Breno

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A neve estava acumulada por todo o jardim de Tia Verônica, que provavelmente surtaria quando visse que o inverno rigoroso havia chegado em Fishers, e que suas flores de cores vibrantes haviam se tornado parte de uma paisagem de gelo. Fechei a janela, evitando que alguns flocos de neves caíssem sobre o meu rosto e arrastei minha cadeira até a mesinha do telefone novamente.

É Natal. Meus tios haviam saído mais cedo em busca do tradicional e milagroso frango natalino que só era vendido em Fortville. Ou seja, eles haviam atravessado Indiana para conseguir aproveitar a oferta para nossa ceia de mais tarde. O grande problema era que a neve havia coberto todo o estado de Indiana e eu não tinha notícias dos dois. Liguei pela décima quarta vez para eles e não houve resposta.

-Maldito frango natalino. - murmurei e coloquei o telefone de volta ao gancho. Controlei minha respiração para não ter um mini surto. Por que quando mais precisamos os telefones celulares ficam fora de área? Poxa, era só neve e não uma chuva de meteoros que iria trazer o apocalipse.

A neve ainda estava castigando metade dos estados. A meteorologista da TV que se equipava com um blusão e gorro de lã, mesmo estando em um estúdio com ar condicionado, informava que aparentemente Alabama, Tennessee, Indiana e Ohio eram os estados que estavam cobertos de neve. Desliguei a TV e encarei meu rosto de preocupação no monitor.

Não era o primeiro Natal que acontecia isso. Era como uma espécie de tragédia premeditada, mas que era vencida, pois tio Luís sempre entrava pela porta falando; "Foi aqui que pediram um frango bem grande?" Dávamos uma risada alta e tia Verônica ia preparar a nossa costumeira ceia, com ervilhas na manteiga e macarrão com queijo. Uma tradição de família.

Peguei o telefone novamente, mas a telefonista alertou que o número discado estava fora de área. Eu estava inquieto e contornei a sala toda com a cadeira. Tanto que o tapete que tia Verônica tanto zelava ficou marcado por conta das rodas. Suspirei para mim mesmo baixinho que tudo estava bem e essa demora era por conta do trânsito que em época natalina existia em Indiana.

Quando iria fazer minha quinta volta pela sala, ouvi o telefone dar um toque. Acelerei para perto da mesinha e atendi no primeiro toque.

—Alô?— gritei no telefone e ouvi barulhos de conversas bem altas do outro lado da linha.

—Breno..... querido? — falou uma voz distante, mas que eu reconhecia. Era a voz doce e acolhedora da minha tia.

Tia! Eu estava morrendo de preocupação - falei dando um suspiro. — Onde vocês estão? Estão vindo para a casa?

A ligação estava terrível, mas me sentia mais aliviado de saber que eles estavam bem pelo menos.

—Querido, estamos bem. Seu tio e eu chegamos a algumas horas em Fortville - senti a ligação cortar, mas felizmente não caiu. — Aqui está um horror. Neve por todo lado e ficamos presos no supermercado, acredita?

Meus olhos soltaram das órbitas e segurei o telefone com mais firmeza.

—Como assim presos no supermercado? — falei rápido.

—A neve, querido. Temos uma grande bola de neve sobre as portas do supermercado. Maldita seja essa tempestade — murmurou. — Ligamos para o corpo de bombeiros, mas provavelmente irão demorar por conta do feriado.

Maldita seja essa tempestade, repeti para mim mesmo.

—Não chegaremos a tempo para o Natal, filho. — sua voz estava falha, mas não por conta da ligação e sim porque ela queria chorar. Tia Verônica era tão sentimental nesse quesito. — Desculpe, querido.

—Está tudo bem, tia. A culpa não é sua. Como saberia que iria ter uma tempestade de neve? — falei, tentando não aparentar que estava um pouco magoado por não ter ido com eles. Meu temor por andar de carro novamente, me prejudicava de várias maneiras.

Amor Sobre Rodas - Um Conto De NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora