PRÓLOGO

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...11 anos atrás...


— Prometa-me que será uma boa pessoa! — Elena sussurra com a voz fraca.

Evangeline debruça-se sobre seu corpo quase imóvel no leito do hospital. Seus soluços somam-se ao bipe da máquina ao lado, enquanto sua mãe acaricia seus cabelos negros e desgrenhados.

— Eu prometo, mamãe... Eu prometo! — responde com a voz abafada, posto que tem seu rosto afundado no peito da mulher acamada.

— Cuide do seu padrasto... Ame suas meias-irmãs... — respira com dificuldade. — Lute pelos seus sonhos... E nunca, jamais... —  respira. — deixe que as dificuldades da vida te tornem uma pessoa amarga e vingativa... —  respira. —  Você pode fazer isso por mim?

A garota de apenas 14 anos, levanta seus olhos negros para fitar o rosto pálido e magro da mãe. Os olhos azuis, outrora tão vibrantes e cheio de luz, parecem desfocados e sem vida. Os cabelos loiros feito fios de ouro, agora estão opacos, sem brilho algum.

Embora a tristeza esteja corroendo-a por dentro, Evangeline assente. Ao mesmo tempo em que suas lágrimas transbordam em demasia.

— A senhora não pode me ajudar com isso? Sinto-me tão frágil e imatura...

Elena sorri fraco, acariciando o rosto da filha com seus dedos finos e magros.

— Você é quase uma mulher, meu amor... — respira. —  Uma mulher forte e corajosa. E, além disso... — respira. — Eu estarei ajudando-a... Lá de cima... Não lhe abandonarei um dia sequer da sua vida. —  respira. —Agora abra aquela gaveta, por favor. — aponta para o criado-mudo ao lado do leito.

Mesmo confusa com o pedido, Evangeline levanta-se e abre a gaveta. Avistando uma caixinha branca de madeira, com as iniciais E & E em alto relevo. Ao lado, há uma pequena chave dourada.

— O que é isso? — volta-se a se sentar na beirada da cama, com a caixa sobre seu colo.

— Abra. — sua mãe orienta tranquila.

A garota coloca a chave na pequena fechadura e o barulho baixo de um clique faz-se ouvir. Lentamente, ela levanta a tampa e leva um grande susto ao avistar seu conteúdo.

— Oh! — exclama com os olhos saltados, tapando sua boca com a mão e olhando atônita para sua mãe. — Mas isso é...

— Era do seu pai, querida... — pausa para respirar. — Antes de morrer, Erik me fez prometer — respira pesado. — que eu lhe entregaria no seu aniversário de 15 anos... — diz com dificuldade e Evangeline se entrega às lágrimas mais uma vez. Seu aniversário será dentro de 1 mês, mas ela sabe que a mãe não viverá o suficiente para cumprir sua promessa. — Guarde com cuidado o que tem aí dentro. Use apenas quando — respira. — realmente houver necessidade! E nunca conte para ninguém! Nunca! Você me ouviu?! — ordena nervosa.

— Nem mesmo para Gaspard? Ou para Tiffany e Carmella?

— Não! — a voz de Elena sai alta e trêmula. — Prometa-me, Liny! — suspira cansada e preocupada.

— Eu prometo! Eu prometo! Não se esforce mais, mamãe... Por favor! — implora.

— Guarde em sua mochila. Antes que seu padrasto e as meninas cheguem.

Evangeline corre até sua mochila de escola, que está em cima da poltrona próxima à janela. Guarda a caixa branca e se deita junto à mãe na cama branca do hospital.

— Isso, meu amor. Me abrace... — Elena sussurra. Voltando a acariciar seus cabelos.

Enquanto a menina chora baixinho, se perguntando em qual momento o coração de sua mãe irá parar de bater.

Conto de Fadas às AvessasOnde histórias criam vida. Descubra agora