Lesly

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—Pode acender! — mamãe gritou. De repente a parte do exterior da minha casa tinha se tornado a Disneylândia com tantas luzes penduradas. Era um espetáculo digno de um circo, pois estava enfeitada dos pés à cabeça.

Papai desceu da escada e veio ao encontro de mamãe e eu. Um do lado do outro, admiramos o que nossa casa havia se tornado. Estava tão iluminada, que podia se tornar ponto de referência em Fishers.

Como todos os anos, mamãe havia se inscrito no concurso anual de casa mais bem decorada no tema natalino. Ela era recordista desse título idiota. Mamãe tinha 8 certificados que foram dados diretamente pelo prefeito da cidade, parabenizando ela pela linda decoração. Essa competição era tão disputada e importante, que eu condenava o que as pessoas chamavam de espírito natalino. Nosso jardim recebia um aspirador que jorrava neve artificial, mesmo nevando muito. Árvores de natais típicas de vários países do mundo estavam entre os arbustos e milhares de luzinhas com cores e hora de ligar diversas.

—Está muito bom. — falei, colocando as mãos dentro do casaco. O vento castigava Fishers.

Mamãe estava concentrada. Como se procurasse algum erro que não havia percebido. Por enfim, sorriu satisfeita para a obra de arte que tinha planejado antecipados 3 meses antes.

—Precisamos trocar os pinheiros a cada dez dias até o fim do concurso e as luzes precisam ficar mais brilhantes durante a noite. — mamãe disse com os dedos sobre os lábios.

Suspirei e recitei alguma música que me deixava tranquila. Don't make me sad, don't make me cry.

Vamos entrar. Daqui a pouco teremos visitas. — papai falou arrastando mamãe pelo braço que ainda estava vidrada em cada detalhe da decoração.

O Natal seria comemorado na minha casa. Desde que meus avós faleceram, minha família estava bem afastada e mamãe fez questão de reunir a família Medley para mostrar como estava bem de vida. Me aconcheguei perto da lareira, desejando jamais ter que sair dali. Papai se aproximou de mim e jogou mais lenha na lareira e o fogo aumentou consideravelmente.

—Ansiosa para a apresentação de hoje? — perguntou se levantando e ocupando a poltrona ao meu lado. — Queria muito ir vê-la, mas um senhor em uma festa cheia de jovens com espinha não seria nem um pouco divertida.

Apenas sorri fraco e encostei a cabeça no couro liso. Natal é uma época onde recebemos uma dose exagerada de tradições, seja nos pratos de família ou nas músicas natalinas, e no colégio não era diferente. Haveria uma grande festa de Natal para todos os alunos que queriam fugir de suas famílias, e minhas amigas e eu iríamos fazer uma apresentação.

Tudo havia começado quando Sandra assistiu Mean Girls e se achou a cara da vilã principal, e agora para satisfazer o desejo de vossa majestade, iríamos colocar roupas de mamães noel ridículas e dançar uma música mais ridícula ainda. Eu não estava ansiosa, mas não poderia fazer isso com Sandra, Daniela, Tiffany e Marina.

—O senhor não é tão velho, pai. — falei sorrindo. Mamãe serviu chocolate quente para ele e se sentou nos braços da poltrona.

—Quero você antes das dez da noite em casa e venha com Hugo. — ela disse e bebeu um gole quente do chocolate.

Hugo. Ele estava animado para a festa, pois tinha um motivo para se livrar do pai. A namorada e sua apresentação que com certeza ele não podia perder. Zelava em um relacionamento saudável aos olhares externos.

Ouvimos a campainha tocar e mamãe se levantou em um estalo. Ajeitou a roupa e o cabelo e resmungou algo sobre eles estarem bem adiantados. Ajustou a aliança no dedo anelar e abriu a porta com o melhor sorriso que podia. Acompanhei de pé ao lado de papai.

Amor Sobre Rodas - Um Conto De NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora