Capítulo I

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-Jan Di, sabe qual o seu apelido? - disse Ga Eul, enquanto passava o mouse pela tela do computador.
Larguei o pano de prato encardido que estava segurando e olhei para Ga Eul, que olhava aquela notícia com muita admiração.
    Não sei o que as pessoas estão vendo de tão especial no que eu fiz. Simplesmente, fiz o que toda pessoa de alma boa faria. Além do mais, se Dong Yul morresse naquele momento, ele não iria pagar o que devia. E aqueles 25000 won que deixaria passar, fariam muita diferença na minha vida.
Coloquei as mãos no quadril e cheguei mais perto da bancada do caixa, que era aonde Ga Eul estava lendo o computador.
-Heroína Comum, Garota Maravilha, a Mulher Maravilha da nossa geração. - parou um segundo para olhar para mim. - Lavanderia Jan Di, fighting! Garota Maravilha da Escola Shinhwa! - Ga Eul fez um gesto com a mão, querendo demonstrar um símbolo de "vamos lá!", e nosso gerente se virou para mim e fez um gesto igual ao dela.
Olhei para os dois, com muita raiva. Estalei a língua, e disse:
-Parem com isso! - levantei o pano e ameacei jogar neles. Meu gerente ficou sério, mas Ga Eul deu uma risada discreta.
Andei até um pouco antes da porta, quando ouvi Ga Eul dizer:
-Mas... - ela parou um segundo, para fazer suspense. - Mas e o Flower Four? Imagino se eles são tão bonitos assim... - Fiz um barulho com a boca, que nem eu consegui distinguir o que era. - Acho que eu realizaria um sonho se os visse de perto... - Ga Eul suspirou.
- Flower Four? - perguntou o gerente, e Ga Eul respondeu balançando a cabeça.
Pensei um pouco sobre o comentário de Ga Eul. Mexi a boca de um lado para o outro, e semicerrei os olhos.
-Flower Four? - digo - Sim, sei. - respirei fundo, de maneira irônica, mas não estava com vontade de ser engraçada. Soltei o ar e continuei. - Parecem Fedor Four. - cerrei os dentes. - Estão ao redor do cocô. - Ga Eul e o gerente riram do que eu disse, mas ignorei.
Me abaixei para pegar as duas sacolas de lixo que esperavam para serem descartadas, e andei lentamente o curto caminho que faltava para chegar na porta. Quando estava prestes a sair pela porta, uma luz muito forte incomodou meu olho. Olhei para a direção que vinha a luz e um monte de jornalistas, pessoas com câmeras e filmadoras corriam até a porta da lanchonete.
-Jan Di! - milhares de pessoas falaram juntas.
-Está ali! - disse uma voz que consegui dizer que era masculina.
-Tem algo a dizer? - uma jornalista que estava na minha frente disse.
Outro flash das câmeras pairou meu rosto. Olhei assustada para aquele monte de gente querendo chamar minha atenção.
-Aqui!
-Por favor, olhe pra cá!
-Jan Di!
Refleti por um instante, com a cabeça baixa, mas logo a levantei de novo, e comecei a ser mais simpática com as câmeras. Sorri, e olhava um pouco para a esquerda, um pouco para o meio e um pouco para a direita. Enquanto sorria, ouvia muita gente gritando o meu nome, novamente querendo chamar minha atenção. Admito, aquilo estava sendo chato, mas não queria ser conhecida como "Jan Di, a menina que não gosta de câmeras".

O final do expediente finalmente tinha chegado. Fui até os fundos da lanchonete, que é onde estaciono minha bicicleta. Subi nela, cansada, e comecei a pedalar em direção a rua.
A noite estava muito bonita. Estrelas bem brilhantes iluminavam aquela imensidão preta. Deixei o vento gostoso de Seul levantar meus cabelos, e fiquei pensando sobre o dia cansativo que tive. Por isso que nunca quis ser modelo. As câmeras não foram feitas para mim.
Dei a curva que precisa dar antes de chegar na minha casa e bati os dentes. Estava frio. Desci da bicicleta e comecei a puxá-la pelo guidão. Pisei duro no chão, e comecei a falar sozinha:
-Desperdicei meu tempo fazendo uma falsa entrega para fugir dos paparazzi.  - coloquei minha bicicleta no seu lugar, e deixei meus braços caírem moles na lateral do meu corpo. - Escola Shinhwa... - fiz um barulho de nojo. - Só de pensar nela, fico enjoada.
Entrei pela porta da lavanderia, e deixei a porta se fechar com o vento, o que acabou fazendo um barulhão, que eu mesma me assustei.
Abri a porta da minha casa e parei antes de entrar na sala.
- Voltei... - estava com a cabeça baixa, mas quando levantei e olhei para a mesa central da sala, levei um susto ao ver um homem de terno e gravata vermelha sentado na cadeira da ponta. É um homem elegante, com classe, provavelmente um rico.
Meu pai se levantou e foi para o lado do homem elegante. Animado, disse:
-Oh, ela chegou bem na hora! - soltou uma risada. - Jan Di, diga olá. - o homem se levantou, e ficou me olhando, com um pequeno sorriso na boca. Meu pai continuou, com a mão esquerda de um lado da boca. Meio que cochichando, disse: - Ele disse que veio em nome da presidente do Grupo Shinhwa.
Olhei, confusa, para meu pai.
-Hã?
-Finalmente conheci a famosa Garota Maravilha. É um prazer conhecê-la. - disse o homem elegante, ainda com um sorriso na boca.
Com um pouco de vergonha, olhei para o homem, mexi em uma das minhas maria-chiquinha e disse:
-Eu não o empurrei. - o homem abaixou os olhos, sem parar com aquele sorrisinho irritante. - Sério. Foi o F4 ou algo assim que causou a confusão e... - apontei para a porta, sem saber o que fazer.
O homem levantou os olhos novamente e juntou as mãos em frente ao corpo, antes de continuar.
-Estou aqui para....
-Jan Di, filhinha, não fique surpresa. - disse minha mãe, que abraçava meu irmão mais novo, Kang San. - A partir de amanhã, você frequentará a Escola Shinhwa! - meu pai se juntou a eles dois, e eles falaram juntos: - Você estudará lá! - e começaram a gritar de felicidade.
Ainda um pouco confusa, digo:
-O-o-o que?! Foi porque...
O homem de terno me interrompeu.
-A presidente se se surpreendeu com sua atitude. Você ganhará uma bolsa integral.
Minha mãe, ainda pulando, continuou o que o homem queria dizer.
-Você será aceita!
Olhei para os lados, chocada, e inclinei um pouco minha cabeça para a frente.
-Bolsa? Porque eu?
Me respondendo, o homem de terno chegou mais perto de mim e começou:
- Acreditamos que você pode...
- Noona, você fez natação no primário e eles querem que nade novamente! - interrompeu Kang San, bastante animado. - Nadar novamente! - os três se abraçaram, com a felicidade lá em cima.
Enquanto eles comemoravam, disse, muito séria:
-Não.
Os três abraçados se entreolharam, depois meu pai olhou para mim, com o olhar atrás dos óculos muito triste. - O que?
- Por que não? - disse minha mãe, surpresa.
- Noona, perdeu o juízo? - disse Kang San, saindo do meio dos braços dos meus pais.
Voltei o olhar para o homem, sem graça. Soltei uma risada leve, querendo descontrair, mas ainda estava muito nervosa.
- Estou bem na escola que frequento. - respirei. - Não pertenço a uma escola daquelas. Então não quero estudar lá. - olhei com raiva para meus pais, para eles entenderem que não queria estudar lá. Olhei rapidamente para a porta. - Então, se puder ir embora...
Minha mãe me mandou calar a boca, e eu olhei chocada pra ela.
- Jan Di - começou o homem, que ainda estava lá. - Por favor, reconsidere.
Minha mãe olhou para o homem, e meu pai começou a movimentar as mãos no ar.
- Não, ela não precisa reconsiderar nada porque começará a estudar lá amanhã. - Meu pai e meu irmão me puxaram e me arrastaram até um canto, tapando minha boca, enquanto minha mãe acompanhava o homem até a porta.
Eu, meu pai e meu irmão caímos no chão, de tanta força que eles estavam fazendo para não me deixar sair para lembrar o homem de que não vou para aquela escola estúpida. Me recompus e fui para o meio da sala, olhando feio para os dois homens da casa. Relaxei eu corpo e abaixei a cabeça, totalmente parada.
De repente, minha mãe entrou pela porta, e entrou na sala dando um salto e levantando as mãos, e começou a fazer uma dancinha engraçada. Levantei lentamente a cabeça, com cara de desgosto. Cerrei os dentes e gritei.
- Mãe!
Ela chegou mais perto de mim e, esbaforida por causa da empolgação, disse:
- Não grite! - ela franziu as sobrancelhas. - Se você tem olhos, veja aquilo! - ela indicou com a cabeça as mãos do meu pai. Virei bruscamente a cabeça e olhei para as mãos dele, que seguravam um uniforme da Escola Shinhwa. Ele começou a fazer uma dancinha parecida com a da minha mãe, e colocou o uniforme do lado da sua cabeça.
- Tcharam!- disse, e continuou dando gritinhos baixos. Ficou mexendo o uniforme de um lado para o outro, enquanto Kang San filmava, seguindo os movimentos do meu pai. Os dois tinham enormes sorrisos estampados nos rostos. - Escola Shinhwa! - disse meu pai.
Kang San largou a câmera e pegou outra parte do uniforme, que estava acomodada no sofá, e começou a dançar junto com meu pai, ambos enquanto gritavam o nome da Escola Shinhwa. Minha mãe começou a dar soquinhos no ar, acompanhando a dança deles, e eu fiquei só olhando eles três, achando tudo aquilo muito esquisito. Kang San veio parar na minha frente e , sorrindo, disse:
- Noona, quem imaginaria que esse dia chegaria? - Colocou o uniforme praticamente na minha cara. - Pela primeira vez na vida, estou orgulhoso por ser seu irmão. - Ele e meu pai começaram a colocar o uniforme na minha frente. Eu tentava esquivar, mas eles eram rápidos e colocavam no meu corpo de novo.
Minha mãe olhou pra mim, colocou as mãos na cintura e falou, mais baixo:
- Mesmo vendo isso, ainda não quer estudar lá? - virou um pouco a cabeça. - Sabe quanto custa a mensalidade lá?
Fiz um biquinho de raiva para minha mãe e bufei.
- Ainda não quero estudar lá. Mãe, não quero ir mesmo! - falei mais alto, na última frase. Ela me olhou, boquiaberta, e, suspirando, disse:
- Algumas pessoas tem dinheiro e inteligência mas não conseguem entrar, e você não quer ir? - ela empinou a cabeça para mim.
Respirei fundo, e me lembrei de uma coisa que ela me disse uma vez.
- Lembra quando você disse que os ricos estavam construindo uma escola apenas para eles? - falei irritada, e olhei para ela, que estava sem palavras.
Tentando achar uma desculpa boa, ela disse, em um tom mais baixo e vergonhoso:
- Isso foi em outra situação, quando eu estava com inveja. - disse, de olhos fechados, e fazendo gestos com a mão. - Ei! Isso é praticamente dinheiro caindo do céu. - disse, voltando ao seu tom de voz normal. - Quem não aceitaria?
Suspirei, cruzei os braços, franzi as sobrancelhas e olhei para a mesa.
- Não sei, mas algo não me cheira bem. - fiquei um tempo pensando, mas logo olhei de novo para a minha família. - Não importa o que digam, não irei para lá, então é melhor aceitarem, ok? - Meu pai e meu irmão me olharam, com olhares tristes, e minha mãe abaixou o olhar. Saí da sala, pisando duro e bufando de raiva. Eu estava quase chegando no meu quarto quando minha mãe se virou e disse:
- Mas você gosta de nadar. - parei de caminhar, porque ela tocou no meu ponto fraco. - Você disse que gostaria de frequentar uma escola que tivesse piscina. - continuei de costas, apenas ouvindo. Virei a cabeça, olhando minha mãe com desdém.
- O que acha que eu sou? - falei, sentindo a raiva subir pelo meu sangue novamente. Suspirei e continuei. - Acha que sou uma criança para ser comprada por uma piscina? Não vou. Não quero. - a raiva subiu até minha cabeça. - Não posso! - gritei, explodindo.
Kang San e meu pai abaixaram tristemente e rapidamente o uniforme. E ficaram me observando. Minha mãe se virou e se sentou no sofá.
Quando reparei que tinha terminado o que tinha que fazer ali, andei lentamente para meu quarto e fechei a porta.
Escola Shinhwa. Escola Shinhwa! Porque eu ia querer ir para lá?

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