

Judy parece estar me odiando por ter falando isso. Ela segura sua blusa rosa de cetim para não se desesperar; como minha amiga ela já sabia, mas pelo visto metade da mesa é homofóbica. 

-Judy, você é mesmo amiga dela?- aponta uma das meninas morenas com cara de nojo pra mim. 

Judy sorri nervosa e se desconserta, espero ela responder.
Por mais esteja me magoando quero ter certeza se ela virou uma mesquinha assim.

-Ah, Angelique está brincando, não liguem.- ela sorri nervosa como se estivesse achando graça numa piada.

-Ah! Espero que sim.- Complementa uma das meninas.

Antes que eu exploda e puxe minha pistola aqui mesmo, saio andando e pego minha bolsa jogando-a sobre os ombros.
Escuto chamados por mim logo atras, não respondo e nem me viro, saio da Starbucks pronta para deixar essa cidade e esfriar a cabeça.
-Olá, Angelique!- Uma voz masculina me ronda rapidamente, quase não percebo quem é.
Viro meu rosto branco cercado pelo frio e vejo Groove.

-Como me achou?- Pergunto confusa, ele se aproxima de mim e me estende uma foto no seu celular.

Uma cena meio suspeita aparece, um contorno feminino deitado no chão, em volta dela aparece um quarto, abajur jogado no chão, sua escova de cabelo bem ao lado da sua têmpora e um tapete. parece estar morta. Seus cabelos loiros estão furiosamente posicionados em tordo de um lençol, onde, acho eu, foi morta.

-Isso é a...- murmuro em choque.

-A Kate.- complementa minha frase, deixando meu queixo cair.
Coloco os braços em frente ao meu decote, parece que todos estamos desprotegidos. "Conheci" a mesma ontem e ela já não pôde me dar um oi.

-Precisar ir logo. - pede Groove guardando o celular.- Vou lhe dar o dobro de munições dessa vez, seja quem for, não está para brincar.

-Acha que tem relação com... seu irmão?- Hesito em citar mas é óbvio e não posso me deter.
-Não sei, mas vamos descobrir.

(...)

Era segunda; o sol iluminava cada ponta dos arranha-céus, conseguia sentir a brisa fraca e fria da minha pelo corpo.
O tique-taque anunciava 8 horas da manhã, a polícia organizou um carro pra mim, volga GAZ 21.

Encaro raposa, que retribui o olhar de patas juntas, sentada ao lado da porta. É impossível ir sem ela. Saltito minha mala pronta para atravessar a cozinha, ao lado da parede se encontra a casinha rosa de raposa, nem parece uma casinha na verdade, porém ela aproveita bem para dar seus cochilos, jogo os seus whiskas dentro da mesma e fecho-a.

Logo após faço minha higiene matinal mais tranquila, aproveito os últimos momentos em casa. Minha calça skinning combina muito bem com minha bunda no lugar, o casaco preto reveste todo meu tronco, e, claro: minha bota da sorte está lá; A usei em tantas investigações que virou meu mascote.

Pronta, coloco a coleira, quase um colar, de Raposa e a coloco na minha bolsa espaçosa, deixando sua cabeça livre para respirar.
Assim que acabo de fazê-lo a campainha toca. Petra, secretaria de meia idade de Groove, se posiciona ereta assim que abro a porta.

-Precisa de ajuda?- sua voz rouca me avisa que mal levantou hoje.

Acostumada com a situação, chamo o motorista do COP (centro operacional de polícia).

-Bom dia!- Anuncio feliz impedindo que pegue minha bolsa, onde meu gato se deitou confortavelmente junto com meu celular e maquiagens.

Teria que enfrentar a viagem, escondendo meu pobre gatinho e uma glock G25 na cintura.

Uma arma chamada amorOnde histórias criam vida. Descubra agora